Opinião
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12 de dezembro de 2018
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21:54

PSL é bobagem, perigoso é o avanço da extrema-direita (por Maister F. da Silva e Matheus Gomes)

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Sul 21
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PSL é bobagem, perigoso é o avanço da extrema-direita (por Maister F. da Silva e Matheus Gomes)
PSL é bobagem, perigoso é o avanço da extrema-direita (por Maister F. da Silva e Matheus Gomes)
Reprodução/Facebook

Maister F. da Silva e Matheus Gomes (*)

O que leva uma nação com as dimensões da brasileira, com tamanha riqueza natural e energética a adotar uma posição de subserviência e DNA de republiqueta? Podem ser muitas as respostas, a primeira e a mais eloquente é com certeza nosso passado colonial. Forças poderosas do estado brasileiro, como o poder judiciário e a estrutura militar, modernizam-se na aparência, entretanto, na essência mantém formas arcaicas de funcionamento que ainda os vinculam a grupos familiares seculares que transcenderam o império e sobreviveram encastelados no poder. Como hidras, estendem suas cabeças ao corpo político do legislativo e executivo.

A égide do republicanismo e a constitucionalidade para os donos do poder brasileiro não passam de uma perfumaria, discursos de tribuna onde possam exaltar falácias sob o mantra do estado democrático de direito. Nos subterrâneos agem conforme sua gênese classista, envoltos em tramas e conspirações golpistas, contra todo e qualquer avanço civilizatório que possa incluir na agenda estatal o bem-estar social dos excluídos e descamisados. O estado precisa ser mínimo para garantir uma massa imbecilizada, que não ofereça resistência a manutenção dos privilégios tidos como direitos pela minoria detentora dos destinos de quem deva viver e morrer.

Em um continente marcado pela colonização estrangeira como é o caso da América Latina, esse quadro não é pintura apenas brasileira, é fato recorrente em todos os países. O sopro democrático que varreu o continente cambaleou as oligarquias locais, no entanto não logrou êxito em derrotá-las, a muitos erros que apontar aos olhos de quem vê de fora, todavia, como bem pontuou Maquiavel “as regras políticas são fruto da correlação de forças entre os que disputam o poder”, talvez não houvesse força social para empreender a correlata queda de braço com o poderio econômico e militar do império norte-americano, onipresente no Brasil e em todo o continente, sustentáculo e formador de nossas oligarquias primitivas.

Em 2007, auge da política Chavista na Venezuela, o Brasil liderado pelo Presidente Lula recuperando-se da grave crise política do mensalão era visitado pelo subsecretário de estado norte-americano Nicholas Burns, que declarou “o Brasil é o país mais poderoso da América Latina”. Tempos depois já deflagrada a famigerada operação lava-jato, James Petras, sociólogo estadunidense e especialista em política exterior dos EUA e estudos latino-americanos, declara “os EUA querem dominar o Brasil para ter todo o continente sob controle”. É fato que as formas que assumirá esse novo modelo de dominação ainda estão em gestação, mas seus contornos já se estabelecem de forma nítida.

Passados dois anos de governo Trump, na data simbólica do aniversário de 10 anos da crise econômica mundial, há uma ofensiva continental pelas contrarreformas econômicas e sociais, e a ampliação significativa das restrições às liberdades democráticas. Nos parece evidente que há uma ação coordenada do imperialismo estadunidense para extirpar do continente lideranças, partidos e derrotar o que resta dos processos de mobilização progressivos que presenciamos, especialmente no sub-continente sul-americano, desde o início do século XXI.

No último final de semana um fato passou quase que despercebido pela mídia tradicional e alternativa, a realização da Cúpula Conservadora das Américas, impulsionada pelo PSL que surfa na onda de grande partido com presidente e a segunda maior bancada do congresso eleita no último pleito eleitoral do maior país da América Latina. O evento tem sido tratado pelos seus organizadores como um fórum de grandes debates e organização do pensamento conservador do continente. Ocorre que não há mais sentido algum tratarmos como coisa de loucos, ou achar que não ecoará na sociedade tais iniciativas.

A articulação internacional da extrema-direita é impulsionada desde Steve Bannon e suas bases firmadas na Europa, mas tem seus tentáculos estabelecidos nos governos de Piñera (Chile) e Duque (Colômbia), além de movimentos que a luz do exemplo brasileiro tentam ampliar seu alcance, como os próprios grupos de direito evangélicos em expansão pelo continente.

O PSL é uma bobagem, sigla decorativa, que abriga títeres e energúmenos reacionários levados ao poder por uma onda conservadora inflada pelo ódio e pelo medo, sustentados pela fama repentina, e que provavelmente em sua maioria não terão vida longa em suas desventuras pela disputa do poder político. A grande interrogação desse evento que pode ter passado como nonsense é o fato de agrupar expoentes da extrema direita, que agem incrustrados nas estruturas do estado, Poder Judiciário, Polícia Federal, Ministério Público, Forças Armadas e representantes do quarto poder – a mídia, incólumes ao voto popular.

A extrema direita se organiza numa cruzada contra o estado democrático, renova com rapidez acelerada seus quadros públicos que atuarão com a devida insensatez que condiz à nova ordem social conservadora, segundo sua visão, age de forma a manter preservado seu direito consuetudinário, o privilégio de ter privilégios, mesmo que para isso seja necessário o país estar de joelhos.

Cabe a nós empreender esforços para articular aliados de forma ampla e democrática a nível internacional. Tal tarefa não é fácil, é como trocar o pneu com o carro andando em meio a uma estrada cheia de buracos. Porém, é questão de sobrevivência para o desenvolvimento de um projeto que busque a superação da dominação imperialista no América Latina.

(*) Maister F. da Silva é militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Matheus Gomes é militante do Movimento Negro e integrante da Executiva do PSOL-RS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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