Opinião
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17 de janeiro de 2019
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10:11

Bolsonaro não é louco! (por Laurem Aguiar)

Por
Sul 21
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Bolsonaro não é louco! (por Laurem Aguiar)
Bolsonaro não é louco! (por Laurem Aguiar)
Jair Bolsonaro Foto: Tania Rego/ Agência Brasil

Laurem Aguiar (*)

Nos últimos meses, com o processo eleitoral e a vitória de Bolsonaro à Presidência da República, muito se propagou nas redes sociais e nas ruas o discurso de que Bolsonaro é um louco, que seus eleitores só podem ter esquecido de tomar os remédios e que seus nomeados saíram de um hospício. Inúmeros exemplos poderiam ser dados do quanto se tem utilizado das questões de saúde mental de forma pejorativa e estigmatizada.

Este texto não se trata de uma defesa do atual presidente — que é, de fato, indefensável. Se trata da conscientização que precisamos ter para não reproduzir mensagens preconceituosas que reforçam o modelo asilar, que teve seu auge justamente na ditadura militar brasileira defendida por Bolsonaro, abrindo as portas para a “indústria da loucura”, período este marcado pela mercantilização da saúde, por milhares de internações compulsórias, maus tratos e mortes nos manicômios.

O modelo asilar é basicamente uma forma de controlar, vigiar e punir todos aqueles que padecem de sofrimento mental ou que se diferem de alguma maneira dos padrões impostos pela sociedade. É uma forma de isolar, de esconder e tentar apagar o que “incomoda” aos “cidadãos de bem”, os “normais”. Antes de mais nada, é preciso entender que isolamento e hipermedicalização é o oposto de cuidado. O lucro e o preconceito são os motores desta lógica.

A batalha que o movimento de luta antimanicomial trava há mais de 30 anos, não é apenas pelo fim dos manicômios, mas também pelo fim da cultura manicomial. A população brasileira, em especial os setores progressistas – aliados na luta por uma saúde pública de qualidade, 100% SUS – precisam compreender que a saúde mental é coisa séria e não merece ser tratada de forma depreciativa, em especial neste momento em que a ofensiva conservadora faz bater em nossa porta o espectro do manicômio.

Em um país que tem sido tomado por discursos de ódio, onde a classe trabalhadora tem sofrido os impactos da crise do capitalismo tanto na sua vida material quanto subjetiva, parece natural que as pessoas simplesmente tenham “enlouquecido” ou que todos a nossa volta estejam “mal”, mas não nos deixemos tomar pelo comum. Precisamos lutar para que este mundo adoecido melhore e que todo o cuidado seja feito de forma humanizada e em liberdade. Precisamos romper as amarras conservadoras.

Quanto ao presidente, tenhamos a nitidez de que ele e seu governo trabalha para atender aos interesses de uma parcela muito limitada da população, logo, suas ações são atos lúcidos, objetivos e meticulosos. Não há sequer um direito da classe trabalhadora em suas particularidades – dos loucos, das mulheres, das LGBTQs, das negras e negros, dos povos indígenas, camponeses e migrantes que será poupado. A luta que travamos não pode ser carregada de preconceitos, mais do que nunca é necessário que coloquemos em prática a solidariedade de classe.

Não podemos permitir mais retrocessos e, dentro disso, que empresas privadas lucrem com o parque manicomial às custas do dinheiro público e do sofrimento humano. Saúde não se vende, loucura não se prende!

(*) Terapeuta Ocupacional (UFSM), especialista em Saúde Mental Coletiva (UFRGS), mestranda em Serviço Social (PUCRS), membra do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Saúde e Intersetorialidade – NETSI / PUCRS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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