Thiago Braga e João Paulo Farina (*)
Desde 2000 o Partido dos Trabalhadores não vence eleição em Porto Alegre. A hegemonia de 16 anos a frente da prefeitura da capital trouxe enormes avanços para a cidade. Porto Alegre se tornou uma referência mundial em serviços públicos de qualidade, participação da população nas decisões administrativas, mobilidade urbana, meio ambiente entre tantas outras práticas que melhoraram a vida dos porto-alegrenses e deram projeção internacional a cidade.
O retorno do campo conservador ao poder na capital foi marcado pelo desmantelamento dos mecanismos de participação, a cooptação de lideranças populares nos bairros e o avanço descontrolado da iniciativa privada sobre os espaços públicos da capital. Foram 12 anos de ascensão da direita na capital, com apoio de boa parte das empresas de comunicação, algumas delas com interesses imobiliários.
Em pelo menos três oportunidades, a esquerda dividiu-se em duas ou três candidaturas, sendo que apenas em 2008 conseguiu, por uma margem pequena, chegar ao segundo turno, com metade dos votos do primeiro colocado. Nas outras duas, nem mesmo ultrapassar o primeiro turno foi possível.
Em qualquer uma das três últimas eleições, o PT poderia, num ato de grandeza, abrir mão da cabeça de chapa, para garantir uma ampla coalizão dos partidos de esquerda. Não o fez e encolheu de tamanho. Em 2004 elegeu uma bancada com oito vereadores, em 2008 fez sete parlamentares, em 2012 reduziu para cinco e finalmente em 2016 chegou a menor bancada desde o início do declínio petista.
Vítima de sua própria divisão, a esquerda viu crescer a direita e a extrema-direita que pela primeira vez em décadas tem prefeito, governador e presidente da República não apenas alinhados, mas dispostos a suprimir qualquer debate democrático e impor uma hegemonia autoritária e antipopular, marcada pelo retrocesso social, o fim de direitos e conquistas históricas da classe trabalhadora.
Portanto, urge uma reação organizada e bem planejada do ponto da estratégia política e eleitoral. Diante da anormalidade institucional as divergências devem ceder para as convergências programáticas para construir uma verdadeira Frente Ampla, que permita o diálogo generoso entre PT, PCdoB, PDT, PSOL, PSB e Rede.
O Partido Comunista do Brasil, tem hoje um dos melhores quadros nacionais, no entanto, sofre de uma momentânea fragilidade institucional, está sem vereador, deputado estadual e federal.
O PT até pela sua dimensão histórica, deve assumir uma postura de vetor na construção e sustentação política de uma frente que seja capaz de estar no segundo turno com condições reais de disputa eleitoral. Para tanto, sustentar o nome de Manuela D’Avila como candidata e garantir a construção de uma base para além do PT e PCdoB , torna secundário a exigência da vice candidatura para o PT neste momento. Manuela precisa ter a vice aberta para poder dialogar com o conjunto dos outros partidos. O importante é garantir uma ampla coalizão de partidos compondo uma chapa forte.
Vivemos uma conjuntura em que os marcos recentes do Estado de Direito e das instituições democráticas foram profundamente abalados. Portanto, a leitura do cenário político deve se dar por novos marcos, mais ousados e inéditos. A previsibilidade das nossas ações nos fragiliza. Portanto, é tempo de pensar fora da caixinha e ousar se torna uma necessidade.
Frente Ampla já!
(*) Thiago Braga é militante petista. João Paulo Farina é membro do Diretório Nacional do PT.
§§§
As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.
