Opinião
|
15 de março de 2019
|
12:26

O perigo mora ao lado: o carvão mineral mata mais lentamente do que em Brumadinho (por Paulo Brack)

Por
Sul 21
[email protected]
O perigo mora ao lado: o carvão mineral mata mais lentamente do que em Brumadinho (por Paulo Brack)
O perigo mora ao lado: o carvão mineral mata mais lentamente do que em Brumadinho (por Paulo Brack)
Muitos negócios insustentáveis envolvendo carvão estão sendo abandonados no resto do mundo. (Foto: Maia Rubim/Sul21)

Paulo Brack (*)

Os gaúchos estão vendo o Estado do Rio Grande do Sul resgatar as atividades mais degradadoras para dar sobrevida aos negócios de sempre. O carvão mineral é a pior atividade e de impactos socioambientais múltiplos e irreversíveis. Muitos negócios insustentáveis estão sendo abandonados no resto do mundo, por pressão da sociedade. Aqui estamos vivendo uma ilusão, quase sem reação.

O carvão mineral é o pior combustível entre todos. As mudanças climáticas, com eventos extremos no Planeta, estão incontestavelmente ligadas aos combustíveis fósseis. No RS o carvão possui mais de 55% de cinzas que abrigam metais pesados como mercúrio, cádmio, chumbo. Possui gases tóxicos que prejudicam o trato respiratório. Remover à superfície carvão mineral acidifica o solo, a água e também a atmosfera.

A atividade de mineração é fragilmente fiscalizada no Brasil, pois os governos respondem aos interesses de grandes empresas. A Vale é um exemplo disso. Você já imaginou 166 milhões de toneladas de carvão vindo à tona e alterando solo, água, ar, saúde humana, flora, fauna, ecossistemas? Estamos à beira do abismo, brincando com o perigo.

O Brumadinho do RS será constituído por doenças crônicas e mortes lentas de moradores de Eldorado do Sul e das cidades do entorno da mina e das cidades onde poderão ser incrementadas estas atividades com o aumento concomitante de termoelétricas altamente poluentes, com morte de ecossistemas e custo econômico e ambiental, sobretudo sobre a saúde humana, que será muito maior do que o que os alegados benefícios.

Lixem-se a saúde da população e o Parque Delta do Jacuí e o Guaíba? Por que não fazer uma Audiência Pública, como manda a lei, ao final do processo de análise pelo órgão ambiental, no caso a Fepam? Vamos ter que pedir espaço aos juízes para expor os desastrosos danos deste combustível do século passado, que está sendo abandonado nas principais nações chamadas desenvolvidas no mundo.

A população de Eldorado, de Porto Alegre e outras cidades vizinhas deve exigir audiências públicas corretas em cada cidade potencialmente afetada por um Godzilla ambiental que provoca morte lenta, não percebida pela maioria.

(*) Professor do Departamento de Botânica, do Instituto de Biociências da UFRGS, coordenador geral do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá)

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora