Opinião
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8 de julho de 2019
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13:20

“São as águas de Julho, afogando a nação” (por Silvana Conti)

Por
Sul 21
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“São as águas de Julho, afogando a nação” (por Silvana Conti)
“São as águas de Julho, afogando a nação” (por Silvana Conti)
Silvana Conti (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Silvana Conti (*)

O tempo passou, a vida piorou, a violência aumentou! Mas o sonho não acabou. E agora?

São as águas de julho, afogando a nação, Bolsonaro e Moro chafurdando na lama da hipocrisia, da (in)justiça, da impunidade, dos maus tratos ao povo, que indignação.

O Brasil vive um período obscuro, perigoso, violento, onde os que estão no poder nos empurram a cada dia para o precipício, onde a barbárie e a solidão institucional, a violência, o desemprego, a fome, o desmonte do serviço público, as privatizações, o entreguismo, a retirada de direitos da classe trabalhadora, são a tônica destes gestores que ficarão marcados na história, como aqueles que estão de costas para o povo e são amigos dos banqueiros e dos patrões.

A aplicação da agenda  neoliberal  agrava os problemas estruturais do Estado Brasileiro e do RS, dificultando a retomada do desenvolvimento, precarizando os serviços públicos e assim, punindo e criminalizando as(os) servidoras(es) públicos, o povo brasileiro e gaúcho cotidianamente.

Na prática, a “nova política” do prefeito Marchezan, do presidente Bolsonaro e do governador Eduardo Leite, nada mais são do que gestões beneficiadas  pelo poder, tem a ver com o fim do diálogo, a imposição de ideais e o casamento permanente com cartilhas ditatoriais.

A falta de articulação com o Poder Legislativo é retrato de um projeto que despreza o diálogo como um princípio da democracia. Foi por meio de decretos, por exemplo, que o presidente tentou levar adiante um dos carros-chefe de seu programa de governo, a flexibilização do porte e da posse de armas. Após derrotas no Senado, Bolsonaro revogou o decreto, em 25 de junho, mas editou outros três. Infelizmente vai seguir tentando liberar as armas que sempre estão apontadas para a juventude negra, para as(os) LGBTs e para as mulheres nos feminicídios.

Marchezan faz a gestão da capital gaúcha da mesma forma que o presidente. É truculento, não dialoga, faz uma besteira atrás da outra, tendo muita dificuldade do trabalho em equipe. Acabou com a carreira dos(as) servidores(as) públicos, sem nenhum diálogo com os(as) trabalhadores(as) e nem tão pouco com a Câmara Municipal de Porto Alegre. Criou uma tropa de elite para bater nos(as) trabalhadores(as) municipais, além da violência institucional quando encaminhou projetos de lei  em regime de urgência tendo como tática  trocar cargos por votos.

Bolsonaro não dialoga com ninguém. Em abril, o presidente da República extinguiu centenas de conselhos de direitos, em que representantes do governo se reuniam com a sociedade civil para executar e monitorar ações de órgãos públicos. O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade) e o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (CNCD/LGBT) entraram na linha de tiro. Foi preciso que o Supremo suspendesse parte do decreto. “Trata-se da extinção, em alguma medida, do direito de participação, por essa via, da sociedade, implicando um inequívoco retrocesso nos direitos fundamentais”, afirmou o ministro Edson Fachin, durante a votação.

Como a cada dia pode “acontecer  tudo e inclusive nada,” a poucos dias o Congresso Nacional promulgou uma emenda constitucional que abre as portas e as janelas para que as salas de aula das escolas públicas em todo Brasil sejam tomadas por policiais militares disfarçados de professores(as). A emenda resume-se ao acréscimo de um parágrafo ao artigo 42 da Constituição (sobre as forças militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal), permitindo a dupla função sem impor qualquer limite ou regulamentação ao uso destes profissionais no ensino público.

A partir de agora, membros das polícias militares, dos corpos de bombeiros e demais instituições organizadas militarmente poderão acumular cargos e salários de professores(as) nas escolas, com a única condição de que haja compatibilidade de horários. Este desejo do presidente é uma vergonha nacional, um deboche a nossa profissão, uma violência institucional lamentável. A ditadura vem a galope…

E assim as águas vão passando, o frio vai aumentando, e as afirmações bizarras do presidente vão se concretizando.

Ele disse…

“Com a caneta eu tenho muito mais poder do que você. Apesar de você, na verdade, fazer as leis, eu tenho o poder de fazer decreto”, gabou-se em maio o presidente Jair Bolsonaro, ao relatar diálogo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

“Não defendo o trabalho infantil, mas usou o próprio exemplo para afirmar que o trabalho “enobrece todo mundo e se aprende a dar valor ao dinheiro desde cedo quando se trabalha”.

“O erro da ditadura foi torturar e não matar” (entrevista à rádio Jovem Pan, junho de 2016)

“Deus acima de tudo. Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias” (encontro na Paraíba, fevereiro de 2017).

“Eu fui num quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles” (Em palestra no Clube Hebraica, abril de 2017).

“Eu tenho pena do empresário no Brasil, porque é uma desgraça você ser patrão no nosso país, com tantos direitos trabalhistas. Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? “Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade…” Bonito pra c…, pra c…! Quem que vai pagar a conta? O empregador. No final, ele abate no INSS, mas quebrou o ritmo de trabalho. Quando ela voltar, vai ter mais um mês de férias, ou seja, ela trabalhou cinco meses em um ano” (entrevista ao Zero Hora, em dezembro de 2014).

“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo” (em uma entrevista com a revista Playboy em junho de 2011).

Além de ser nosso inimigo de classe, fascista, racista, machista e LGBTfóbico, Jair Messias é um grande entusiasta da privatização da educação, sendo defensor de cortes na política pública que pode ser uma ferramenta de emancipação e transformação social. Nos primeiros seis meses do governo: fez um corte bilionário de gastos públicos, o que motivou alguns dos maiores protestos populares de rua registrados neste primeiro semestre.

Temos um presidente com a cara da maldade, com a cara do imperialismo estadunidense, com a cara de tudo que desprezamos, um governante que incita o ódio, que defende o Estado mínimo, a privatização de tudo que é público, que está colocando em risco a democracia e a soberania nacional, que são nossos maiores tesouros.

Concordo com Nita Freire, companheira de Paulo Freire, quando afirma que:  “O presidente só não manda matar Paulo porque ele já morreu, senão mandaria matar, tamanho o ódio que ele tem. É a existência total de intolerância, tudo que é diferente não serve.”

Precisamos continuar nas ruas denunciando o desmonte do Estado Brasileiro, de Porto Alegre e do RS praticados pelas forças hegemônicas neoliberais e conservadoras.

Precisamos seguir resistindo e lutando em defesa da educação, contribuir na construção de uma Frente em Defesa de Porto Alegre, em defesa do RS e em Defesa do Brasil.

Uma frente ampla com movimentos sociais, centrais sindicais, partidos políticos, democratas, artistas, todos e todas que defendam a democracia, a educação, a soberania nacional e os direitos da classe trabalhadora.

Temos que botar nosso bloco na rua, juntos(as), sabendo avaliar quem são nossos inimigos de classe.

Rumo a 2020!

Acredito que:

“A unidade pode ser  nossa bandeira da esperança e a chave da nossa vitória.”

(*) Professora aposentada da Rede Municipal de Educação de Porto Alegre

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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