Opinião
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29 de novembro de 2019
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15:54

O analfabetismo do MEC (por Esther Pillar Grossi)

Por
Sul 21
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O analfabetismo do MEC (por Esther Pillar Grossi)
O analfabetismo do MEC (por Esther Pillar Grossi)
Foto: Arquivo Agência Brasil

Esther Pillar Grossi (*)

No momento em que eu finalizo com sucesso, no Morro da Cruz em Porto Alegre, a alfabetização em 5 meses, de 18 alunos que estavam há mais de 3 anos na escola, sem conseguirem ler, nem escrever, o MEC vive crise interna que leva à demissão do coordenador de alfabetização.

É que as promessas de Bolsonaro como prioridade para os primeiros cem dias do seu governo nessa área, mostram completa paralisia. Deputados, governadores e secretários de educação falam de um “ano perdido” por conta da atual gestão do MEC.

Os coordenadores da equipe de alfabetização do MEC foram exonerados por inoperância. Um deles é o principal defensor do método fônico e presidente da Comissão que deveria estruturar diretrizes para a área.

Evidentemente que, com o atraso que significa o método fônico para alfabetizar é impossível promover saída para a paralisia que assola o país, nesse campo vital para a Educação – ensinar a ler e a escrever, início de tudo o mais.

O método fônico ignora a genial descoberta científica que já data da década de 1980 – a Psicogênese da língua escrita, feita por Emilia Ferreiro. A descoberta de que muito antes de dar-se conta de que a escrita tem a ver com a pronúncia de cada som, há três etapas que a precedem – os níveis pré-silábico um, o pré-silábico dois e o silábico. No nível pré-silábico um o alfabetizando nem sequer pensa que se escreve com letras. Para ele se lê em imagens e se escreve com desenhos.

No nível pré-silábico dois os alunos descobrem que não se escreve com desenhos, mas com letras, porém sem nenhuma vinculação ainda com os sons. Para eles boi se escreve com muito mais letras do que borboleta, porque boi é muito maior que borboleta.

Ainda antes de vislumbrar a vinculação de cada som com a escrita, os alunos pensam que para cada sílaba se associa uma só letra – é o denominado nível silábico.

Portanto, a associação som a som com letra a letra só acontece num quarto momento do processo de alfabetização, o que é pré-requisito para o método fônico.

O método fônico não pode, portanto de forma alguma, contemplar alunos que não viveram antes de frequentar uma classe de alfabetização, as três primeiras etapas que acabo de descrever. Esse é o caso de milhões de alunos de nossas escolas, cujos pais fazem parte dos também milhões de analfabetos adultos. Eles vêm para a escola no primeiro nível do processo de alfabetização e o método fônico lhes é completamente inadequado. Portanto, a ação do MEC baseada nesse método, só pode gerar absoluta paralisia.

Paradoxalmente, em 66 aulas de 2 horas cada uma, em cinco meses, alunos com até seis anos de infelicidade escolar, por não saberem como as letras podem formar palavras, estão alfabetizados. Porém, o método fônico não tem nada a ver com esse sucesso. E sim, esse êxito se deve ao Pós-construtivismo baseado na Teoria dos Campos Conceituais com a sua mais rica cientificidade sobre como se aprende.

(*) Doutora em Psicologia da Inteligência pela Universidade de Paris e coordenadora de Pesquisa do GEEMPA.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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