Opinião
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9 de agosto de 2019
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12:57

Alerta: Venezuela sob ameaça (por Anisio Pires)

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Sul 21
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Alerta: Venezuela sob ameaça (por Anisio Pires)
Alerta: Venezuela sob ameaça (por Anisio Pires)
Donald Trump e Jair Bolsonaro. (Foto: Divulgação/PR)

Anisio Pires (*)

Donald Trump decidiu, do nada, na terça-feira, dia 5 de agosto, assinar uma ordem executiva impondo um bloqueio total contra a Venezuela. Dias antes ele já tinha levantado a possibilidade de aplicar uma quarentena e um bloqueio naval. A situação é muito delicada.

Esse ato de hostilidade que pode surpreender mesmo vindo desse tosco e agressivo personagem extremista, merece, no entanto, uma brevíssima contextualização, pois segue uma velha linha de agressividade dos EUA contra mundo. Numa entrevista dada em fevereiro de 2015, o presidente Obama, o bom mocinho afrodescendente que cativou o mundo com seu “Yes We Can”, declarou sem nenhum constrangimento que “… em ocasiões temos que torcer o braço dos países se não querem fazer o que queremos através de métodos econômicos, diplomáticos e, às vezes, militares”.

Reparemos no detalhe de que Trump, rodeado de seu grupo de ultradireitistas, com amigos e admiradores como Bolsonaro, está na verdade dando continuidade a uma ordem executiva assinada por Obama no dia 9 de março de 2015, poucos dias depois daquela entrevista. Nela, a Venezuela foi declarada “uma ameaça fora do comum e extraordinária para segurança nacional dos EUA”.

A nova agressão adotada por Trump, catalogada de “aberrante” pelo Ministro da Defesa da Venezuela, General em Chefe Vladimir Padrino López, torna-se uma transposição para o nosso continente da confrontação geopolítica que os EUA vêm desenvolvendo contra a China e a Rússia. Isso fica claro quando o Secretário de Segurança, John Boulton diz: “Estamos dando este passo para negar o acesso de Maduro ao sistema financeiro global e para isolá-lo internacionalmente, mas também –isso é muito importante– estamos enviando uma mensagem para que terceiros, que queiram fazer negócios com o regime, atuem com extrema cautela”. Ou seja, mais uma vez fazem uso de medidas unilaterais e extraterritoriais sem base legal alguma no direito internacional. Como disse o Chanceler venezuelano Jorge Arreaza, “uma medida como a da quarentena e o bloqueio criminal são ações de guerra que devem tomar-se quando um país tem agredido a outro. Somos um país de paz”. Fica claro que se trata de agressão pura. De acordo com o jornalista Humberto Trezzi, esta medida adotada por Trump “não era aplicada a um país do Ocidente há pelo menos três décadas”.

Esclarecer e denunciar a maldade e a desproporção desta nova agressão dos EUA contra a Venezuela, busca sensibilizar e fazer abrir os olhos daquelas pessoas no mundo que têm aceitado, na base da propaganda e da manipulação, a tese um milhão de vezes falsa de que nesse país se vive em “ditadura” e que as dificuldades que atravessa seu povo são consequência de uma “tirania, corrupta e incompetente” que só quer manter o poder.

Chama poderosamente a atenção o fato de o governo de Donald Trump anunciar estas sanções poucas horas depois que o mundo recebeu a triste e chocante notícia de mais duas chacinas ocorridas, com poucas horas de diferença, nas cidades de Dayton (Ohio) e El Paso (Texas). Após ficar sabendo do ódio e da xenofobia que motivaram esses assassinatos, Trump se apressou em declarar que “o ódio não tem lugar nos EUA”. Indo além, afirmou que “Nossa nação deve condenar em uníssono o racismo, a intolerância e o supremacismo branco”.

Quem lembra seu discurso preconceituoso contra os mexicanos durante a promoção do muro que quer construir na fronteira do México e quem assistiu às cenas de crianças latino-americanas separadas de seus pais e encarceradas em gaiolas como bichos, sabe que estamos na presença da hipocrisia gigantesca de um homem sem escrúpulos, em campanha eleitoral.  O povo americano pouco lhe importa.

As medidas criminosas contra a Venezuela possuem junto com a tentativa de derrubar um governo, que não se submete a seus interesses, uma inegável carga de ódio e crueldade. Enquanto dizem se preocupar com os direitos humanos do povo venezuelano e de manter aberto um suposto canal humanitário, na prática, eles estão sentando as bases “da asfixia absoluta”, como denunciou Delci Rodríguez, vice-presidenta da Venezuela. Ameaçando a países que pudessem prestar apoio e declarando o bloqueio financeiro total contra a Venezuela, “com que divisas o país vai comprar seus alimentos e seus medicamentos?”, ela se pergunta.

O mais “sincero” e “honesto” nessa diplomacia da barbárie foi William Brownfield, ex-embaixador dos EUA em vários países da América Latina, incluída a Venezuela. Para ele, de forma clara e explícita, “acelerar o colapso da Venezuela seria a melhor solução à crise”. Quem não perceba que essa é a verdadeira motivação desses pseudo-ataques de preocupação pela democracia e os direitos humanos do povo venezuelano, continuará mesmo contra sua vontade, contribuindo para legitimar toda essa monstruosidade.

Pense. Cada vez que você der credibilidade a toda essa campanha de demonização mundial contra a Venezuela, terá que acreditar no kit gay do PT, na Ferrari do Haddad, no sítio de Atibaia e no triplex do Lula. Não há meio termo quando estamos enfrentando criminosos, inimigos declarados da humanidade.

A Venezuela precisa de toda a solidariedade dos povos irmãos da Pátria Grande e de todos os seres humanos com coração deste planeta. Inclua-se. Com estas novas medidas do imperialismo, a situação já bastante difícil para o povo venezuelano ficará ainda pior. Não é fake. Quem escreve estas palavras é alguém que convive todos os dias com essa realidade.

A solidariedade só é verdadeira se colocada em prática de forma sincera, onde você possa e queira.

No próximo sábado, 10 de agosto, haverá uma Grande Jornada Mundial de Protesto contra o Bloqueio de Donald Trump à Venezuela. Participe e marque sua presença nas redes, ruas e paredes. A batalha do povo venezuelano na defesa da vida e da soberania é de todos nós.

#TrumpDesbloqueaVenezuela

(*) Anisio Pires é venezuelano, cientista social pela UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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