Opinião
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18 de maio de 2019
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10:45

Debilitando a Filosofia: Gianni Vattimo e “Il pensiero debole” (por Franklin Cunha)

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Sul 21
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Debilitando a Filosofia: Gianni Vattimo e “Il pensiero debole” (por Franklin Cunha)
Debilitando a Filosofia: Gianni Vattimo e “Il pensiero debole” (por Franklin Cunha)
Gianni Vattimo (Reprodução/Youtube)

 Franklin Cunha (*)

Desde Vico, Croce, Gramsci, Bobbio agora com Gadamer, Losurdo e Vattimo a Itália continua a nos surpreender com a grande qualidade intelectual invectiva de seus filósofos. Gianni Vattimo é um dos filósofos mais importantes do mundo. Os ensaios “Debilitando a Filosofia” com a colaboração de grandes figuras como Umberto Eco, Richard Rorty e Charles Taylor, todos introduzem suas ideias a um público cada vez maior na Europa. Vattimo pergunta se é possível ainda se falar de imperativos morais, direitos humanos, individuais e liberdades políticas? Reconhecendo a força do Deus que morreu de Nietzsche, Vattimo insiste e se manifesta por uma filosofia del pensiero debole, “pensamento débil”, onde afirma que valores morais podem existir sem ser garantidos por autoridades externas. Sua interpretação secularizante acentua elementos antimetafísicos e coloca a filosofia em relação com a cultura pós-moderna.

Vattimo explica que a expressão pensamento débil foi tirada de um ensaio de Augusto Viano, onde este anuncia especificamente que nunca ninguém tinha interpretado a ontologia da decadência como uma ontologia débil, incompleta, porque os interpretadores continuavam pensando em termos metafísicos do Ser como pensava Heidegger.

No entanto, o pensamento débil em sua atual concepção, inclui justificações políticas, sociais e ideológicas muito claras. O seu livro O Sujeito e a máscara (1974) foi escrito como um manifesto filosófico-político para a nova esquerda democrática e para as pessoas que não somente querem mudar as relações do poder como também a estrutura subjetiva do sujeito. Uma condição não se torna possível e factível sem a outra.

Vattimo afirma que a interpretação niilista de Heidegger, nos leva a uma a uma interpretação teológica negativa, direitosa. Esta (direitosa) conduz o retorno do Ser no sentido de sua superação da metafísica como uma tentativa com grandes esforços e dificuldades insuperáveis, e a outra (esquerdosa) conduz à resignação, à uma leitura da história do Ser como um natural debilitamento político do mesmo. Em suma, Vattimo justifica essas interpretações assinalando que as diferenças ontológicas servem para por fim à identificação do Ser com entes apenas metafísicos e/ou, alternativamente, à submissão dos seres humanos às férreas engrenagens do tempo, do espaço e da alma, o que resulta em organizações e sociedades totalitárias como Chaplin bem mostrou em Tempos Modernos.

E se tivermos olhos para ver, ouvidos para ouvir e cérebros para pensar e interpretar, poderemos chegar às mesmas conclusões do gênio de Gianni Vattimo à vista das atuais realidades políticas, econômicas, sociais e culturais de nosso país.”Et urbi et orbe”.

(*) Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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