Opinião
|
13 de março de 2019
|
10:30

Vico, Croce, Gramsci e o marxismo italiano (por Franklin Cunha)

Por
Sul 21
[email protected]
Vico, Croce, Gramsci e o marxismo italiano (por Franklin Cunha)
Vico, Croce, Gramsci e o marxismo italiano (por Franklin Cunha)
Vico tornou-se base espiritual de quase todo pensamento político do Ocidente. (Reprodução)

Franklin Cunha (*)

Segundo Carpeaux, o alto nível teórico do marxismo italiano se deve a três figuras da história intelectual daquele país: Vico, Croce e Gramsci.

A doutrina de Giambattista Vico (1668-1774), tornou-se a base espiritual de quase todo o pensamento político do Ocidente. Mesmo assim, caiu num longo olvido interrompido pela sua redescoberta por Benedetto Croce (1866-1952). Seu livro Scienza Nuova foi escrito numa época em que as ciências naturais e matemáticas nasciam, dentro de uma Nápoles dominada pelos inquisidores espanhóis e por retrógrados jurisconsultos e gramáticos. Pergunta Carpeaux: “Como foi possível a Scienza Nuova originar um terceiro mundo ainda não nascido em meio ao choque daqueles dois mundos?”

A força da história em Vico é relativa e afirma o paralelismo entre as mudanças dos estilos literários com os diferentes estágios da civilização jurídica e econômica. Ele reconheceu a interdependência de todo o tipo de atividade humana – direito, política, religião, civilização material e espiritual – o que nos possibilita interpretá-lo no sentido da dialética idealista de Hegel e da dialética materialista de Marx. E é Gianni Vattimo(1936) um dos  “descendentes” de Vico quem diz que os filósofos atuais devem ler menos Kant e repensar as narrações oferecidas por Vico em sua Scienza Nuova. ( Debilitando la filosofia – Ensayos en honor de Gianni Vattimo, Santiago Zabala, editor, México, 2009). E, afinal, a Teoria Cíclica da História, imaginada por Vico, é comprovada observando-se o mundo e o nosso país de hoje. O fascismo que nos parecia esquecido, morto, sepultado, voltou montado num animal feroz e voraz chamado neoliberalismo.

De Benedeto Croce, Carpeaux lembra o sentimento de solidão do filósofo napolitano quando ao observar a Itália de sua época se preocupava com “o ativismo delirante dos políticos incultos”(sic). Em sua dialética, cheia de oposições dialéticas, inspiraram-se românticos, livre pensadores, conservadores, liberais, marxistas e mesmo fascistas que no final todos o abandonaram. Croce sempre foi um homem solitário, nunca conheceu o medo e esteve sempre em oposições irreconciliáveis. Em 1900, quando as ruas de Milão se enchiam de cadáveres de operários fuzilados, Croce tornou-se marxista. Em 1920, apoiou- embora indiretamente – a atuação fascista, para depois com grande coragem, se opor ao ditador manchado com o sangue de Matteoti. Seu idealismo sobrevive no pensamento de seus adversários marxistas como Antonio Gramsci, (1891-1937), mártir do fascismo, que com seu poderoso cérebro indomável, de dentro da escuridão de um cárcere, abriu luminosas perspectivas de uma reconciliação entre o materialismo histórico e o idealismo dialético. Croce, nunca pensou em fugir, mesmo quando sua casa foi invadida por sicários fascistas, destruindo seus livros e ameaçando-lhe de morte. No seu exílio voluntário dentro de Nápoles foi durante vinte anos um dos raros intelectuais que enfrentando o fascismo bestial, resolveu vivere pericolosamente.

Resulta natural e lógico, portanto, pensarmos que o refinado nível intelectual do marxismo italiano tenha inspirado e orientado, no mínimo, três destacados intelectuais marxistas de hoje e que são: Domenico Losurdo, (1941-2018), Gianni Vattimo (1942) e Giorgio Agambem (1942). Agambem, atualmente integra o PdCI – Partido dei Comunisti Italiani (“Partido dos Comunistas Italianos”), cuja proposta é a de retomar o comunismo, na sua variante italiana, conforme elaborada por Antonio Gramsci e Enrico Berlinguer. E declara-se marxista, católico e homossexual, tendo recentemente recebido gentil carta do Papa Francisco, agradecendo suas opiniões sobre o Vaticano, sobre o próprio Francisco e sobre suas concepções humanistas da história

(*) Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora