Opinião
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29 de abril de 2019
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18:45

A nova velha panaceia da privatização (por Jorge Alberto Benitz)

Por
Sul 21
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Governador Eduardo Leite. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jorge Alberto Benitz (*)

Prova de que os argumentos em defesa da privatização são fracos é a reiteração do mesmo rame rame do tempo do governo Brito, isto é, percebi no discurso dos deputados estaduais Sergio Turra (PP), Mateus Wesp (PSDB), Flávio Ostermann (Novo), Eric Lins (DEM) e Dalciso Oliveira (PSB), o uso da surrada fala de que o Estado deve concentrar seus recursos e esforços na saúde, educação e segurança. A propósito, este mesmo discurso falacioso surgiu em um debate televisivo sobre privatização, na RDC TV no programa “Cruzando Conversas” na noite de terça feira (23/04/19), feito pelos defensores da privatização presente no mesmo.

Outro fato que depõe contra esta falácia é que todos os partidos do campo da direita, do qual eles são os representantes no parlamento do Estado do RS, estiveram alinhados com o governo federal na votação da PEC 55/2016, chamada de PEC dos gastos públicos, que retirou, através da limitação de gastos públicos por duas décadas, recursos da saúde, educação e segurança para assegurar aos rentistas e banqueiros, que tem papeis e títulos da dívida pública, lucros e dividendos.

Como se dizem portadores do novo em política, pensei que iriam trazer algo neste sentido. Ingênuo que sou achei que a direita tinha, enfim, se modernizado e, consequentemente, adquirido novos argumentos devido ao ingresso de gente nova, alguns formados em universidades conceituadas. No entanto, para minha frustração, o que ouvi destes que se dizem o novo na política foi o mesmo discurso agora requentado que, começou com o próprio governador que mesmo fazendo um curso de gestão pública, na prestigiada Universidade de Colúmbia, não se constrangeu em dizer que com outras palavras, que as decisões de questões complexas não devem ser tomadas pelo povo que não tem capacidade para analisa-las. Tarefa que deve ficar a cargo dos deputados, os únicos, na visão do governador, com legitimidade porque donos de “notável” saber. Ao povo resta votar e ponto final.

Ao ouvir os discursos dos defensores da proposta do governo de privatização me vi repetindo, metaforicamente, o gesto da piada do sujeito que ao invés de rir das piadas contadas levantava o chapéu saudando-as. Quando indagado porque agia assim, respondeu: Estou cumprimentando velhas conhecidas. Vi-me diante de discursos velhos conhecidos com um ingrediente que o torna ainda mais velhos, a saber, um discurso de extrema direita trazido do tempo da guerra fria. Do tempo em que se dizia que os comunistas comiam criancinha no café da manhã. Se antes este discurso não tinha aderência ao real agora virou uma caricatura da pior espécie. Como tudo que surgiu via fake news este tem a marca do maniqueísmo ideológico de direita dos mais delirantes.

Só faltou para que tudo evocasse a privatização de antanho, propagandas colocando a burocracia pública e/ou estatal representada pelo elefante desajeitado e lento. Provavelmente, não irá faltar manchetes no jornal dizendo, como foi dito na época, que o problema da dívida será resolvida com a privatização. O que não será, com certeza, dito é que nenhum recurso arrecadado, nenhum pila, da privatização feita no governo Britto foi para a saúde, segurança e educação, como proclamavam aos quatro ventos os seus defensores.

Na palestra feita na Assembleia Legislativa em 22/04/19, sobre a reestatização em curso na Europa devido aos preços altos e a piora da qualidade dos serviços prestados pelas empresas privadas, uma frase dita pelo representante do PC do B na mesa, cujo nome não me recordo, resumiu para mim esta volta do conto do vigário que é a proposta da privatização das estatais gaúchas. Ele estava se referindo a relação entre a proposta de privatização do governo Brito e a atual do governo Leite: Quando um médico receita um remédio que piora, ao invés de melhorar, a condição do doente e este volta consulta-lo e recebe como solução do seu problema o mesmo remédio é sinal que o doutor não está nem aí com a saúde do paciente. A atitude do doutor é reveladora de que ele parece mais preocupado com os interesses do laboratório, fabricante do remédio.

(*) Consultor Técnico

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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