Opinião
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11 de abril de 2020
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11:18

Capitalismo: Crise e Coronavírus (por Jonas Reis)

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Sul 21
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Capitalismo: Crise e Coronavírus (por Jonas Reis)
Capitalismo: Crise e Coronavírus (por Jonas Reis)
Nova York enterra vítimas do coronavírus em vala comum em Hart Island, no Bronx (Reprodução/BBC)

Jonas Reis (*)

O avanço do coronavírus no mundo paralisa as nações, gerando conflitos de diversas ordens em 2020. É uma crise humana, mas, antes disso, é uma página do capitalismo e expressa um tempo de exacerbação da mercantilização da vida.

9 de abril de 2020. Mais de 2 mil mortos em um único dia nos EUA. Coronavírus avança sobre a sociedade norte-americana. Os mortos já somam mais de 16 mil. Isto é um fato chocante. Mas, mais impactante ainda é saber que 70% das mortes, naquele país, são de negros e pobres. Calma. O vírus não é rascista. Mas há um recorte de classe nos atingidos, sim. O glorioso país imperialista não possui um sistema público de saúde. O Brasil tem o SUS, felizmente, ufa. Mas, se os EUA não dão saúde ao povo, o povo morre por não acessar a saúde como um direito humano. Lá, as pessoas pobres não vão ao médico e não procuram hospitais para não contrair dívidas que levarão pro resto da vida. Entrar no hospital pra ir pra UTI é como contrair uma hipoteca gigante. Quase impagável. Dívidas para décadas.

Assim, o país que inspira inveja em quem não o conhece na essência, nem mesmo minimamente sua história, joga sobre os pobres a conta de não ter fechado antes suas fronteiras, em fevereiro, bem como por mercantilizar todos os serviços públicos, como a saúde desde muito. As mortes só vão aumentar e não é por não ter estrutura nem dinheiro, mas por ter um povo refém do capital, que persegue o maldito crescimento econômico acima de tudo. Talvez os EUA entrarão em uma recessão forte, nunca vista antes, mas isso não ensinará lições à totalidade da nação, pois os ideais pequeno burgueses imperam nas suas raízes ideológicas da matriz cultural do chamado “povo americano” (sic). Já sofreram outras crises e não aprenderam. Preferem o ciclo mercantil, o livre mercado no comando. A doença social da denominada grande classe média americana, perpetrada através do pós-estruturalismo político e cultural, gerou um país que objetiva fundamentalmente a realização do consumo e da meritocracia como fundamento estruturante e organizativo do metabolismo social tipificado como o triunfo do labor na redenção do empreendedorismo contemporâneo.

A morte é um fato doloroso pra eles, não nos enganemos. Mas os governos norte-americanos trabalham na perspectiva da “numerologia” financeirista. CPFs e cartões de crédito são o central na política mais que secular da mais brava e desumana economia mundial. É uma guerra incessante pelo crescimento econômico e pelo consumismo. É uma engrenagem estúpida, mas que para a perpetuação do capital tem funcionado bem lá. E, até o calendário eleitoral segue firme. O ‘socialista’ Bernie Sanders foi derrotado em 8 de abril por um conjunto expressivo de jogadas tradicionais dos poderosos dos EUA no decurso das prévias do Partido Democrata. Isso é mais um sinal de quão profundas são as amarras do capital naquela nação. Outro Sanders virá no futuro, sim, mas, enquanto o povo americano não compreender as contradições do mundo capitalista em que vivem, permanecerão rifando vidas de tempos em tempos, seja nas guerras contra outras nações ou nas guerras internas, como nessa contra o Covid19.

Espero que o Brasil tire boa lição disso. Espero que aqui a esquerda se reorganize e jogue na lixeira essa nova fase de burocratização da vida que se travestiu de bolsonarismo. Espero, com paixão adolescente, do fundo de meu coração, que nossos líderes exercitem a generosidade entre os progressistas e encerremos logo esse ciclo nefasto de restrição de direitos iniciado em 2016. Que o povo brasileiro vença o coronavírus, salvando o SUS das garras do Guedes e de seus asseclas apaniguados. Por fim, do Bolsonaro nem falo nada específico, é um fantoche, um mero carregador de “canetas BIC”. Não merece muito da nossa reflexão, apesar de nos atrapalhar bastante.

É preciso interromper o assalto à vida e ao pouco que temos do estado de bem-estar social no Brasil. Que o exemplo de outras nações seja atentamente observado.

(*) Doutor em Educação. Defensor do SUS e Diretor Geral do Simpa.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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