Opinião
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26 de fevereiro de 2020
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17:11

Sem democracia, trabalhador não tem esperança de futuro (por Claudir Nespolo)

Por
Sul 21
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Sem democracia, trabalhador não tem esperança de futuro (por Claudir Nespolo)
Sem democracia, trabalhador não tem esperança de futuro (por Claudir Nespolo)
Claudir Nespolo (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Claudir Nespolo (*)

Aventureiros irresponsáveis estão tentando criar as condições para executar o “golpe dentro do golpe” e destruir o mais longo período democrático que já vivemos na história do Brasil. Golpistas de toda a espécie, generais oportunistas, Bolsonaro e sua família de fascistas, milícias paramilitares, setores atrasados da sociedade brasileira enrustidos nas diferentes igrejas, segmentos patronais, picaretas do Congresso Nacional e alguns juízes do Judiciário passam pelas redes sociais e pela imprensa amiga uma falsa ideia de patriotismo e de compromissos com um futuro de prosperidade que nunca chega. Promovem antirreformas que liquidam direitos trabalhistas e previdenciários e pioram o acesso à saúde e à educação.

Após um ano desse maléfico governo, o saldo mais visível é o emprego precário, que não oferece nenhuma garantia de futuro, e o crescimento da miséria e da pobreza. Em cada esquina está exposta a chaga de uma sociedade que se deteriora em forma de pedintes das migalhas que ainda restam.

Por conta disto, amplos setores da classe trabalhadora, tanto a incluída como a desempregada ou subempregada, está mergulhada em uma grande confusão e é levada a acreditar que a democracia não é um valor. Que a democracia não oferece um futuro. Que a democracia, na forma que está instalada, só oferece desgraça, miséria e violência.

A história vai se repetindo. Lá atrás, na época da ditadura dos militares, quando muitos de nós ainda não eram nascidos, eles entregavam para a classe trabalhadora o desemprego, a carestia, o arrocho salarial e a miséria. O custo de vida era elevadíssimo. Uma inflação que chegava a 170% ao mês, que corroía o salário, reduzindo o poder de consumo.

Para os trabalhadores, o acesso à saúde era restrito a quem tinha uma carteira de trabalho assinada. Senão eram as alas de caridade ou indigência dos hospitais. A venda de um patrimônio era a solução para cuidar uma doença na família. Não havia SUS.

Quem vivia muito bem nessa época eram os generais e os grandes fazendeiros. Os ricos de forma geral nunca tiveram problemas com essa realidade. Com muita luta e resistência da classe trabalhadora, foi possível conquistar a democracia e encerrar aquela ditadura tão perversa, que desrespeitou os direitos humanos e atrasou o Brasil seguramente por 40 anos.

Para efeito de comparação, naquele período a Coreia do Sul era um país pobre igual ao Brasil, porém lá, em uma democracia, fizeram reforma agrária. O único bem que tinham foi partilhado. Isso gerou dinamismo econômico. Investiram na educação e hoje a Coreia é um país riquíssimo. Com a ditadura e os militares, o Brasil andou para trás.

A Constituição de 1988 sepultou de vez a ditadura de 1964 e, com muita luta, nos alcançou direitos de acesso universal à educação e à saúde, assim como o direito ao habeas corpus. O amplo direito de defesa inaugurou uma nova fase para o Brasil.

Somente nos anos 2000 é que vieram oportunidades para a classe trabalhadora. Foi o período em que tivemos acesso à universidade e à aquisição de bens de consumo. Todos melhoraram a sua casa e a sua condição de vida do dia a dia. Muitos puderam ver o filho ser diplomado na faculdade e ter um futuro. Mas o principal avanço foi que tivemos oportunidades de trabalho.

Estávamos no pleno emprego até 2014, com aumento real de salários e valorização da qualidade de vida da classe trabalhadora. Isso não caiu do céu. Foi obra de governos democráticos que concretizaram esse conjunto de oportunidades que praticamente liquidou a miséria no nosso Brasil.

A democracia é feita de alternância de poder. Dentro da democracia, as forças progressistas e conservadoras se organizam para exercerem o poder, induzir a economia e gerir o orçamento público: será para todos ou será para uma parte.

Vivemos na democracia uma grande oportunidade e agora enfrentamos infelizmente um período muito difícil, resultante do golpe que derrubou a presidenta Dilma. A classe trabalhadora tem que acordar e saber que ciclo ruim também acaba. Só na democracia temos oportunidade de eleger vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidentes comprometidos com o povo.

Termino essa rápida reflexão, conclamando os trabalhadores e as trabalhadoras a tomarem lado, quando se avizinha a possibilidade de mais um golpe no Brasil. É preciso agarrar o lado da democracia e defender um modelo que não é perfeito, na medida em que permitiu a eleição inclusive do Bolsonaro, mas é uma forma em que a gente pode mudar quem governa e recolocar as coisas no lugar. Na democracia, o seu voto é uma arma. O resto é conversa fiada para que os de sempre – os ricos, os poderosos e os oportunistas de plantão – possam enriquecer gerando miséria, fome e desemprego para a população.

Patriota é quem luta pela pátria e não quem vende a pátria para os interesses estrangeiros. Os verdadeiros patriotas estarão nas ruas na jornada do dia 8 de Março, na luta das mulheres por dias melhores; no dia 14 de Março, quando lembraremos o assassinato da Marielle e da impunidade de quem mandou executá-la; e no dia 18 de Março, quando teremos atos, greves e mobilizações em todo o Brasil em defesa da educação, dos direitos, dos serviços públicos, dos servidores e da democracia. Essa é a agenda de luta de quem ama o Brasil de verdade.

Defender a democracia é defender os direitos, as empresas estatais, os serviços públicos e as riquezas naturais. Somente na democracia é possível reconquistar direitos roubados e garantir futuro para o povo brasileiro. É, por isto, que é fundamental defender a democracia. Ela é um valor insubstituível para o trabalhador. Só ela é esperança de futuro.

(*) Metalúrgico e secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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