Opinião
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10 de maio de 2019
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12:14

Guerra híbrida contra o Brasil: golpe “legal”, a prisão de Lula, fascismo e entreguismo (por Ilton Freitas)

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Sul 21
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Guerra híbrida contra o Brasil: golpe “legal”, a prisão de Lula, fascismo e entreguismo (por Ilton Freitas)
Guerra híbrida contra o Brasil: golpe “legal”, a prisão de Lula, fascismo e entreguismo (por Ilton Freitas)
Foto: Presidência da República

Ilton Freitas (*)

No final de abril realizei o pré-lançamento de meu segundo livro [1], “Guerra Híbrida Contra o Brasil: Golpe ‘Legal’, a Prisão de Lula, Fascismo e Entreguismo”. O evento ocorreu através de uma entrevista concedida à Rede Soberania, coordenada pelo ativista e comunicador Luiz Müller. Ademais publiquei no meu blog [2] a introdução da publicação. Em breve queremos repercutir, neste espaço diferenciado, o seu lançamento.

A rigor, o livro é um ensaio, posto que se trata de uma peça não ficcional, apoiada em discussões bibliográficas e que, a partir de inferências, me permitem afirmar que o Brasil foi alvo de uma “Guerra Híbrida [3]”, cujo ponto de inflexão remonta às celebres “jornadas de junho de 2013” até a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Mas o que é a “Guerra Hibrida”? É a intervenção indireta em países-alvo movida pelo império anglo-americano e que persegue objetivos de guerra. Isto é, a deposição ou destruição de regimes e de governos hostis aos interesses das grandes potências ocidentais e do capital financeiro, a perseguição, confinamento e aniquilamento de lideranças populares, a captura de fontes e de recursos naturais e energéticos, a destruição de empresas e cadeias produtivas nacionais e a instauração de governos vassalos, entreguistas e antinacionais.

As intervenções do império anglo-americano em países governados por governos “hostis”, convalidadas por seu braço executivo, o governo norte-americano, vem de longe. Considerando o pós-Segunda Grande Guerra (1939-1945), a partir dos anos cinquenta do século passado, temos na América Latina as seguintes intervenções: na Guatemala, em 1954; em Cuba, em 1961; no Brasil, em 1964; na República Dominicana, em 1965; no Chile, em 1973; na Argentina, 1976; o suspeito acidente que vitimou o presidente Jaime Roldós, no Equador, 1981; invasões de Granada, em 1983 e do Panamá, em 1989 e intervenção indireta na Nicarágua, 1990. Fazia parte do padrão destas intervenções o emprego direto e desproporcional de marines, como nos casos das invasões de Granada e Panamá. Ou, de outro modo, dando apoio e instrumentalizando a sublevação de atores estatais antinacionais das forças armadas. Foram os casos do Chile, com o facínora ditador Augusto Pinochet, do Brasil, com setores golpistas da oficialidade, e dos generais genocidas da Argentina.

Num certo sentido, a “Guerra Híbrida” constitui uma síntese da experiência imperialista acumulada em intervir em países governados por lideranças políticas insubmissas aos seus interesses econômicos e políticos. Contudo, a “Guerra Híbrida” não deixa de ser uma resposta “inovadora” a um mundo que não é mais unipolar, posto que tendente à multipolaridade com o advento da China como potência econômica e da Rússia, que segundo analistas especializados[4], e sob os auspícios do presidente Vladimir Putin, logrou a paridade – quiçá superioridade – no campo militar. Sendo assim, a “Guerra Híbrida” se propõe a uma abordagem adaptativa do conflito no século XXI, que permuta a intervenção militar direta pela instrumentalização de atores não estatais para fins de desestabilização de governos e regimes.

As “Guerras Híbridas” são empregadas tendo em vista escalar conflitos até o limite do enfrentamento armado promovido por atores não estatais. Numa primeira etapa, os regimes e governos alvos são fustigados por “Revoluções Coloridas”. As “Revoluções Coloridas” são manifestações de massas manipuladas pela mídia tradicional e por redes sociais orientadas e alimentadas para operar no padrão “guerra de informações”. O objetivo da “guerra de informações” é criar “o ambiente” favorável a hostilização do governo e a promoção de manifestações de rua “pacíficas”. Caso as “Revoluções Coloridas” sejam insuficientes para depor os governantes, o passo seguinte poderá ser uma “Guerra Não-Convencional”. Nesse caso grupos recrutados e armados se empenharão por conflitos de baixa intensidade e assimétricos, mas com enorme potencial de provocar baixas às forças de segurança leais, à infraestrutura do País-alvo e socialmente gerar caos, pânico e desequilíbrio psíquico à população civil.

No caso do Brasil a “Guerra Híbrida” ampliou consideravelmente seu “mix” de possibilidades. Como descreveu o ativista pelos direitos humanos e prêmio Nobel da Paz, em 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, na América Latina foram utilizados os “golpes de veludo”, ou brandos. Posto que através de um verniz “legal“, fornecidos por setores do judiciário corrompidos e de maiorias congressistas auto interessadas, se produziram golpes de estado. Desse modo, foram destituídos os governos eleitos de Manuel Zelaya, em Honduras, 2009, do presidente Fernando Lugo, no Paraguai, em 2012 e da presidente brasileira Dilma Rousseff, em 2016. Não se pode descartar a hipótese de que Honduras e Paraguai serviram como “laboratórios” para a consecução do golpe contra Dilma. No entanto, em nosso país a mídia-empresa cumpriu papel preponderante na manipulação da população hostilizando permanentemente o governo.

Já as redes sociais operaram a pleno no padrão “redes sociais de guerra”, articulando, recrutando e organizando “manifestantes” para lutarem “contra a corrupção” dos governos petistas. Sendo assim se combinaram “Revolução Colorida” e “Golpe de Veludo” para dar termo a uma das democracias jovens mais promissoras do mundo. A aberração de termos na presidência um fascista como Bolsonaro, a destruição da nação e a regressão civilizatória transformada em meta de seu governo, nos permite aduzir, com sobras de evidência, que a barbárie desembarcou no Brasil.

A reflexão que faço no livro “Guerra Híbrida Contra o Brasil: Golpe ‘Legal’, a Prisão de Lula, Fascismo e Entreguismo” é uma tentativa de se aproximar e explicar uma realidade trágica, dura e letal para os sonhos daqueles brasileiros verdadeiramente democratas e nacionalistas. Contudo, e como ensinam os chineses, “nem rir, nem chorar, compreender. ” E a compreensão é o primeiro passo para a libertação.

(*) Cientista político

Notas

[1] O primeiro foi “Transparência e Controle na Era Digital – A Agenda da Democracia Brasileira”, pela editora Armazém Digital, Poa, 2013.

[2] Para quem tiver interesse segue o link: http://iltonfreitas.blogspot.com/2019/05/pre-lancamento-do-livro-guerra-hibrida.html.

[3] Recomendo o estudo e a leitura de “Guerras Hibridas: Das Revoluções Coloridas aos Golpes” do analista de geopolítica contemporânea russo, Andrew Korybko. O livro foi editado pela Expressão Popular, no ano passado.

[4] Nesse sentido o livro de Andrei Martyanov apresenta argumentos consistentes que segundo ele conferem a Rússia a proeminência militar no século XXI. Infelizmente não há tradução para o português. O livro é “Losing Militar Supremacy: The Myopia of American Strategic Planning”, pela Clarity Press, 2018. O correspondente internacional Pepe Escobar fez uma ótima resenha do livro em http://blogdoalok.blogspot.com/2018/07/eis-verdadeira-razao-pela-qual-os-eua.html

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