Opinião
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25 de abril de 2020
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12:31

Covid-19 no Brasil e as atitudes do presidente Bolsonaro: impactos no protagonismo internacional do Brasil (por Deuinalom Fernando Cambanco)

Por
Sul 21
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Deuinalom Fernando Cambanco (*)

Coronavírus, doença respiratória fatal, classificada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo seu alcance e letalidade, surgido na cidade de Wuhan, região central da República Popular da China, em dezembro do ano passado, rapidamente se espalhou um pouco por todo globo, atingindo quase todos os países incluindo o Brasil; onde, segundo os dados oficiais, divulgados pelas autoridades sanitárias vem afetando e ceifando vidas de centenas de milhares de pessoas. Os últimos dados divulgados atestam que já foram afetadas um pouco mais de cinquenta (50) mil pessoas e que morreram outras três (3) mil. Para conter seu avanço e disseminação regiões, países e localidades ao redor do mundo têm adotado entre outras o isolamento social como medida apropriada e eficaz, provocando assim confinamento em massa de pessoas, sobretudo as consideradas de “grupo de risco”, que são basicamente: pessoas idosas e pessoas com doenças preexistentes e crônicas.

Deuinalom Fernando Cambanco (Arquivo pessoal)

No Brasil, essa medida (confinamento ou isolamento social) tem recebido, por incrível que possa parecer, críticas de ninguém mais e ninguém menos que o Presidente da República, senhor e sua excelência Jair Messias Bolsonaro. Isso não é novidade para ninguém. Ele já demostrou essa posição publicamente em várias ocasiões e pronunciamentos, duvidando e tratando com desdém os impactos da letalidade do fenômeno para a saúde pública do país, chegando mesmo a qualifica-lo como uma “gripezinha” em suas próprias palavras. Essas atitudes do presidente gerou mal-estar inclusive dentro do seu governo e o ápice do referido mal-estar acabou culminando com a demissão do seu então Ministro de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que, para muitos, vinha fazendo um trabalho brilhante no enfrentamento ao surto, seguindo orientações da Organização Mundial da Saúde e de cientistas ligados a área médica, sobretudo dos epidemiologistas, infectologistas e outros pesquisadores.

Tais atitudes do Presidente, no entanto, em minha avaliação, como acadêmico e pesquisador da área de Relações Internacionais, analista de cooperação internacional e de política externa maculam e ou vilipendiam a imagem do país no exterior. E digo mais: colocam em xeque a seriedade e o compromisso do Estado brasileiro em lidar não só com a questão de saúde pública global, mas também com outras questões importantes que requerem zelo e competência para um enfrentamento conjunto e soluções eficazes para as problemáticas globais. Até bem pouco tempo atrás, vale recordar, o Brasil se destacou gritantemente na seara internacional como protagonista, pacificador e promotor de paz e bem-estar; liderando assim, em inúmeras ocasiões, o grupo conhecido como “países emergentes” em diversos tópicos. Entre eles: economia, educação, agricultura e saúde com fábrica de antirretrovirais em Moçambique-África (que embora tenha apresentado algumas contradições e vícios – o que não é nossa discussão aqui e que fica para outra ocasião).

O Brasil nos últimos anos, por assim dizer, conquistou muito prestígio e respeito junto da comunidade internacional, o que acabou colocando-o em um lugar de destaque e de liderança em múltiplos fóruns e iniciativas globais. Conquistou lideranças importantes em várias organizações importantes, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês) e a Organização Mundial de Comércio (OMC) entre várias outras. Essas conquistas brasileiras correm, como já salientei de antemão, um sério risco de sofrerem corrosão pelas atitudes do atual presidente da República, que mostra incapacidade de lidar com uma doença grave e que está afetando todos os continentes e países ao redor do globo. Dita de outra maneira, o Brasil corre sério risco de perder a credibilidade internacional e ficar sem voz nas organizações e fóruns internacionais de concertação das principais nações do mundo. Isso é grave e muito preocupante!

Aliás, já está perdendo, de acordo com as notícias avançadas ontem (24/04/2020) pela Revista Fórum (Brasil fica fora da aliança da OMS para uma vacina contra o coronavírus). Essas notícias dão conta de que o Brasil ficou de fora da aliança da OMS para uma vacina contra o Covid-19, que contou com adesão de lideranças mundiais como: Emanuel Macron e Angela Merkel, presidente da França e Chancelar da Alemanha respectivamente. Também se fizeram presente neste encontro promovido pela maior entidade da saúde o bilionário e filantropo norte americano Bill Gate e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Esse é um sinal inequívoco, em minha visão, de que o pior ainda pode estar por vir, sobretudo no período pós-coronavírus, se o presidente brasileiro e o seu governo não adotarem novas posturas sobre a forma como pretende enfrentar esse surto.

O Brasil deve e merece se reerguer, voltar a dar exemplo para o mundo e a ser protagonista como aconteceu em sua história recente. O Brasil precisa voltar a liderar como fez com a Conferência Internacional do Clima ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, só para citar um exemplo; e, mais recentemente, com a criação do Mercosul e de outras iniciativas regionais e sub-regionais. O momento exige isso deste enorme país e ele deve responder a altura. Essa é uma pequena contribuição de uma pessoa (proveniente da Guiné-Bissau, Costa Ocidental da África) que é muito grata por tudo, pelo acolhimento e, sobretudo, pela educação que o Brasil a ofereceu, através de bolsas de estudo em suas universidades públicas federais.

Brasil, minha segunda casa! Gratidão!

(*) Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Bahia.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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