Opinião
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16 de novembro de 2018
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11:36

WhatsApp, @ fofoqueir@ da modernidade líquida (por Jorge Alberto Benitz)

Por
Sul 21
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WhatsApp, @ fofoqueir@ da modernidade líquida (por Jorge Alberto Benitz)
WhatsApp, @ fofoqueir@ da modernidade líquida (por Jorge Alberto Benitz)
Foto: Guilherme Santos

 Jorge Alberto Benitz (*)

Quando Saramago sentenciou que o Twitter era um sinal que estávamos indo em direção ao grunhido não sabia o que estava por vir. O Twitter comparado ao WhatsApp é brinquedo de criança como ferramenta eficaz  para o avanço do atraso, para acelerar nosso andar em direção ao grunhido. Ao se caracterizar pela privacidade,  na constituição de grupos,o WhatsApp tornou- se impermeável ao contraditório e, por conseqüência, um solo fértil para todo o tipo de maluquice, propaganda maniqueísta e teorias conspiratórias. O Twitter a despeito de ter se tornado, por razões óbvias, o veículo preferido de políticos toscos como Trump, por ter caráter publico acolhendo o contraditório, tem sido um espaço de momentos brilhantes do pensamento progressista e democrático que entendeu seu modus operandi e está fazendo bom uso dele.

Marcos Rolim contou em debate no canal de TV da Assembléia Legislativa que ao conversar com um taxista quando estava no Rio ouviu barbaridades como “ A Globo é comunista”, “O Bolsonaro vai acabar com a bandidagem”, “A Marielle era uma vadia comunista que foi namorada do Marcinho VP” e por aí vai. Tudo “informação” pescada aonde? No WhatsApp, claro! Daí que acreditar na maioria do que circula no WhatsApp é igual, sem tirar nem pôr, acreditar no fofoqueira da família, do trabalho e do grupo de amigos, analogia muito bem feita por Claudia Tajes no excelente artigo “Bora Compartilhar” de  (21/10/18) em ZH. Isto está alicerçado em estudo sério que, claro, justamente por isso  não circula por esta usina de mentiras. Estudo feito demonstra que somente 4 em cada 50 imagens no WhatsApp é verdadeira. Estamos falando em 8%, isto é 8 em cada 100 das imagens mais replicadas merece crédito como notícia ou análise correta. Quase o desvio padrão, margem de erro,  de qualquer amostra estatística cientifica.

O problema é que o WhatsApp que substitui @ fofoqueir@ de ontem achou ouvidos e olhos despreparados e crédulos para espalhar suas inverdades como se verdades fossem. A diferença, como diz Claudia Tajes, é que “a fofoqueira de ontem dependia da própria língua para espalhar pelo prédio suposições sobre as intimidades da vizinha do 301. Ou então se penduravam no telefone fixo para para contar alguma bomba que nunca se confirmava , mas que era passado adiante como fato cientificamente provado.” Fui até chamado de coitado por não acreditar nestas inverdades por parentes bolsonaristas. E o pior é que @ fofoqueir@ de hoje que é esta ferramenta da internet virou conselheira política única de uma massa de pessoas não  constituída somente de ingênuos analfabetos ou semialfabetizados com dificuldades de discernimento dos fatos e, portanto, fáceis de serem levados na conversa por malandros e vigaristas.

Muito doutor, pós-doutor entrou nesta canoa furada. Claro, muitos são analfabetos de outra ordem. São analfabetos políticos que padecem do mesmo mal que acomete o analfabeto em geral que é a falta de discernimento para entender fatos mais complexos. Sobre isso, William Bonner comentou certa vez quando chamou seus telespectadores  de idiota completo, uma espécie de Homer Simpson – sem a graça deste, digo eu– que tem que receber tudo mastigadinho porque não entende assuntos mais complexos.

De certo modo os jornais, revistas semanais, rádios e noticiários de TVs dos coronéis midiáticos foram os precursores na formação destes analfabetos políticos devido ao seu olhar ideológico deturpador tanto no noticiar como no analisar os fatos. A diferença é que são mais dissimulados e hábeis neste metier, isto é, narram e analisam os fatos de modo a parecer que estão sendo objetivos, isentos e imparciais ao passo que no WhatsApp a coisa degringolou de vez tendo como resultado um show de bizarrice e mentira nunca antes visto igual.

No fundo, não é a verdade, nunca foi,  que move as pessoas que acreditam nas mentiras do WhatsApp. É o que lhes parece mais conveniente de acreditar. Quanto mais atender seus preconceitos de raça, religião, classe social, gênero, sua falta de conhecimento, sua rasa cultura, mais convicta e firme é sua crença no que esta publicado. A última coisa que não importa a este tipo de pessoa é a verdade dos fatos. O WhatsApp, @ fofoqueir@ de hoje, é a mensageira escolhida por eles para entender o que passa no Estado, no país e no mundo. Daí o atual estado de miséria cultural e política por que passamos elegendo para deputado estadual, deputado federal, senador da República,  governador e, principalmente, presidente da Republica, pessoas que só existem na política porque se passou a acreditar no sucedâneo d@ fofoqueir@ de ontem que é o WhatsApp, que chamo de FakesApp, por achar este um nome mais adequado e (Ops!) verdadeiro.

(*) Consultor Técnico

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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