Opinião
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28 de maio de 2019
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10:54

Doutora Elza Soares: Resistência e Esperança (por Silvana Conti)

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Sul 21
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Doutora Elza Soares: Resistência e Esperança (por Silvana Conti)
Doutora Elza Soares: Resistência e Esperança (por Silvana Conti)
Doutora honoris causa para Elza Soares (Foto: Flavio Dutra)

Silvana Conti (*)

A música da doutora Elza Soares, traz consigo a força, resistência, sabedoria, e tudo que significa a voz, o grito, a vida de uma mulher negra periférica que tem lado e muito axé. Elza Soares aos 13 anos, participou do programa de Ary Barroso e o deixou encantado, era a primeira vez que cantava em público. “Senhoras e senhores, nesse exato momento acaba de nascer uma estrela”, depois de ter debochado de Elza por causa da maneira como estava vestida. Olhando para aquela garota pobre de tudo, Ary perguntou de que planeta Elzaela era. A plateia gargalhou imediatamente, mas calou-se assim que ouviu a resposta: “Vim do planeta fome”.

Ela nasceu na favela carioca de Moça Bonita (atual Vila Vintém), em 23 de junho de 1930. Aos 12 anos foi forçada a se casar e com 13 já era mãe.

Elza é uma artista singular no cenário nacional. Seu legado é tão notório que a BBC de Londres a elegeu como a cantora do milênio, em 2000.

Somente em 2015, conseguiu exorcizar a dor de ter sido vítima de violência doméstica e, através da música Maria da Vila Matilde, vocifera: “cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. A canção rapidamente tornou-se um hino no movimento feminista e, sempre que a interpreta em shows e programas de TV, Elza convoca vítimas a denunciarem seus agressores.

Quando Elza canta: “ A carne mais barata do mercado é a carne negra,” dá um tapa na cara do racismo e da hipocrisia, pois a tese da negação que o Brasil é um país racista, ainda vive.

Fico indignada em ver Bolsonaro fazer declarações racistas, machistas e LGBTfóbicas, e assim insuflar o preconceito, e em especial o mito da democracia racial, dizendo que a “nossa cor é o Brasil”, aproximar pessoas negras e desta forma se defender de qualquer acusação de racismo.

Todas essas declarações do presidente e também da Ministra de Estado Damares, colaboram para a reprodução de um imaginário de que a inferioridade e permanência desses grupos em condições subalternas é legítimo. Estas atitudes dos representantes do Estado Brasileiro, incentivam as violências sistemáticas contra negros(as), mulheres e LGBTs.

Como Bolsonaro e sua turma representam um projeto ultraliberal na economia e conservador nos costumes, neste momento vivemos com muito medo. Medo de perder os direitos conquistados e sem dúvidas, medo de sofrer violência nas ruas, no trabalho, nas escolas, em todos os lugares.

Já Sérgio Moro, apresenta propostas que flexibilizam o porte de armas e facilitam a justificativa policial para a execução de pessoas. Imaginem um agressor de mulheres com porte de arma, considero esta ação do governo, um investimento na violência doméstica, uma perversidade institucional, um erro fatal do presidente, sua turma e seus aliados. Aqui, chega a ser redundante afirmar que mulheres e homens negros, são as principais vítimas de violência no país, e também estarão cada vez mais na mira da morte. De acordo com o Atlas da Violência referente a 2017, documento publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 62.517 pessoas foram assassinadas no país, sendo que dessas, 71,5% eram negras.

Bolsonaro, Paulo Guedes e Sérgio Moro cumprem o infeliz papel de aprofundar as desigualdades e controlar as desigualdades, promovem a política econômica mais racista, sexista e LGBTfóbica desde a redemocratização do país.

O racismo é o projeto político e ideológico que congela mulheres e homens negros na base da pirâmide social brasileira e que ao fim os levam para a morte física ou simbólica, o que o movimento negro nacional caracteriza como um projeto genocida.

As declarações racistas, machistas e LGBTfóbicas do presidente precisam ser usadas para o desenvolvimento de estratégias políticas de luta, sabendo que precisamos avançar e evidenciar a perversidade social por detrás do projeto eleito em 2019 e em curso no país.

Ontem tive o privilégio de participar do show da Elza e encher meu coração de felicidade, amor, e muita esperança.
Dia 30 de maio vamos mais uma vez ocupar as ruas, fazendo um grande movimento para preparar a greve geral do dia 14 de Junho, quando vamos parar o Brasil:

Em defesa da educação pública sem mordaça! Em defesa da previdência pública! Em defesa da democracia e da soberania nacional!

O verde amarelo é teu, é meu, é nosso, o verde e amarelo é do Brasil!

Pega tua bandeira.

(*) Professora aposentada da Rede Municipal de Educação de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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