Opinião
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8 de junho de 2019
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18:26

Caro Reitor da Unisinos, há um silêncio obscurantista na Unisinos FM (por Sérgio Kapron)

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Sul 21
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Caro Reitor da Unisinos, há um silêncio obscurantista na Unisinos FM (por Sérgio Kapron)
Caro Reitor da Unisinos, há um silêncio obscurantista na Unisinos FM (por Sérgio Kapron)
Reprodução

Sérgio Kapron (*)

O mundo está mais surdo de música, cultura, informação, alegria, pensamento crítico, de liberdade e de educação. Os Jesuítas, centenários catequizadores e educadores, silenciaram as vozes e os sons que resistiam ao ensurdecedor obscurantismo que avança sobre o mundo e o Brasil. Silenciaram a Unisinos FM! Pelo menos em sua identidade recente, não toca mais! Foi “descontinuada”, conforme comunicado dos dirigentes da Unisinos.

Estamos privados de escutar de forma livre, aberta e democrática, via o dial FM 103.3 ou no www, uma programação musical e cultural de primorosa qualidade. Um dos raros espaços de mídia ‘aberta’ onde a liberdade de expressão das/os locutores/as era recheada de valores humanitários, de consistente conhecimento cultural, independente da indústria do consumo, construtor da identidade cultural musical deste território acerca do paralelo 30 na América do Sul. E, talvez aqui o grande pecado, um espaço com pitadas críticas das atrocidades morais e políticas que obscurecem a razão, neste início de século XXI. Mesmo aberta aos comerciais, a Unisinos FM era muito mais que uma rádio educativa. Era um oásis de cultura com identidade local e bom senso no deserto da mídia tradicional.

Ahh mas que exagero, ninguém escuta mais rádio, mesmo.”

É uma questão de negócios.”

Vão colocar outra programação no lugar!”

Pode ser. Que sejam apenas alguns os incomodados que cultivaram o hábito de se informar e se entreter com o ouvido sintonizado em uma rádio. Alguém que encontrou vozes amigas e fraternas junto aos ‘velhos’ patrimônios culturais Alemão Vitor Hugo e Jimi Joe, com a primorosa revelação Marília Feix, os cientistas musicais Rodrigo, Caubi e Camila, a divertida Vanessa, e com tantos outros que distantes dos microfones realizavam um trabalho educativo para si, para a comunidade acadêmica e para o mundo. Em tempos de verdades líquidas, onde a IA de fake news define rumos das vidas de milhões, tudo pode. Ou quase tudo.

Um direito da Unisinos, claro, de livre iniciativa, onde as propriedades se sobrepõem a existência humana. E até sobre a responsabilidade social. Quando trazemos um filho ao mundo, ao mundo ele pertencerá. Será ele transformador e transformado será. Não nos pertence mais. Quando apagamos uma luz que acendemos, espalhamos escuridão.

Desde estes ouvidos, desacredita-se que tenha sido uma decisão por questões financeiras. A Unisinos FM não tinha sons de ‘prejuízo’. Produzia sons sustentáveis, inclusive economicamente.

Seria, então, efeito dos tempos políticos de idiotização e menosprezo da vida? Sem dúvidas chamava muita atenção a liberdade de expressão política, crítica e responsável, de alguns dos locutores da rádio. Teria sido este o pecado fatal? Seria a linha de um ‘novo tratado de Tordesilhas’, aquela demarcada a canhões, sangue e silêncio dos nativos? Teria a censura batido à porta e curvado os centenários educadores, como nas missões jesuítico-guaranis? Ou seria mais um efeito da ‘bolsonarização’ da educação?

Acredito que o mundo intelectual não evolui solitário em seu espaço simbólico, mas forma sistema e interage com as esferas da organização social, das estruturas de poder, das condutas, das crenças” (Marcelo Fernandes de Aquino, Reitor da Unisinos. www.unisinos.br). Também acredito, Reitor! Assim como que vocês terão todas as oportunidades de reparar este lastimável retrocesso. Uma oportunidade histórica de deixar mais uma corajosa e desafiadora marca Jesuíta nas estruturas de poder, das condutas e das crenças obscurantistas. A história ouvirá!

(*) Outono de 2019. Sérgio Kapron, radiófilo, pai, amigo, professor, economista, alguém que ainda acredita em mundo melhor.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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