Opinião
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29 de agosto de 2019
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10:43

29 de Agosto de 2019 – Dia de luta pela visibilidade Lésbica (por Silvana Conti)

Por
Sul 21
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29 de Agosto de 2019 – Dia de luta pela visibilidade Lésbica (por Silvana Conti)
29 de Agosto de 2019 – Dia de luta pela visibilidade Lésbica (por Silvana Conti)
Silvana Conti. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Silvana Conti (*)

Em defesa da democracia e contra o fascismo

Quero dedicar minhas palavras para todas as mulheres que estavam na luta antes de nós, e em especial para: Lurdinha, Claudete, Carla e MaryLúcia, guerreiras que contribuíram com suas vidas para escrevermos a nossa história.

Sempre foi proibido desejar outra mulher, e ainda hoje, a sociedade e os “moralistas de plantão” consideram o amor entre duas mulheres um “pecado”, um “desvio”, uma “anormalidade”, um desejo proibido.

Nos dias de hoje, os conservadores e fundamentalistas que estão representados pelo presidente da república e sua turma, ainda afirmam que o divórcio é uma praga, que o aborto é um crime e entendem que o grande papel da mulher é procriar e cuidar da família, e que as Lésbicas, as Bis, as Travestis, as Transexuais e os Gueis são pessoas que necessitam de “ajuda” da medicina, dos exorcistas ou da polícia.

A questão não é ser Lésbica mas, sim, a lesbofobia que enfrentamos a cada dia, nessa sociedade regida pelo heteropatriarcado, pelo sexismo, pelos fundamentalismos que excluem e tão brutalmente destroem vidas e sentimentos, impedindo que nos expressemos livremente.

Um pouco da nossa história!

A história de mulheres que amam outras mulheres não representa nenhuma novidade em nossa sociedade, já que a origem do termo lésbica, provém da ilha de Lesbos, ilha grega da Ásia Menor, marcada pela presença de Safo (século VII a.C), poetisa de talento excepcional cuja inspiração era insuflada pela paixão e desejo por mulheres. Sua obra foi queimada e reduzida a fragmentos, por sua orientação sexual e pela devoção às deusas gregas. As mulheres nascidas em Lesbos, eram chamadas de lésbicas.

No Brasil, no século XVI, Felipa de Souza foi denunciada ao tribunal do Santo Ofício, na Bahia, por “práticas diabólicas”. Entre essas práticas, fazer amor com mulheres. Sua punição foi severa: a humilhação e o açoite públicos seguidos pelo exílio e morte.

Hoje, no século XXI, pode-se dizer que muita coisa mudou, em decorrência da luta, da organização e da resistência das mulheres LBT.

As mulheres lésbicas, bissexuais e trans brasileiras não são açoitadas em praça pública e não podem ser legalmente punidas por suas escolhas afetivas e sexuais. No entanto, o preconceito e a conseqüente discriminação seguem impedindo o exercício de liberdades fundamentais, matando e violando os direitos humanos das mulheres LBTs.

A nossa luta é por um Projeto de Desenvolvimento para o Brasil

Enganam-se os(as) que ainda pensam que nós, Lésbicas/ Feministas Emancipacionistas, nos tornamos cidadãs fazendo as nossas lutas especificas, por conquistas de direitos civis, sociais e políticos para as mulheres LBT.

Nossa luta pela conquista da cidadania passou e passa pela nossa participação nos movimentos democráticos pela Independência do País, contra o crime brutal da Escravatura, pela República, contra o Estado Novo, pela Paz, contra a Ditadura Militar, pela Anistia, contra a Carestia, pelas Diretas Já, contra o Racismo, pela Constituinte, contra a corrupção, pelo “Impeachment” de Collor, contra a Privatização do Estado, pela Reforma Agrária, pela Reforma da Mídia, pela Reforma Política, pela Reforma da Educação, contra o Estatuto da Família, pela Autonomia dos Movimentos Sociais, contra o Estatuto do Nascituro, pelos Direitos da Classe Trabalhadora, pela Descriminalização e Legalização do Aborto, contra a Lesbofobia, contra a Bifobia contra a homofobia, contra a transfobia, contra os fundamentalismos, contra a fome, pela Laicidade do Estado, pela Democracia, pela Soberania Nacional, pela Petrobrás, pelo Pré – Sal e todas as nossas riquezas naturais, pela Escola Sem Mordaça, pela não redução da maior idade penal, pela não liberação do porte de armas, pela manutenção do gênero na educação em todos os níveis e modalidades de ensino, contra o golpe que retirou a Presidenta Dilma e fez com que o Brasil entrasse em uma profunda crise política, institucional, econômica e que um projeto ultraliberal e conservador tomasse conta do País.

Fora Bolsonaro!
Lula Livre!
Marielle presente agora e sempre!

O golpe no Brasil em 2016, e o governo Bolsonaro, acentuam o acirramento da luta de classes, concentrando mais ainda a riqueza em prejuízo da classe trabalhadora.

A crise do capitalismo nos últimos 11 anos mostra que a saída dos governos neoliberais, do capital financeiro e especulativo tem sido o arrocho e o aperto para cima dos(as) trabalhadores(as). A consequência é nítida: aumento da fome, pobreza, de guerras e conflitos em diversas partes do mundo.

