Opinião
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19 de fevereiro de 2019
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18:10

Afinal, quem são os homens que estão comandando os nossos destinos? (por Denise Argemi)

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Afinal, quem são os homens que estão comandando os nossos destinos? (por Denise Argemi)
Afinal, quem são os homens que estão comandando os nossos destinos? (por Denise Argemi)
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Denise Argemi (*)

Nunca como no Brasil de hoje, uma mulher, profissional autônoma ou candidata a algum cargo político teve tão pouca voz ou importância no cenário nacional e estadual. Mas algumas situações devem ser continuamente relembradas para que deixem de acontecer.

Eu me refiro à participação das mulheres nos espaços públicos e de como alguns homens dentro de instituições e partidos se servem delas para obter “espaço adicional”, por conta da atual quota de 30% de gênero. E a continuar comandando, também e indefinidamente, o destino dos partidos e das associações de classe.

No caso dos partidos, a quota de 30% serve principalmente para obter polpudos recursos para servir aos próprios interesses, dos homens e senhores, como estamos assistindo pela televisão e lendo nos jornais. O que obviamente pressupõe a concordância das interessadas para sofrer mais essa forma de submissão. Talvez sob a promessa de alguma benesse futura para si ou para algum afeto próximo.

A situação não é nova. Aliás, é reiterada.

Nos últimos dias temos assistido à crise do governo federal com relação ao presidente do partido do governo, que, segundo a imprensa, distribuía as verbas, à época das eleições, também às candidaturas de mulheres. Algumas chamadas de laranja, porque servem somente para obter recursos do fundo partidário. Sem, na verdade, ter qualquer intenção de concorrer a um cargo eletivo. Vergonhoso, indigno? Sim. Mas, não se surpreendam, essa prática é muito comum na política brasileira.

Em algumas instituições, a quota de 30%, serve aos mesmos fins, promover de uma forma ou de outra e invariavelmente, candidatos homens. Embora o dinheiro não faça parte do jogo político, porque não há recursos a ser destinados às mulheres. É uma batalha pelo poder e por todas as vantagens indiscriminadas que ele engloba. Os recursos financeiros serão sempre geridos pelos homens que muitas mulheres ajudaram a eleger, sem qualquer controle externo. Em alguns casos, sempre os mesmos, basta abrir a nominata da diretoria de algumas instituições locais e nacionais para constatar esta afirmação.

Porém, a maquiagem, o politicamente correto, o engodo perante a sociedade quer a sua parte. E aí entram as mulheres para que se pareça respeitar a quota e que tudo está transcorrendo dentro da normalidade. Esta também uma prática reiterada.

A invisibilidade feminina serve a interesses bem precisos e a finalidades outras que não as inclui. A mulher continua sendo alijada, continua sendo mera coadjuvante na teoria e na prática. Algumas concordam e inclusive justificam, por não se sentirem preparadas ou por temerem as investidas de quem sempre esteve a decidir por elas.

E, caso alguma ou poucas se insurjam contra esse estado de coisas, será e serão relegadas à indiferença, que é a roupagem elegante que se utilizam, os dirigentes, que julgam ter coisas mais importantes a fazer do que responder pelas arbitrariedades que cometem, sozinhos ou de comum acordo com seus pares, que acham tudo muito natural e corriqueiro.

Alguns homens dirigentes pensam não dever explicação a ninguém. Mas, devem. Devem pelo que se dá de contribuição intelectual, pelo que se paga em dinheiro e pelo que se recebe em contraprestação. Trabalho, inteligência, comprometimento e contribuição financeira não têm sexo, eles são iguais para homens e mulheres, brancos e negros(as).

Os dirigentes devem sim uma explicação, justamente porque estão em um encargo público e eletivo. E quem é eleito deve satisfações. Não só às mulheres, não só aos homens. Mas à classe profissional a que pertencem e à toda a sociedade que os idolatra e os têm como “cidadãos de bem”, mas ignoram a forma autoritária com que agem sob este rótulo.

Em pleno século XXI nunca foi tão clichê e tão atual dizer que as mulheres valem menos do que alguns homens eleitos, quando fomos nós, a maioria, no gênero, a colocá-los onde estão.

(*) Denise Argemi é advogada e Especialista em Direito Internacional Público, Privado e da Integração pela UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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