Opinião
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11 de junho de 2019
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13:02

O que se espera para a greve geral do dia 14? (por Aline Kerber, Sabrina Leal da Rosa e Luciana Nunes)

Por
Sul 21
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O que se espera para a greve geral do dia 14? (por Aline Kerber, Sabrina Leal da Rosa e Luciana Nunes)
O que se espera para a greve geral do dia 14? (por Aline Kerber, Sabrina Leal da Rosa e Luciana Nunes)
Foto: Carol Ferraz/Sul21

Aline Kerber, Sabrina Leal da Rosa e Luciana Nunes (*)

Em busca desta resposta, evidencia-se neste artigo o perfil e as motivações determinantes dos manifestantes do dia de 30 de maio na Esquina Democrática em Porto Alegre a partir da realização de uma pesquisa de opinião produzida pelo Instituto Fidedigna e pela In Loco sob encomenda da Associação Mães e Pais pela Democracia, movimento suprapartidário que reúne mais de 5.000 membros de 60 escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul e que luta por uma educação livre, plural e inclusiva.

A pesquisa amostral com 200 entrevistados foi aplicada no centro da capital gaúcha de forma aleatória sistemática por uma equipe de pesquisadores de campo que entrevistou os manifestantes que lá estiveram para compreender as suas reivindicações – acompanhando-os embaixo de chuva, entre sons, palavras de ordem, guarda-chuvas, cartazes, bandeiras, faixas, capas de chuva, em um dos dois grupos que caminharam em direções opostas, mas pelo mesmo objetivo – um pela Borges e outro pelo Túnel da Conceição – ambos em direção ao Largo Zumbi dos Palmares na Cidade Baixa.

Em relação ao perfil dos manifestantes, 50,5% eram mulheres, 72,1% brancos, seguindo as características populacionais de Porto Alegre que são divulgadas pelo IBGE. Quanto a idade, 46,5% deles tinham entre 18 e 34 anos de idade e 78% dos respondentes tinham pelo menos Ensino Superior Incompleto – a maioria completo – ou seja, mais jovens e mais escolarizados que o universo porto-alegrense de forma geral. Além disso, 53% dos manifestantes eram estudantes e 72,1% tinham renda mensal familiar de até 5 salários mínimos, sendo 29,9% entre 3 e 5 salários mínimos. Quer dizer, fala-se majoritariamente de participantes jovens, brancos, escolarizados e de classe média. E a contrassenso, 66,7% não participam de movimento social, sindicato, associação ou partido político, conforme declaração.

A maioria dos entrevistados (69,3%) também participou da manifestação de 15 de maio último. Espontaneamente, 74,3% dos entrevistados disseram que o principal motivo para estarem nas ruas no 30M foi a contrariedade em relação aos cortes na educação, seguido pela oposição ao Bolsonaro (12,6%) e a luta contra a Reforma da Previdência (4,9%). Além disso, também foi questionado de forma estimulada sobre os 3 principais motivos para estarem presentes na manifestação e entre as respostas mais frequentes, observou-se que 83,4% dos respondentes são contra os cortes nas Universidades e Institutos Federais; 69,8% contra a Reforma da Previdência e 27,6% contra as privatizações, entre outros que se dizem desfavoráveis também aos agrotóxicos, desemprego, Escola Sem Partido, facilitação da posse e porte de armas, fim do FUNDEB, Pacote do Moro e cortes nos remédios e favoráveis ao impeachment do Bolsonaro.

Os entrevistados responderam perguntas sobre sua posição política. Assim, notou-se a predominância de manifestantes que se consideram de “esquerda” (76,3%). Quase todos – 96,5% dos manifestantes se disseram opositores ao Governo Bolsonaro. Ao serem questionados sobre o grau de oposição ao Governo Bolsonaro, 86,9% responderam que é “muito forte” e 9,6% responderam “forte”. Em relação à opinião sobre o impeachment do presidente, 60,9% se mostraram favoráveis, todavia 19,3% responderam não serem favoráveis e 16,8% preferem outra medida, como novas eleições e renúncia. Somente 3% da amostra se declarou “indiferente” quanto ao impeachment.

Pode-se dizer que a unificação de estudantes e trabalhadores ainda não foi plena neste ato, pois os estudantes predominaram de forma hegemônica nas ruas no #30M e muitos trabalhadores ficaram de fora, incluindo professores, inclusive pela falta de adesão de sindicatos. Ainda, a pauta da reforma da previdência apareceu pouco espontaneamente como motivação determinante na pesquisa, nos cartazes, nas palavras de ordem e nos discursos dos que se manifestaram nos carros de som. Além do mais, só 7 em 10 responderam com estímulo que a Previdência está entre as 3 motivações determinantes para a manifestação.

A greve do dia 14 de junho precisa ser ainda maior e mais integrada em termos de pauta, sobretudo trazendo a Educação e a Previdência como temas centrais em todos os símbolos, discursos, comunicação, etc., na fala tanto de trabalhadores quanto de estudantes. Os estudantes de diversas correntes políticas da esquerda precisam estar juntos independente de qualquer coisa, pois parecem ser os principais atores neste cenário que indica uma virada de jogo democrático da nova política que está surgindo no país. Só dessa forma será possível gritar com mais verdade e força: “unificou, unificou…é estudante junto com trabalhador”. Por fim, já se sabe de antemão que a pauta das possíveis fraudes na Operação Lava Jato venha com tudo para as ruas no 14J, após a bomba denunciada pelo jornal The Intercept no último domingo.

(*) Aline Kerber, Socióloga, Diretora Executiva do Instituto Fidedigna e Presidenta da Associação Mães e Pais pela Democracia. Sabrina Leal da Rosa, Socióloga, Diretora da In Loco. Luciana Nunes, Estatística, Professora do Departamento de Estatística da UFRGS. Responsáveis técnicas pela pesquisa.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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