Opinião
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23 de março de 2019
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11:23

Por uma educação baseada em decência para Porto Alegre (por Jonas Tarcísio Reis)

Por
Sul 21
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Jonas Reis, diretor-geral do Simpa. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jonas Tarcísio Reis (*)

Este texto é uma resposta ao texto do Doutor Adriano Naves de Britto publicado no jornal Zero Hora de 22-03-2019, no qual ele ataca mais uma vez os professores do município de Porto Alegre. Já que ele desconhece a Educação Popular, usa seu entendimento político raso na tentativa de responsabilizar os outros pelo IDEB congelado em sua gestão à frente da educação do município de Porto Alegre. Felizmente os professores e as comunidades escolares resistem ao desmonte da educação pública e isso o irrita profundamente, pois nunca terá a sabedoria dos educadores do município que têm décadas de história na alfabetização e na instrução da população mais pobre da capital. Isso o deixa consternado.

O secretário Adriano, do PSDB de Porto Alegre, não investe em formação continuada de professores. Se quisesse “evidências” científicas para a melhoria da educação, utilizaria dados de pesquisas já realizadas nas faculdades de Educação sobre a realidade das escolas e não a compararia com a área da Medicina. A realidade que o secretário prefere, porém, é a das consultorias, da negociação da venda do patrimônio da cidade nas famosas PPPs, junto ao prefeito que pensa que a cidade é um grande varejão. No fundo, almeja, apenas, manter os seus privilégios como carro oficial, motorista particular, garçom, secretária, ar condicionado, cafezinho – tudo pago pelo dinheiro do contribuinte.

O secretário que não entende de escola pública, por exemplo, nunca chamou as direções escolares das 99 instituições escolares, ou seus corpos docentes, para uma semana de formação continuada sobre gestão democrática. Isso é porque ele odeia a democracia, odeia o debate. Nunca sentou para construir coletivamente com os mais de 4 mil professores um projeto de educação. Extinguiu as equipes de assessoria sistemática que visitavam as escolas. O que tem feito durante todo esse período? Falar mal dos professores, vociferar contra as escolas, fechar turmas, fechar turnos, perseguir professores, deixar o mato crescer nos pátios das escolas, tirar a segurança da guarda municipal que protegia as escolas, não gerenciar corretamente os contratos com os funcionários terceirizados, que sofrem o “pênalti” tendo enormes atrasos no recebimento de seus salários – deixando milhares de crianças sem merenda, sem almoço e sem higienização das escolas.

O secretário, juntamente com o prefeito, parcela o salário dos professores que percorrem longas distâncias, as vezes 50 ou 60 km, todos os dias, para construir conhecimento junto às comunidades mais periféricas de Porto Alegre, para educar o filho do trabalhador pobre. Adriano, o falso gestor, é mais um daqueles sujeitos da ideologia do MBL, que estão tentando descobrir quem veio antes, o ovo ou a galinha?, e perdidos se encontram na poeira desse tempo histórico nefasto, tentando aumentar o fardo pesado no lombo da classe trabalhadora, desse ódio aos direitos sociais, aos direitos humanos, da raiva voluntária àqueles que educam a nação. É mais um daqueles que nunca deu aula na educação básica, sequer se envolveu com os debates sobre o ensino e aprendizagem na primeira infância, na adolescência, que nada entende de educação inclusiva (característica da EJA aliada a sazonalidade na frequência), que nada sabe do aluno que passa fome, que sofre violência doméstica, que vem para escola faminto, que chegou exausto do trabalho. Essas dificuldades ocupam a mente do educando, martelando na sua cabeça, e não permitem a concentração. Devido a sua ignorância sobre essa realidade, Adriano não se importa em contratar empresas de fora do estado para fornecer a merenda das escolas, pois não se importa se terá ou não merenda na segunda-feira, já que seu prato estará cheio nos mais caros restaurantes pagos pelo seu exorbitante salário de CC.

Adriano é um destes homens que andam por aí, com altos salários fornecidos pelos prefeitos que caem de paraquedas nas prefeituras, que sempre foram “playboys”, vivendo à custa de seus pais e falindo suas empresas. Adriano é um daqueles sujeitos que fala muito e não faz nada a não ser destruir o que os outros construíram. Fala mal de todo mundo, mas como diz o ditado popular: “ninguém presta na boca de quem não vale nada”. Não merece estar no cargo de secretário por onde um dia passou um Jose Clovis de Azevedo, uma Sofia Cavedon, uma Esther Grossi: verdadeiros professores e democratas.

Mas temos uma pergunta:

O secretário tucano destruiu com as reuniões pedagógicas coletivas, desmontou com a educação em tempo integral por interesses de quem?

Destruiu com os projetos de contraturno, com os projetos de artes, detonou com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Não ampliou o número de vagas na educação infantil. Descumpre o Plano Municipal de Educação, finge que ele não existe. Não presta contas ao Conselho Municipal de Educação, ao Fórum Municipal de Educação, nem à sociedade. A secretaria utiliza o dinheiro das propagandas da prefeitura para fazer ataques à escola pública. Esses sujeitos são os operadores da nova direita que enxerga “lucro acima de todos, lucro acima de tudo”. Este é o Adriano Naves de Brito, o gestor que comete atrocidades contra a educação em Porto Alegre, fazendo faltar professores, não realizando concursos, deixando crianças sem aprender a ler e escrever em 2017 e 2018.

A solução para a distorção idade/série, segundo ele, é acabar com a EJA. É o que está fazendo. Não leva em conta a enorme desigualdade social e a vulnerabilidade das comunidades, a ausência de emprego, de incentivo ao estudo pelo sequestro do Estado pelas mãos de Marchezan. Ele pensa que estamos dormindo, que não sabemos. Quando menos esperar, voltará para seu gabinete na universidade, sem seu cargo de secretário, sem sua caneta apodrecida que está borrando o livro da história da educação de Porto Alegre.

Ele diz que prefere evidências em seu artigo. Mas Porto Alegre pede DECÊNCIA, pede verdade na gestão da educação pública municipal. Até porque já temos evidências em demasia acerca da sua incompetência e má intenção.

Educadores, em resposta aos ataques contínuos de Adriano, vamos fechar todas as escolas no dia 25 de março de 2019, vamos para a GREVE, por dignidade, pois dignidade não é uma concessão, mas uma conquista da luta de quem todos os dias mira no olho do aluno e diz com orgulho e esperança: “estamos juntos, vamos aprender, vamos resistir!”

É hora de ir para a rua, OCUPAR e RESISTIR!

Educadores unidos jamais serão vencidos!

(*) Jonas Tarcísio Reis é professor e doutor em educação. Diretor Geral do Simpa.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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