Opinião
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5 de março de 2020
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11:41

Uma frente unitária para as eleições de 2020 em Porto Alegre (por Benedito Tadeu César)

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Uma frente unitária para as eleições de 2020 em Porto Alegre (por Benedito Tadeu César)
Uma frente unitária para as eleições de 2020 em Porto Alegre (por Benedito Tadeu César)

Benedito Tadeu César (*)

As eleições municipais deste ano, além de momento de discussão e busca de soluções para os problemas municipais, será oportunidade de resistência ao avanço da extrema direita neo-fascista ou de consolidação dessas mesmas forças.

Vitórias expressivas dos partidos e candidatos de ultradireita representarão passe livre para o aprofundamento das políticas de supressão de direitos, de reafirmação da discriminação racial, da homofobia e da misoginia, da entrega do patrimônio nacional, estadual e municipal. Vitórias expressivas dos partidos de esquerda e de centro sinalizarão que a sociedade está disposta a impor limites à imbecilidade e ao arbítrio.

As grandes capitais serão peças chave nesse embate e São Paulo e Porto Alegre, o serão mais do que as demais, por terem sido as primeiras a terem administrações de esquerda desde a redemocratização do país e, no caso de Porto Alegre, por ter sido onde o Partido dos Trabalhadores, o maior da esquerda, e seus aliados permaneceram 16 anos no governo, onde surgiu o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial. Uma derrota das forças de esquerda ou centro esquerda em PoA será um aval importante para o avanço neofascista.

Há três eleições as esquerdas não vão ao segundo turno em Porto Alegre, apesar de somar votos para tal, pois disputam em chapas isoladas. Quebrar esse ciclo é urgente e fundamental nos dias de hoje. As esquerdas têm mantido uma curva de perda de votos acentuada em Porto Alegre desde o ano de 1996, quando sua votação atingiu o ápice e começou a decair. Tudo indica que em 2020 acontecerá o mesmo, caso a divisão se mantenha nessa eleição.

PT e PSOL insistem em apresentar candidatos e isso aumentará os riscos de ambos se manterem fora do segundo turno. Ambos os partidos estão certos, vistos pela ótica da manutenção de espaços eleitorais e sociais, no caso do PT, ou da ampliação desses espaço, no caso do PSOL e suas estratégias seriam adequadas em situações de normalidade democrática. Ambos os partidos estão errados, vistos pela ótica da sociedade e do bem estar coletivo, em uma situação de emergência, como a atual.

PCdoB está correto quando afirma que “não apresenta candidata” e que apenas “oferece o nome de Manuela para consideração”, estando aberto  para “aceitar outro melhor, se ele existir”. Esta posição, no entanto, torna-se apenas retórica neste momento do processo de decisão.

Quando se deseja realmente se construir uma frente política nenhum dos possíveis parceiros pode apresentar nomes e definir em quais cargos deverá deter prioridade. Também o programa da frente tem que estar aberto para a construção conjunta pelos parceiros. Uma pauta mínima deve ser acordada em consenso e, a partir daí, cada integrante fica livre para defender seus projetos, propostas e pontos de vista. Fora disso, o que se propõe e se espera é adesão e/ou cooptação e não aliança.

Os movimentos sociais propõem uma frente unitária por Porto Alegre e pelo combate ao fascismo. Essa frente precisa ser ampla o suficiente para barrar o fascismo e a barbárie que o acompanha e, para isso, deve se abrir para a possibilidade de incluir os partidos de centro e também da direita democrática, sem preconceitos e sem pré-condições. Na impossibilidade disso, ela deve ser ampla e flexível o suficiente para possibilitar a conquista e adesão dos eleitores do centro e da direita democrática, o que implica na elaboração de um programa mínimo a ser compartilhado por todos os partidos e movimentos integrantes da frente e a abertura para a avaliação de nomes que possam ampliar o arco de adesão a esses princípios e possibilitar a sua vitória eleitoral.

O método e o processo de construção desse programa mínimo comum e da definição dos nomes que melhor o represente política e eleitoralmente deverão ser descobertos e construídos em conjunto pelos partidos políticos e movimentos sociais dispostos a integrar a frente unitária em defesa de Porto Alegre e contra o fascismo. Uma fórmula que terá o efeito pedagógico de politizar a forma de construção do programa e a escolha do(a)s candidata(o)s e de levá-los até mais amplas parcelas da população, da periferia e dos bairros centrais, consolidando a plataforma política eleitoral da frente e firmando e divulgando os nomes que a representam e, assim, aumentando as chances de uma vitória eleitoral.

(*) Cientista político

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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