Opinião
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12 de janeiro de 2020
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23:10

Eleições 2020 em Porto Alegre: para onde vamos? (por Jonas Reis)

Por
Sul 21
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Eleições 2020 em Porto Alegre: para onde vamos? (por Jonas Reis)
Eleições 2020 em Porto Alegre: para onde vamos? (por Jonas Reis)
Prefeitura de Porto Alegre.  Foto: Luiza Castro/Sul21

Jonas Reis (*)

 Para onde vai a esquerda em Porto Alegre nas eleições 2020 quando vemos dificuldades na unificação dos três principais partidos PT, PSOL e PCdoB? O que querem seus militantes?

Os servidores públicos da capital de Porto Alegre esperam a unidade do campo progressista e de seus partidos. Eles não aguentam mais o desmonte da máquina pública, o desrespeito ao funcionalismo e à cidadania.

Porto Alegre conta hoje com 7 vereadores de esquerda (3 do PSOL, 4 do PT). Eles trabalharam em conjunto nos últimos 3 anos, fazendo uma bela oposição ao projeto nefasto do governo neoliberal do Júnior. Toda essa energia e produção coletiva serão catalisadas em uma chapa única nas eleições 2020?

Os atores sociais dos principais sindicatos das categorias que mais sofreram com a destruição das políticas públicas e dos direitos dos trabalhadores no município de Porto Alegre estão sendo convocados pelos principais partidos de esquerda para o debate e a construção de um plano conjunto de retomada do serviço público de qualidade para todos os porto-alegrenses?

Muitos cidadãos combateram o Governo Marchezan e sua política neoliberal nos últimos três anos. Juntos conseguiram barrar ou frear momentaneamente a destruição do município de Porto Alegre e também o desmonte da máquina pública que gerou o caos em que nos encontramos no ano de 2020, com escassez de serviços de educação, cultura, saúde, segurança, saneamento e pavimentação, principalmente sem considerar as questões ambientais, do plano diretor, do aumento de impostos via IPTU, bem como dos planos de saúde, de educação e de saneamento que estão engavetados, submetidos agora às alianças entre o governo e o capital privado.

Quem são os atores que caminharão juntos na eleição 2020 em uma real aliança com a cidade, com toda a cidadania, com todos aqueles que sofrem com as políticas neoliberais, que perdem direitos e que precisam do acesso às políticas públicas de assistência social, educação, segurança e saúde, fundamentalmente?

Como os porto-alegrenses estão se comportando frente à necessidade de unificação da chamada esquerda para tentar chegar ao Paço Municipal da maior cidade do Rio Grande do Sul (que tem um orçamento de 6 bilhões de reais anuais) para fazer políticas voltadas a maioria da população que é formada por trabalhadoras e trabalhadores?

Está colocado o desafio a todos que lutaram contra o governo Marchezan e que demonstraram uma capacidade enorme de combatividade nas ruas, em greves, em movimentações de bairro, em proposições junto ao poder judiciário para que os direitos fossem garantidos, para que a legislação fosse respeitada, para que o orçamento fosse executado para a maioria da população. Não é uma equação fácil, tampouco impossível.

Cabe aos militantes de esquerda organizar uma grande mesa de construção coletiva de um projeto generoso com matizes populares e democráticas e com a capacidade de representar os anseios da maioria da sociedade que é formada por trabalhadoras e trabalhadores?

Como se organizarão as trabalhadoras e os trabalhadores de Porto Alegre através de suas instituições sociais, seus mandatos populares, suas representatividades, seus partidos e suas centrais sindicais, para enfrentar o projeto neoliberal que poderá estar representado, não só na figura do prefeito Júnior e dos seus partidos aliados, mas também pelo novo bolsonarismo que possivelmente apresentará nome independente na corrida pelo Paço Municipal e os outros partidos de direita que tentarão se maquiar de centro para angariar apoio dos setores que não querem a chamada polarização entre os extremos de esquerda e direita? Já discutimos as táticas?

Qual a estratégia correta para as eleições 2020? É escolher nomes fortes e através deles tentar juntar os partidos, as legendas? Ou é construir um programa generoso entre todos os sujeitos políticos, entre todos os sindicatos, associações de bairro, movimentos populares? Qual é a fórmula real mais eficiente? Existe uma única fórmula correta para que o Paço seja ocupado pelo campo progressista no próximo período de quatro anos e que a eleição tenha realmente um segundo turno com uma chapa de esquerda competitiva capaz de devolver aos porto-alegrenses um espaço de construção de políticas públicas de qualidade, com democratização do acesso aos direitos sociais de forma real e irrestrita a todos aqueles que dependem de Estado como um fomentador de igualdade e justiça social?

A máxima teórica da união dos trabalhadores vale apenas para os escritos ou serve também para a práxis real militante daqueles que lutam por mudanças concretas e pela busca da hegemonia do “Campo dos Trabalhadores” no que tange à ocupação do Estado e à transformação deste para benefício das coletividades e não dos indivíduos particularmente?

O caminho da unidade não é fácil, mas é o mais seguro para que os trabalhadores e as trabalhadoras de Porto Alegre possam ter na prefeitura um projeto realmente coadunado ao fortalecimento das políticas públicas que garantam os direitos para aqueles e aquelas que já pagam altíssimos impostos na cidade e têm hoje na prefeitura de Nelson Júnior obstáculos enormes à garantia da saúde, da educação, da cultura, da habitação, da assistência social, da segurança, do saneamento e do meio ambiente como direitos humanos universais.

Avante militantes de esquerda. A encruzilhada está colocada. A história exige generosidade de todos os atores sociais para que não entremos em mais um período de 4 anos de neoliberalismo na prefeitura, de continuidade da destruição de direitos e cerceamento do poder do povo.

Juntos poderemos trilhar uma grande batalha em 2020 e encerrar com o ciclo neoliberal em Porto Alegre que vai completar 16 anos em dezembro próximo.

Do ponto de vista eleitoral, devemos levar em conta a eleição de 2018 na qual o PT, PDT, PSOL e PCdoB somados fizeram votos suficientes para garantir um segundo turno com a esquerda em Porto Alegre, caso fosse uma eleição de prefeito. Somados os votos dos candidatos a Governador de 2018 na capital: Miguel Rossetto (PT) com 169.850, Jairo Jorge (PDT) com 137.223 e Roberto Robaina como 14.745, estaríamos no segundo turno com 321.818, contra o candidato Sartori (MDB), que fez 197.032 ou contra o Eduardo Leite (PSDB) que conquistou 177.808 na capital. Juntos MDB e PSDB, se fossem uma chapa só em Porto Alegre, teriam 374.840 votos no primeiro turno.

Em resumo, com a “Unidade da Esquerda”, incluindo o PDT, teríamos um segundo turno da esquerda contra a coligação de partidos da direita que sustentam o atual governo Marchezan, que engloba MDB e PSDB, além do PP, PTB e DEM como principais legendas governistas. Por isso, não devemos subestimar a força da direita e da sua capacidade de união na eleição de 2020. Seria um desastre repetir uma eleição só com a direita disputando livre o segundo turno. Não podemos, nem temos o direito de deixar a fragmentação imperar, senão teremos novamente 4 anos de desastres sociais.

Marx disse: – “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” Mas como realmente vamos conseguir unir os trabalhadores e as trabalhadoras de Porto Alegre contra o projeto de continuidade do neoliberalismo na prefeitura?

(*) Doutor em Educação. Professor da RME-POA. Diretor Geral do SIMPA.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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