Vivemos uma conjuntura de avanço do conservadorismo e de perda de direitos sociais e trabalhistas historicamente conquistados, seguido do aumento da violência e do controle sobre a vida e o corpo das mulheres, com o aumento do racismo, aumento do feminicídio, da lesbofobia, da bifobia, da homofobia, da transfobia, além da repressão, criminalização aos movimentos sociais e populares, criminalização do movimento sindical e da desqualificação e perseguição das esquerdas.

Sabemos que a Reforma Trabalhista acabou com a CLT e portanto o negociado vale mais que o legislado. Imaginem que o exército de desempregados(as) aumentará cada vez mais e sem dúvida as mulheres, negros(as), LGBTs, deficientes serão cada vez mais excluídos(as) do mundo do trabalho. O Brasil será um país de “biscateiros”(as).

A dupla jornada de trabalho e a desigualdade salarial são dois dados chocantes da situação das mulheres trabalhadoras no Brasil que se completa com a triste constatação de que a precarização, a terceirização, o trabalho informal e o desemprego tem rosto de mulher e em sua maioria o rosto das mulheres negras e trans.

Viva a Democracia e a unidade!

Sem democracia não existem direitos trabalhistas!
Sem democracia não existem direitos para negros e negras!
Sem democracia não existem direitos humanos!
Sem democracia não existem direitos para as mulheres, não existem direitos LGBT…

As conquistas que obtivemos com muita luta nos processos de conferências nacionais da educação, LGBT, direitos humanos, igualdade racial, saúde e tantas outras estão sendo enterradas, os conselhos de direitos e controle social foram destruídos, e por obvio o conselho nacional LGBT foi um destes espaços que desapareceu nas mãos de Bolsonaro, Damares e outros que estão no poder, e além de ódio de classe, odeiam a população LGBT. Não existem direitos sociais e respeito as especificidades e diversidades sem democracia.

A ante sala do fascismo

O que o fascismo foi e é, um sistema de governo em conluio com grandes empresas, que favorecem economicamente com a cartelização do setor privado, os subsídios às oligarquias financeiras e econômicas. Quando as crises rebentam as pessoas humanamente interrogam-se sobre o dia de amanhã. A reação mais imediata e espontânea é o receio pelo seu futuro. Se num primeiro impacto os princípios da sociedade que os impôs são postos em causa, a seguir regressam em força, pela mão dos agentes mais violentos do capitalismo.

O cenário de fundo é a crise atual do capitalismo que promove os fascismos, como já aconteceu na história recente, em formato diferente, com Mussolini, Hitler, Franco e Salazar.

A banalização da violência contra a população LBT, é um fator crucial que dificulta o seu enfrentamento. Enraizada na cultura e nas práticas sociais, essas violências acabam sendo assimiladas como comuns nas nossas relações.

O preconceito vivenciado pela população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) têm resultado em graves violações de direitos humanos. No mundo do trabalho, o estigma e a discriminação influenciam os níveis de eficiência e produção, o bem-estar laboral e o próprio acesso ou permanência em um trabalho decente.

Resistir e lutar sempre!

Neste momento de resistência e luta o principal desafio dos movimentos sociais e populares, movimentos sindical, é a unidade na luta e elevar a consciência política da classe trabalhadora e de todos os movimentos sociais dando destaque aos movimentos LGBT na luta para derrotar o fascismo e conquistar a democracia que nos foi roubada, resistindo e lutando pela soberania nacional e retomar a agenda da classe trabalhadora por um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, direitos sociais e enfrentamento ao machismo, ao racismo e a LGBTfobia, e todas as violências e opressões.

Precisamos acreditar na nossa capacidade de construir, transformar, revolucionar esta sociedade, que continua, oprimindo, quem se atreve a “sair da caixinha”… “fugir da regra”… sair do armário…

Este artigo é um fragmento de um artigo que escrevi em 2018, para ser publicado em um livro escrito por mulheres LGBT.

Ser Lésbica Feminista em Tempos de Fascismo:
É um Ato Revolucionário!

Os poemas que faço são para expressar a minha indignação frente as opressões, aos preconceitos, injustiças, feminicídios, lesbocídios, violências cotidianas que sofremos simplesmente por sermos mulheres que ousamos ser sujeitos políticos da nossa história.

As Outras

Visibilidade
Corporeidade
Poder
Democracia
Transgressão
Autonomia
Sapatão!
Ser inteira e não pela metade
Lesbianidades
Bissexualidades
Transexualidades…
Laicidade
Sair da Margem
Sair do Armário
Ter luz na sociedade
Fim da hipocrisia
Guerreiras investidas do poder ancestral
Safos, Roselis, Lélias, Nzingas, Felipas, Alices, Rosângelas, Mirians, Leilas, Roses, Audres, Lecis, Carmens, Marinalvas, Goretes, Naiaras, Jandiras, Dilmas, Lurdinhas, Claudetes, Carlas, Marielles, Mary Lúcias,
Alegrias, utopias, realidades
Fim do racismo, do machismo da LGBT fobia…
FELICIDADE!
Igualdade na diversidade!
Democracia!
Liberdade!
(Silvana Conti)

(*) Professora aposentada da Rede Pública de Porto Alegre. Lésbica-feminista emancipacionista. Vice- Presidenta da CTBRS. Membra da Executiva Nacional da UBM. Militante fundadora da UNALGBT.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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