Opinião
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7 de setembro de 2019
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15:13

Até quando Catilina? (por Valton de Miranda Leitão)

Por
Sul 21
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Até quando Catilina? (por Valton de Miranda Leitão)
Até quando Catilina? (por Valton de Miranda Leitão)
Reprodução/Youtube

Valton de Miranda Leitão (*)

A expressão retirada das Catilinárias que o cônsul romano Marco Tulio Cícero pronunciou para denunciar os ataques de Catilina contra a República romana, em 68 a.C., agora repete-se no Brasil através do pedido de interdição do presidente da República, feito pelo jurista cearense Antônio Carlos Fernandes.

Guardadas as devidas proporções espaciais e temporais é necessário levar a sério o encaminhamento de Fernandes. Não se trata de nenhum doidivanas, mas de um profissional competente que já derrubou um decreto do ex-presidente de Estado de Exceção, Michel Temer, em agosto de 2017, flexibilizando o desmatamento na Amazônia. Além disso, Antônio Carlos é conhecido pela seriedade da sua atuação como jurisconsulto imparcial e homem de caráter probo.

À primeira vista, poder-se-ia pensar que o advogado seria movido pela hybris ou arrogância e desmesura que Bion aproxima da estupidez. Dessa maneira, a ação popular demandada pelo advogado cearense surge como ato de coragem e mostra-se como caixa de ressonância para dar voz ao que milhões de brasileiros pensam atualmente sobre as manifestações de perversão apresentadas pelo atual ocupante da presidência da República. Transcrevo um trecho da entrevista dada ao jornal O Povo de Fortaleza:

“Todos os dias praticamente, desde o início do governo em 1º/1/2019, ele assusta a nação e afronta a Constituição que jurou cumprir com declarações que transitam da escatologia à sandice e passando pela irresponsabilidade”.

Evidentemente que ninguém ignora as posturas autocráticas do senhor Jair Messias, tampouco declarações demagógicas e insultos feitos a governadores nordestinos e próceres da política internacional. Isso tudo pode significar um plano para transitar da autocracia à ditadura escancarada. A personalidade de self grandioso ajusta-se a tal processo, mas existem manifestações claramente de teor psiquiátrico e, igualmente de perversão sádico-anal, inconfundíveis para o psicanalista.

Vamik Volkan, psicanalista e diplomata, afirma que os seguidores do narcisismo da pequena diferença ficam regredidos, utilizam racionalizações, projeções e moralidade ambígua para justificar palavras violentas e atos que justificariam até a morte de adversários políticos.

Nesse contexto, onde o exemplo passa a ser mimetizado por alguns setores da sociedade brasileira, pode-se dizer que o Brasil vive um estado de anomia social estimulado pelas posturas do time planaltino. Neste caso, não se trata de manifestação estritamente política, mas de civilidade e civilização que o psicanalista deve assumir.

P.S.: o senador Catilina, segundo o registro histórico, tinha muitos méritos que o atual presidente de República brasileira não possui.

(*) Psicanalista Didata da Sociedade Psicanalítica de Fortaleza

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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