Opinião
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19 de fevereiro de 2020
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18:55

Bolsonaro, Luiz Bacci e o Uber: o Brasil que odeia as mulheres! (por Laura Sito)

Por
Sul 21
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Bolsonaro, Luiz Bacci e o Uber: o Brasil que odeia as mulheres! (por Laura Sito)
Bolsonaro, Luiz Bacci e o Uber: o Brasil que odeia as mulheres! (por Laura Sito)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Laura Sito (*)

As forças conservadoras, ao impulsionarem a eleição insana de Bolsonaro, também amplificam o discurso de ódio contra as mulheres em nosso país.

Escrevo no dia 18 de fevereiro, uma terça-feira, e em menos de 24h me deparei com três notícias que escancaram e ilustram a violência que as mulheres são submetidas diariamente.

Primeiro, uma jovem gaúcha, de apenas 17 anos, filmou em sua conta no Instagram uma corrida de uber em que o motorista a assedia. No vídeo, a menina tenta trocar de assunto e informa ser menor de idade, mas o condutor insiste no assédio:

─ Mas acho que tu tem idade para ser meu pai — rebate a adolescente.
— Mas não sou teu pai — responde.
— Mas tem idade — afirma a adolescente.
— Eu faria coisas que teu pai não faria. Pode ter certeza.

Rapidamente a denúncia viralizou nas redes sociais, e felizmente o motorista foi banido da plataforma. No entanto, o dia ainda seria duro para nós mulheres. No final da tarde, durante o programa Cidade Alerta, da rede Record, o apresentador Luiz Bacci informou um feminicídio ao vivo para a mãe da vítima, chocando todo o Brasil. Marcela estava desaparecida há 6 dias e foi assassinada pelo namorado, que não aceitava a sua gravidez.

Reitera-se que a mãe, que procurou a emissora para tentar encontrar a filha desaparecida, recebeu a notícia da elucidação do caso ao entrar ao vivo no programa. A senhora passou mal e desmaiou, sendo que, desrespeitosamente, tudo foi transmitido, a emissora sequer interrompeu o programa.

Já na terça-feira pela manhã, Jair Bolsonaro, em sua entrevista coletiva diária no Palácio da Alvorada, sugeriu que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, trocou sexo por informações sobre as denúncias de disparos em massa de fake News. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse Bolsonaro aos risos junto com assessores na saída do Palácio da Alvorada.

Esses três episódios materializam a violência contra as mulheres no Brasil. O assédio do motorista do Uber ou assédio moral do presidente da República; o feminicídio ou a exposição e instrumentalização de um caso desta gravidade pela audiência: tudo demonstra o valor de nossas vidas nesta sociedade.

O Brasil é o 5º país mais violento do mundo para as mulheres, disputando o topo da lista dos países em números de feminicídios. Essas mulheres que perdem a vida experimentam o fim mais brutal de um caminho repleto de violências, que é percorrido por nós, mulheres. Há uma estrutura e um conjunto de violências que precisam ser interrompidos.

O último anuário de segurança pública mostra que no Rio Grande do Sul a proporção de feminicídios aumentou 10 vezes em comparação com a média nacional. Estamos falando de um estado que sofre com o total desmonte das políticas públicas de combate à violência contra as mulheres; um estado que é vítima do desmonte da rede de proteção, semelhante ao que ocorre em Porto Alegre.

As vítimas pelo país obedecem a perfil similar: são em sua maioria mulheres negras (6 a cada 10). Além disso, em 66% dos casos a mulher foi morta em casa, e em 88% o autor foi o companheiro ou ex-companheiro. Vê-se, também, que são majoritariamente jovens, tendo em média 30 anos, e que 70% possui apenas o ensino fundamental completo. Esses dados provam que a vulnerabilidade socioeconômica amplia as condições de risco. Portanto, se o estado falta nada sobra.

É preciso que o poder público se comprometa em defender e assegurar as nossas vidas. Sei que essa realidade parece distante quando o Presidente da República legitima e reproduz a violência que sofremos, mas seguiremos juntas e seguiremos lutando!

Se o Brasil não odeia as mulheres é preciso que ele se comprometa em defender e assegurar nossas vidas.

(*) Vereadora Suplente de Porto Alegre. Militante dos Direitos Humanos.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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