Opinião
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10 de agosto de 2019
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17:17

As lições da Argentina para uma frente de esquerda em Porto Alegre (por Mirgon Kayser)

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Sul 21
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As lições da Argentina para uma frente de esquerda em Porto Alegre (por Mirgon Kayser)
As lições da Argentina para uma frente de esquerda em Porto Alegre (por Mirgon Kayser)
Segundo vice-presidente do PT de Porto Alegre e senadora argentina Natalia Vicencio com a camiseta Lula Livre. (Divulgação)

Mirgon Kayser (*)

Neste domingo, dia 11 de agosto, ocorrerão as eleições Primárias na Argentina. Etapa importante, que sacramentará as candidaturas para as eleições de outubro, quando a Argentina viverá momento decisivo para o seu futuro próximo: as urnas dirão se o país seguirá com o programa aplicado por Macri – que levou o país a enfrentar taxas galopantes de inflação, desvalorização do Peso, recessão econômica e o FMI de volta à mesa de jantar – ou se corrigirá seus rumos e elegerá a chapa de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, com um programa popular de desenvolvimento econômico e social para todos.

A situação no país vizinho é de grande importância também para os rumos que nosso continente tomará no próximo período. As realidades políticas de Brasil e Argentina ditam a tônica não apenas do Mercosul, mas em grande medida também do bloco latino-americano. A vitória de um projeto popular na Argentina estancaria um processo de sangria da esquerda no continente desde o golpe sobre Fernando Lugo no Paraguai em 2012, passando pela degradação da situação venezuelana, o golpe sobre Dilma em 2016, a vitória de Bolsonaro em 2018 e o iminente risco de vitória da direita sobre a Frente Ampla no Uruguai nas eleições de novembro.

A própria luta pela liberdade de Lula – hoje um preso político no Brasil – e pela restituição da nossa democracia ganharia fôlego novo com uma voz de apoio e defesa vinda da Casa Rosada. A relação inversa também é verdadeira. Não por acaso Alberto Fernandez fez questão de vir ao Brasil para visitar Lula na sede da Polícia Federal onde encontra-se preso. Cristina enfrenta por lá também um conluio entre as forças de direita, conglomerados de mídia e setores do judiciário que buscam também, a exemplo daqui, decidir a política por fora da política e da democracia.

Visitei Mendoza em julho último em agenda pessoal. A convite da Senadora Natalia Vicencio (UC – Unidad Ciudadana), realizei “una charla” organizada pela CTA – Central dos Trabalhadores da Argentina – de Mendoza sobre a conjuntura brasileira e a situação do ex-presidente Lula. Nesse encontro, além da denúncia da prisão política de Lula, entreguei em nome do PT de Porto Alegre uma carta da nossa Executiva Municipal em solidariedade aos ataques da direita ao povo argentino e desejos de um resultado vitorioso dos trabalhadores e trabalhadoras nas urnas em outubro.

O encontro expôs a similaridade das estratégias da direita de lá e de cá para criminalizar a esquerda e para depositar nas conquistas do povo a culpa pelas mazelas econômicas dos países. Atravessei o país de carro e testemunhei uma quantidade enorme de cidades em franca e clara decadência urbana e social. Em Mendoza, cidade em que já havia estado em 2015, vi na quantidade de imóveis de locação desocupados, assim como no sensível aumento na população em situação de rua amostras de que a população agoniza sob as políticas do governo Macri.

Nós, que estamos pouco além de um ano das eleições municipais no Brasil deveríamos tomar a reorganização da esquerda argentina como exemplo: depois da derrota para Macri e de padecerem sob a direita, ultradireita, ataques do judiciário e mídia hegemônica, entenderam que para frear o avanço do conservadorismo, da destruição de direitos e dos níveis de pobreza cada vez maiores e voltar a construir uma Argentina democrática e popular, seria necessário muita autocrítica, diálogo e empenho para coesionar o arco peronista e de esquerda no país. As urnas dirão o resultado do esforço, mas é visível a busca de uma unidade de centro-esquerda/esquerda democrática no país.

Em um cenário ideal, considerando a realidade brasileira, deveríamos estar abertos à formação, já nas eleições municipais de 2020, de uma grande frente antifascista para barrar o avanço da extrema direita em nosso país. Em Porto Alegre, se devemos ter disposição ao diálogo de uma frente antifascista, é fundamental pelo menos a unificação de um campo de esquerda e centro-esquerda para derrotar a direita que governa a cidade e a ultradireita que pede passagem.

Somente teremos êxito em Porto Alegre com uma sincera aliança do campo democrático construída desde a base comunitária, sindical, estudantil, cultural e política da cidade, com um debate programático em torno de um projeto comum para a cidade. Esse campo democrático, se tiver a maturidade necessária, poderia mesmo beber em outras democracias e propor uma nova experiência de definição de chapa para as eleições de 2020, com a realização de eleições primárias chamadas para a definição realmente popular de seus representantes.

Desejo boa sorte aos companheiros e companheiras argentinos e sabedoria para nós.

(*) 2º Vice Presidente do PT de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 

 


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