Opinião
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9 de maio de 2020
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20:21

Decisão do PT enterra a unidade: o passado serve para refletir não para repetir (por Fernanda Melchionna)

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Sul 21
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Decisão do PT enterra a unidade: o passado serve para refletir não para repetir (por Fernanda Melchionna)
Decisão do PT enterra a unidade: o passado serve para refletir não para repetir (por Fernanda Melchionna)
Fernanda Melchionna (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Fernanda Melchionna (*)

Mesmo que eu esteja extremamente concentrada no fundamental combate ao governo Bolsonaro e a tragédia da pandemia, não posso deixar de comentar que infelizmente, a votação e a indicação do Partido dos Trabalhadores do nome do vice-prefeito à composição da chapa a concorrer ao Paço Municipal, pelo bloco PCdoB e PT, encerra qualquer possibilidade de uma unidade tão necessária para enfrentar a agenda ultraliberal em Porto Alegre unificando os campos distintos da esquerda que fazem oposição ao governo Bolsonaro, Leite e Marchezan.

Nós do PSOL propomos um método novo de debate democrático pela base na construção do programa e da chapa a partir de democracia direta em um processo chamado de prévias e utilizado em muitas experiências internacionais. Defendemos esse método desde maio de 2019 e não obtivemos resposta. Tentamos ainda, no espírito de composição, a unificação das esquerdas com uma composição que pudesse expressar as esquerdas distintas dentro da mesma chapa de forma a unir setores que estão separados desde 2003.

Lamentamos, mesmo enfrentando uma pandemia gravíssima como a Covid-19 e o obscurantismo de Bolsonaro cotidianamente – o que na nossa concepção deveria fortalecer o debate da unidade ainda mais e em uma situação que sequer as eleições estão mantidas, que os companheiros tenham definido impor a sua chapa Prato Feito, invertendo apenas a ordem da nominata. Não é novidade que PT e PCdoB são parte de um mesmo campo, que esteve junto ao longo dos anos de governos petistas, enquanto PSOL, PCB, UP e PSTU e outros movimentos de esquerda estavam na oposição de esquerda a esses governos.

Embora, tenhamos diferenças profundas inclusive expressas na recente votação do PL 39/2020, em que o PT no Senado votou pelo congelamento dos salários dos servidores por 2 anos, e no debate envolvendo a necessidade de impedimento de Bolsonaro, não temos dúvida de que a situação política nos exige unidade não na fraseologia, mas na realidade. Entretanto, unidade não é adesismo. Unidade é composição de campos distintos. Infelizmente, os companheiros encerram esta possibilidade que seria tão necessária para enfrentar Marchezan e a direita no processo eleitoral.

Nós, do PSOL, não temos dúvida de que Porto Alegre precisa de um governo plebeu, que corte privilégios do andar de cima, para garantir direitos a ampla maioria do povo. Precisa revogar os projetos anti-povo, aprovados por Marchezan, precisa apoiar os municipários e garantir os empregos dos trabalhadores do IMESF, ampliar a democracia real e investir na educação, na cultura e resgatar o que há de melhor na combatividade do nosso povo.

Como disse Mário de Andrade “o passado é lição para refletir, não para repetir”. O PSOL não aceitará a imposição do velho formato leve-nos ao mesmo cenário de 2016 quando a esquerda não foi para o segundo turno, ou de 2018, quando Bolsonaro venceu a eleição em um misto de fake news com a rejeição do projeto petista. Sabemos que teremos pouco de TV, mas confiamos na capacidade das vozes democráticas em perceber que o povo quer novidade na eleição. Buscaremos reagrupar as forças sociais e políticas com esse espírito: de uma esquerda anti-regime com capacidade de mostrar um caminho alternativo e que busque, já na chapa, nomes da sociedade que ampliem e fortaleçam uma novidade nesse processo eleitoral. Por isso, apesar da divisão decidida pelo PT, somos confiantes de que iremos ao segundo turno. Estamos confiantes de que teremos surpresas nesta eleição e que o povo de Porto Alegre vai identificar a necessidade de uma virada radical, ou seja, vai querer ir à raiz dos problemas e nos dar a chance histórica de governar Porto Alegre.

Mas antes disso, sabemos que o desafio zero é combater o Covid-19. O PSOL seguirá jogado na luta pelo impeachment de Bolsonaro, que é uma medida sanitária emergencial nesses tempos, na luta em defesa da renda emergencial permanente, da ampliação do SUS, da adoção das filas únicas para leitos emergenciais e dos direitos dos trabalhadores da saúde.

(*) Fernanda Melchionna, deputada federal e pré-candidata pelo PSOL à prefeitura de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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