Opinião
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22 de novembro de 2019
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13:51

A direita quer manter o PT preso à narrativa do golpe e retoma o mantra da autocrítica…do PT (por Gerson Almeida)

Por
Sul 21
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A direita quer manter o PT preso à narrativa do golpe e retoma o mantra da autocrítica…do PT (por Gerson Almeida)
A direita quer manter o PT preso à narrativa do golpe e retoma o mantra da autocrítica…do PT (por Gerson Almeida)
Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Gerson Almeida (*)

Pois, é. Mais uma vez, Miriam Leitão, a jornalista econômica da Globo, volta a exigir a autocrítica … do PT!! Ao voltar ao tema, a jornalista conhecida como uma espécie de editorialista informal das opiniões da família Marinho, torna explicita a retomada da estratégia de manter o PT subordinado ao roteiro de interesse do campo golpista, que agiu sob a mediação e a articulação das redes empresariais de comunicação.

Foram elas que incensaram diuturnamente a narrativa golpista e fecharam os olhos para a escalada da violência e aplaudiram as sucessivas ações feias ao arrepio dos procedimentos democráticos. Era preciso romper com a legalidade democrática para que fosse levado adiante a farsa do impedimento da presidenta Dilma.

Na falta de razões consistentes, foi preciso fabricar uma agenda e passar a criminalizar, pasmem, as pedaladas fiscais para que o golpe fosse perpetrado com uma tosca aparência de legalidade.

Já que não foi mais possível manter Lula preso, os golpistas querem manter o PT preso na sua narrativa, que implica no partido reconhecer que deu motivos para que a legalidade democrática fosse sequestrada. Tipo o argumento dos machistas agressivos, que sempre justificam seus atos como sendo provocados palas suas vítimas.

O impacto da liderança de Lula

O evidente o grande impacto positivo que a desenvoltura e liderança de Lula exercem no país e, sobretudo, nos setores populares. Para tentar minimizar as possibilidades de crescimento da oposição a partir de um discurso altivo, com uma crítica contundente aos protagonistas do golpe e, principalmente, com a demarcação das diferenças entre as gestões lideradas pelo PT e o governo para-miliciano, os golpistas imediatamente retomam seus mantras contra o PT e a esquerda.

É bem curioso que o PIG precise mais uma vez retomar o mantra da autocrítica. Afinal, o PT é a instituição sobre a qual a direita nacional mais escreveu obituários na história, tantas foram as vezes em que o partido foi declarado morto.

Confesso que fico inclinado a aconselhar Lula a dizer que nunca antes na história deste país, tantos decretaram a morte de algo, que tal como Lázaro sempre volta para meter medo nos poderosos. Mas me recolho, pois não sou a Miriam Leitão para ficar dando conselhos ao PT e ao Lula.

A “demagogia”do PT

Em seu livro “A Verdade é Teimosa”, publicado em 2015, Miriam Leitão volta a carga contra o PT e sacramentou que “diante da crise de confiança em sua capacidade de continuar administrando o país, que ocorre por sólidas razões, o PT reage de forma demagógica”.

Se você teve paciência de chegar até aqui, deve querer saber as razões da autora para taxar o PT de demagogo, certo?

As “demagogias” que ela acusa o PT de estar espalhando são as seguintes: “a técnica é mais uma vez dizer que são os ricos contra os pobres, que há um golpe em marcha e que a democracia está em perigo”.

Um pouquinho mais adiante, talvez embevecida com o seu brilhantismo, ela tasca que os equívocos dos governos Lula e Dilma “prenunciavam que a nossa infelicidade estava sendo contratada”. Ficou claro, agora?

Na verdade, como os acontecimentos já deixaram muito claro, Miriam Leitão era uma das expoentes no roteiro de amplificar as dificuldades e dilemas para criar uma atmosfera adequada para operar o golpe na democracia brasileira. Ela e os demais golpistas agiram como Fausto e contrataram um pacto com o diabo. A diferença é que, neste caso, o diabo não responde pelo nome de Mefistófeles.

É verdade que previsões sempre podem ser erradas. No caso da Mirian Leitão, isto é uma verdade insofismável, tanto que ela escreveu laudas apoiando o governo de Macri na Argentina e, não satisfeita, colocou no altar a economia chilena. Ela jurava que os ajustes neoliberais trariam melhorias concretas, que já “começam a ser percebidos pela população”.

Mas ficar lembrando isto não vem ao caso, como diria um dos seus ídolos, o ex-juiz Sérgio Moro, ao lado de quem tirou fotografias portando um incontido sorriso de alegria. O jubiloso momento aconteceu no lançamento do livro de seu filho sobre o agora ministro da justiça de Bolsonaro. Nem na biografia de Roberto Marinho, escrita por Bial houve um arrebatamento tão grande, quanto o demonstrado por Moro pelo filho de Miriam Leitão.

Mas não são apenas previsões erradas a sua especialidade. Ao viajar no mesmo voo com alguns petistas ao final de um Encontro do partido, ela fez um grande estardalhaço afirmando ter sofrido “um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo”.

Vítima da violência que alimentou

Segundo ela, “foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo”.

Imediatamente, depoimentos do advogado Rodrigo Mondego e de Lúcia Capanema, professora de Urbanismo da UFF, que estavam no voo, desmentiram categoricamente a acusação.

A professora Lúcia escreveu uma cujo título é “A senhora está faltando com a verdade!”. Mas o estrago estava feito, com inúmeras entidades se apressando para dar solidariedade contra os bárbaros do PT.

Pois não é que ela forjou uma agressão onde não houve, mas foi efetivamente vítima da vilania e ódio que ajudou a cultivar? Ela teve cancelada a sua participação na feira de livros em Jaraguá do Sul, depois de um abaixo-assinado com mais de 3 mil assinaturas “repudiar a sua presença” na cidade e dos organizadores receberem várias ameaças de violência.

A verdade é teimosa mesmo

Um inaceitável caldo de cultura de violência que jamais aconteceu antes, mas desgraçadamente começa a ser corriqueira. Neste caso, sim, é preciso lhe prestar toda a solidariedade, pois sabemos que a violência nunca pode ser justificada como método de ação política e apenas começa com a esquerda, mas nunca se limita à ela, como a experiência histórica já mostrou inúmeras vezes.

Mas o seu alvo é o PT. No seu livro “A teimosia da verdade”, basicamente uma seleção das suas colunas no período dos governos de Lula e Dilma, ela afirma sobre o que considera a sua missão: “ver a tendência é obrigação do colunista”.

Realmente, a negativa do PT em fazer a autocrítica que a narrativa golpista precisa deve doer muito, pois o partido não entende que não terá trégua enquanto não seguir o caminho dos ajustes ultraliberais feitos na Argentina e no Chile e, agora, em curso no Brasil.

De minha parte, gostei muito dos discursos de Lula e da postura intransigente do PT contra o golpe e pela liberdade de Lula. O curso dos acontecimentos estão ao menos dando razão em ao menos uma coisa à Miriam Leitão, a verdade é teimosa, sim. Mais do que gostariam os obituários apressados.

(*) Gerson Almeida é sociólogo e ex-secretário da SMAM.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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