Opinião
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21 de novembro de 2018
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19:48

Parada Livre de Caxias do Sul: a religião sai do armário e assume seu viés autoritário (por Célio Golin)

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Sul 21
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Parada Livre de Caxias do Sul: a religião sai do armário e assume seu viés autoritário (por Célio Golin)
Parada Livre de Caxias do Sul: a religião sai do armário e assume seu viés autoritário (por Célio Golin)
(Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Célio Golin (*)

A postura persecutória adotada pela prefeitura de Caxias do Sul para com o movimento LGBTT daquela cidade, impondo regras descabidas para que possam realizar um evento que já tem mais de uma década, evidência o lado perverso de determinadas religiões pentecostais que reivindicam o direito de livre expressão de suas idéias. O atual prefeito, ligado a essas religiões fundamentalistas, usa de seu poder de forma autoritário para dificultar a realização do evento, não respeitando o direito de livre expressão da diversidade da sociedade em espaços públicos.

Esta situação desmascara os argumentos de que essas religiões tem respeito pela diversidade social e a população LGBTT. As máscaras caem e o estado teocrático começa a tomar forma no país. A perseguição e intolerância aos LGBTTs que teve como ápice no último processo eleitoral, que elegeu um presidente de extrema direita, impulsionando ainda mais esta triste e preocupante realidade.

Tivemos um caso da cidade de Balneário Camboriú que também passou pelo mesmo problema, onde o prefeito ligado as religiões pentecostais fez de tudo para impedir a 6ª Parada da Diversidade daquela cidade. As entidades acionaram o MPE que acabou obrigando a prefeitura a respeitar a Constituição Federal, autorizando a realização do evento.

A LGBTTfobia se apresente de inúmeras formas, e neste caso ela vem de forma institucional, permeada pela fé cega e hipócrita de muitos de seus representantes. Usam e abusam da imagem de Deus para explorar a fé alheia e pregar o ódio a determinadas populações como as LGBTT e o povo de religião de matriz africana.

Não podemos esquecer que a história é vasta em episódios de massacres a milhares de pessoas, usando argumentos advindos da fé cega, tudo em nome de Deus. Usam de mentiras e interpretações falsas do evangelho para obter ganhos econômicos que nem sempre são éticos e moralmente aceitáveis.

Estamos diante de um Estado teocrático, que legisla com a Bíblia na mão, o que é um risco enorme para a democracia. É nesta onde estúpida que o slogan do novo governo e “Deus acima de Tudo”, se apropriou de um símbolo religioso de forma autoritária e cínica, desrespeitando a pluralidade que compõe a sociedade brasileira e colocando em risco a vida de milhares de brasileiros e brasileiras.

A separação do Estado e Religião e uma premissa inegociável em qualquer democracia moderna e isto no Brasil, vem se constituindo num enorme retrocesso onde as trevas começam a fazer sombra nas ruas de nossas cidades.

(*) Coordenador do Nuances – grupo pela livre expressão sexual

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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.


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