Opinião
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8 de agosto de 2019
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17:57

É machismo, o nome! Caro ministro da Justiça (por Suelen Aires Gonçalves)

Por
Sul 21
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É machismo, o nome! Caro ministro da Justiça (por Suelen Aires Gonçalves)
É machismo, o nome! Caro ministro da Justiça (por Suelen Aires Gonçalves)

Suelen Aires Gonçalves (*)

Caro Ministro da Justiça da República Federativa do Brasil, vou explicar-te didaticamente que a violência contra as mulheres no Brasil não é caso de “Intimidação”, mas sim de relações de poder construídas socialmente que denominamos de MACHISMO. Em pleno 07/08/2019, 13 anos da Lei Maria da Penha, durante a assinatura de pacto do governo Federal para o combate à violência contra as mulheres, diga-se de passagem um (DES) governo para as vidas das mulheres, sua fala foi um algo a se refletir. Vou recordar alguns pontos para sua reflexão, nobre Ministro. Seu governo que acabou com as políticas públicas de enfrentamento a violência contra as mulheres em âmbito nacional dando sequência ao desmonte desde o GOLPE de 2016 com o Governo de Michel Temer (MDB) não tem condições alguma de representar nossa luta.

Porém, sua fala reproduzida no Twitter é a síntese do senso comum e uma prática de uma parcela do sistema de justiça que opera neste país. Vejamos suas palavras: “…justifica parte da violência contra as mulheres por um sentimento de intimidação dos homens diante do “crescente papel da mulher em nossa sociedade”.

A violência contra as mulheres, seja ela doméstica/familiar é a face mais nítida das relações de poder e de dominação de um corpo sobre outro, ela é a manifestação do machismo estrutural em nossa sociedade. Sua fala reitera inúmeros estereótipos machistas que são, infelizmente, tratados com naturalidade nesta sociedade fraturada. Estamos diante de um contexto onde necessitamos falar e tratar das masculinidades, caro Ministro. Sua fala expressa muito bem o sentimento construído socialmente de superioridade calcada na desigualdade de gênero.

Desigualdade de gênero essa, expressa no mundo do trabalho, onde por exemplo, nós mulheres recebemos um salário médio que corresponde a 79,5% ao dos homens e as mulheres negras, ainda menos.

Desigualdade está expressa nos números de morte de mulheres neste país. Somos o 5º pais em feminicídios no mundo, temos uma média nacional de 13 mortes por dia frutos das desigualdades de gênero e do machismo estrutural sintetizadas em sua fala, caro ministro. A cultura do ódio às mulheres, além de demonstrar o grau de incompreensão da luta pela igualdade de direitos entre os gêneros, apresenta o despreparo do governo frente a temas tão importantes e relevantes para a nossa sociedade.

Precisamos pensar novas formas de masculinidade, precisamos reconhecer nossos limites e elaborar políticas públicas adequadas e eficazes para combatê-los. Sua fala apresenta a síntese do (DES) governo do “Ocupante do Palácio do Planalto” a naturalização dos crimes praticados contra as mulheres ao justificar as condutas de homens agressores. Fala como esta torna-se mais grave no contexto de um ex-juiz, hoje, ministro, que deveria zelar pela constituição e pelos direitos humanos das mulheres.

Precisamos trabalhar incansavelmente por uma sociedade livre de toda e qualquer opressões, nada justifica a violência de homens contra mulheres e meninas. Estamos em lados opostos, meu caro. Eu, combatendo e você construindo elementos de legitimação. Combato pois esses “homens inseguros” que você cita. Eles são os filhos saudáveis do Patriarcado e do Machismo. Nomear para classificar, como diria Wania Pasinato se faz necessário nestes tempos temerosos. Tem nome, meu caro. E vamos grita-lo aos quatro ventos: É machismo!

(*) Socióloga, Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) membra do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-UFRGS) e do Grupo de Estudos sobre o Pensamento das Mulheres Negras Atinuké.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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