Opinião
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13 de dezembro de 2019
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19:21

O desrespeito do governo do Estado com as famílias dos servidores (por Beatriz Ferreira Scalzilli)

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O desrespeito do governo do Estado com as famílias dos servidores (por Beatriz Ferreira Scalzilli)
O desrespeito do governo do Estado com as famílias dos servidores (por Beatriz Ferreira Scalzilli)

Beatriz Ferreira Scalzilli (*)

A fotografia da fiscal estadual agropecuária Lucimar Lima Martins, grávida e em greve, evidencia o que às vezes não é considerado: o quanto o governo do Estado está desrespeitando as pessoas. O que está em jogo são vidas, como a que Lucimara está gerando. São milhares de famílias de servidores e servidoras, como a da médica veterinária Lucimar, que trabalha com atividades de defesa sanitária animal na inspetoria de defesa agropecuária do município de Barão de Cotegipe.

Lucimar Lima Martins, fiscal estadual agropecuária. (Foto: Joline Dalla Vecchia, fiscal estadual agropecuária)

Para suprir a falta de recursos humanos, muitos servidores da fiscalização agropecuária atuam em mais de um município. Este também é o caso de Lucimar, que para dar conta da demanda, mesmo grávida, se desdobra em sua rotina de trabalho, atendendo três municípios ao mesmo tempo. Entretanto, há colegas que atuam em seis ou até mais municípios, mesmo recebendo os salários atrasados e parcelados há 48 meses, mesmo que estejam sem reposição salarial há cinco anos.

Este impacto é sentido pelos servidores e também se estende às famílias. Não bastasse isto, o governo do Estado ainda quer tirar dos servidores e servidoras benefícios adquiridos. No caso dos fiscais estaduais agropecuários, uma das alterações mais graves é a redução pela metade do percentual da insalubridade. Por estarem em contato com animais que podem transmitir zoonoses, como a raiva e a tuberculose, os fiscais que são médicos veterinários recebem insalubridade de 40%. Os agrônomos recebem insalubridade de 20% devido ao contato com agrotóxicos.

Sou mãe, trabalhei os nove meses de gestação em abatedouro frigorífico exposta aos mais diferentes fatores de risco: frio, plataformas altas e pisos escorregadios, utilizando facas específicas para os cortes das carcaças e em contato com diferentes zoonoses. Além de tudo isso, na minha jornada diária dirigia mais de 40 quilômetros para me deslocar da inspetoria até a empresa fiscalizada. Ao final da licença maternidade, ainda amamentando, foi dada continuidade a mesma jornada.

Agora, sou surpreendida com a notícia de que o governo do Estado se acha no direito de reduzir a insalubridade recebida por nós, servidores que nos sacrificamos com amor para servir a população. Por trás desta greve existem pessoas, e por trás de cada pessoa existem histórias, que exigem lutas que desconhecemos. Há várias razões, coletivas e individuais, para estarmos mobilizados e de braços cruzados nos nossos locais de trabalho. Estamos lutando contra o extermínio do serviço público e pela nossa dignidade. A única coisa que não podemos fazer é ficar parados. Afinal, a vida não para.

(*) Médica veterinária, vice-presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro).

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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