Opinião
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11 de agosto de 2019
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11:14

O outro mundo possível (r)existe (por Alex Cardoso)

Por
Sul 21
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O outro mundo possível (r)existe (por Alex Cardoso)
O outro mundo possível (r)existe (por Alex Cardoso)
Alex Cardoso | Foto: Arquivo Pessoal

Alex Cardoso (*)

Formada majoritariamente por mulheres, por negras e negros, em sua totalidade pobres e moradores das pequenas e grandes periferias, subúrbios, vilarejos ao redor de lixões, é daí que nascem as melhores experiências de outra economia, de outro cuidado com as pessoas e o meio ambiente, uma outra forma de produção, distribuição de riquezas e conhecimento, nasce o que pode ser chamado de mais puro, da economia popular e solidária.

Não é nos palácios, nem nas confortáveis casas, universidades ou outros espaços de reconhecido conhecimento que a prática ocorre, podendo se admitir que ali tem, em síntese, teoria, mas a prática mesmo, pode se observar e viver nas cooperativas e associações de catadoras e catadores de materiais recicláveis.

Longe de “puxar” brasa para um determinado lado em detrimento de outros, afirmo desta maneira contundente e sem muitos medos de errar, mesmo confrontando medos, nestes espaços simples, com grandes deficiências tecnológicas e de recursos, em meio a tudo que a sociedade descarta, se pratica o trabalho coletivo, assembleias populares, empoderamento das mulheres, a igualdade social, política e econômica entre os seres humanos indiferente de cor ou saberes, rompendo determinismo, se distribui praticamente todo o conhecimento e todo o valor produzindo coletivamente.

Se planeja a política, se avalia a conjuntura local, nacional e até internacional, se discute economia, ciências humanas e outras ciências, aplicando se cada vez mais tecnologias populares que melhoram as comunidades e servem de exemplo a quem, atenciosamente possa ver, e incrivelmente, acontece onde ninguém quer olhar.

Se posso afirmar se tenho certeza de que um outro mundo é possível, sim, pois este mundo é onde (r)existo. Sou catador de materiais recicláveis com forte reconhecimento de identidade e de muito orgulho desta profissão.

Tenho buscado compreender, observando intimamente as comprovações do que parecia irreal, do mundo demagógico para muitos, o que é o outro mundo possível. Eu o vejo e sempre o vi brotando, acontecendo, bem ali, onde eu sempre estive.

Por isso e outros contundentes motivos, o conhecimento deve ser universalizado, passado de uma forma em que possamos, de um lado ao outro, compreender, desde a Vila e o galpão até os reconhecidos centros acadêmicos. Devo, tenho que levar bem como trazer os conhecimentos, fazendo parte de uma íntima ligação entre estes mundos.

Por isso me vejo atualmente, sem falsas modéstias e de garantias de humildade, como uma destas ligações entre estes mundos de práticas e saberes, respondendo a uma pergunta que escutei recentemente num espaço privilegiado de fala “como vamos levar a Universidade pra fora da Universidade?”

Não foi ali dentro destes muros que nasci, e por mais estranho que seja, consigo ver, mesmo que revestido de resistência, que este espaço me pertence, também é meu, não para que eu mude, mas principalmente para que eu possa contribuir na sua transformação.

O outro mundo é possível e é real, ele acontece, é aconchegante e está de braços abertos a quem se permitir, também o abraçar.

(*) Catador de materiais recicláveis

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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