Opinião
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4 de fevereiro de 2019
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16:08

Quem ganha com o caos e quem morre na lama? (por Claudir Nespolo)

Por
Sul 21
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Claudir Nespolo (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Claudir Nespolo (*)

Mesmo com a crise financeira desencadeada em 2008 e o clima de instabilidade social reinante, o número de bilionários e a concentração de riqueza não cessam de crescer. Estima-se que a riqueza de 26 bilionários equivale à renda de 3,8 bilhões de pessoas. Os bilionários não nutrem nenhuma preocupação com os pobres, os inempregáveis e os “sobrantes”. Para eles, a desigualdade é natural. Reclamam, inclusive, que são injustiçados pelos regimes tributários e tolhidos pelo excesso de regulação.

Jeff Bezos, o homem mais rico do planeta, possui uma fortuna de 112 bilhões de dólares. Apenas 1% da riqueza de Bezos corresponde ao orçamento anual destinado à saúde da Etiópia, um país de 105 milhões de habitantes. Mukesh Ambani, o mais rico da Índia, reside em um edifício de 170 metros de altura, no valor de 1 bilhão de dólares, a casa particular mais cara do mundo. Richard Branson, o bilionário britânico do grupo Virgin Galactic, aplica parte de sua riqueza em um submarino de titânio e fibra de carbono, um brinquedinho para exploração das profundezas oceânicas.

Calcula-se que seis, de uma lista de 31 bilionários nativos, possui a mesma riqueza que o somatório de 103 milhões de brasileiros. Foi divulgado que o salário de Fabio Schvartsman, atual presidente da Vale, é de R$ 1,6 milhão por mês. É o mesmo que avaliou em R$ 100 mil a indenização para cada vítima fatal de Brumadinho.

As grandes descobertas tecnológicas, financiadas pelas corporações desses semideuses, estão a serviço da busca frenética pela imortalidade, a evasão do planeta terra através da exploração espacial e a produção de controles físico e subjetivo dos seres humanos. O mais chocante é que o capital aprendeu a extrair dividendos com a destruição programada da natureza. Os “derivativos climáticos” e as “obrigações de catástrofe” fazem o maior sucesso no mundo financeiro.

Os investimentos dessas corporações são protegidos por seguradoras e os riscos, convertidos em títulos (“cat bond”), flutuam no cassino global. Depois de Brumadinho, a Vale do Rio Doce sairá mais rentável. Na verdade, os bilionários lucram com o caos e os trabalhadores são sufocados pela lama da desigualdade.

(*) Metalúrgico e presidente da CUT-RS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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