Opinião
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4 de novembro de 2018
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19:57

Para enfrentar o governo das fakenews (por Ricardo Almeida)

Por
Sul 21
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Para enfrentar o governo das fakenews (por Ricardo Almeida)
Para enfrentar o governo das fakenews (por Ricardo Almeida)
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Ricardo Almeida (*)

O nosso desafio é transformar toda indignação em organizações capazes de fazer a terra tremer. Lembrem que o Brasil é um país estratégico e que juntos acabamos de realizar uma verdadeira catarse individual e coletiva. Agora já não somos mais os mesmos, pois novas reflexões, novas organizações e até algumas mobilizações já estão ocorrendo no Brasil e no mundo.

É normal que, neste momento, as pessoas e as organizações sociais, incluindo os partidos, estejam passando por um rápido período de refluxo e de descanso, pois estamos nos preparando para enfrentar o novo período de resistência e de lutas que se avizinha.

A primeira coisa que devemos reconhecer é que estávamos muito dispersos e que não tivemos habilidades e nem forças para evitar os diversos golpes que sofremos desde 2013.

É verdade que várias pessoas ainda seguem dispersas, céticas e solitárias, esperando que ocorra um milagre no Brasil, mas também é verdade que outras já estão tomando a iniciativa de organizar pequenas reuniões, grandes plenárias e audiências públicas para debater as questões que já estão sendo pautadas pelo novo governo e pelo Congresso Nacional.

As recentes experiências nos mostraram que as caravanas do Lula foram importantes para ressuscitar o espírito de resistência do povo junto a um dos seus maiores líderes e que o movimento #EleNão foi a primeira (se não a única) grande mobilização plural e radicalmente democrática que ocorreu nestas últimas décadas no Brasil. Ou seja: somente agora começamos a furar as bolhas partidárias e setoriais que estavam muito fechadas e fragmentadas. Sem reconhecer isso, não vamos valorizar os avanços que ocorreram na nossa cultura política.

Aprendemos que as redes sociais estão sendo usadas para espalhar as fake news, mas sabemos que elas também podem ser utilizadas como importantes ferramentas para melhorar a nossa comunicação e, principalmente, para combinar as futuras mobilizações.

No entanto, apesar desses avanços, ainda não conseguimos traduzir com clareza o propósito maior e os princípios das nossas lutas. Por que #EleNao? Pra que estamos nos reunindo e mobilizando? Não era apenas  para eleger o Haddad e a Manu. Sabemos que existe algo muito maior que nos une e que também dialoga com amplos setores da sociedade brasileira. Afinal, o que é que nos une? O que sensibilizou 47 milhões de brasileiros e brasileiras? Como dialogar com a grande maioria do povo que não votou no retrocesso?

Essa reflexão é importante para manter a esperança e ampliar ao máximo as nossas organizações. Sem organizações fortes se tornará mais difícil realizar novas e maiores mobilizações, e as pessoas irão ficar somente mostrando a sua indignação nas redes sociais e assistindo o golpe avançar.

Além da tradução do propósito, também precisamos definir as principais pautas que ferem de morte as nossas vidas, assim como a vida dos nossos filhos, netos e amigos. Acredito que, neste momento, a defesa da soberania nacional é a pauta que desmascara o governo das fake news e que unifica amplos setores da sociedade brasileira. Junto com a defesa dos direitos sociais, da previdência pública, dos empregos, dos salários, da moradia, da terra, do meio ambiente e da vida nas grandes e médias cidades, a questão da soberania é transversal às demais pautas.

Não se trata de ignorar as questões específicas, mas de relacionar cada uma delas com este leque de temas gerais, e principalmente de traduzi-las para que sejam compreendidas pelas pessoas mais humildes do povo (de forma mais didática possível).

Enfim, daqui pra frente a unificação dos movimentos e coletivos que surgiram antes e a partir do período eleitoral, será fruto de um processo orgânico de diálogos, de negociações e até de conflitos. Lembrem que discordar é legítimo e faz parte dos nossos princípios plurais, republicanos e democráticos.

Não ignorem que com Sergio Moro no ministério de Bolsonaro vão chover declarações estapafúrdias (lembram das convicções em PowerPoint?) para desviar a nossa atenção e aprovar leis duríssimas no Congresso também dominado pelas fake news. Agora que assumiram publicamente o plano entreguista, eles irão juntos iniciar um processo de perseguição aos servidores públicos e às lideranças dos movimentos sociais, com a clara intenção de explorar ainda mais a nossa mão-de-obra e vender o que resta da indústria nacional e das riquezas naturais do nosso país.

Portanto, estamos novamente frente a um grande desafio: o de desmascarar o principal objetivo deles e não gastar todas as nossas energias apenas nas armadilhas que eles montam para nós. Ou seja, sabemos que todas as pautas são importantes, mas precisamos priorizar aquelas que despertam, unificam e mobilizam a  maioria do povo brasileiro.

Esta nova fase da disputa exigirá muita sabedoria e auto-controle individual, o que é muito difícil de ser assimilado em tão pouco tempo. Mas, para enfrentar as mentiras, as acusações e à desinformação (fake news) não podemos perder tempo reagindo a todo e qualquer absurdo que vemos, pois alguns são verdadeiras arapucas, criadas apenas para nos distrair e dividir.

É por isso que a questão da organização de uma Frente Ampla, presencial e digital, para além dos partidos, criada a partir da unificação das pautas e da construção da máxima convergência possível entre os movimentos sociais, é de suma importância. Aliás, esta é a única maneira de furar as bolhas sociais e enfrentar a estratégia anti-nacional e entreguista que se aprofunda com a eleição do governo das fake news.

Quem preferir ficar só exigindo autocrítica “dos outros” vai cometer os mesmos erros do passado, que nos levaram a não resistir em 1954 (no suicídio de Getúlio Vargas, por “intrigas morais”), em 1964 (na deposição de João Goulart, por “intrigas políticas” e pela invenção de uma possível “invasão  comunista”) ou em 2016 (no impeachment de Dilma Rousseff, em nome do “combate à corrupção” e pelas fictícias “pedaladas fiscais”).

As autocríticas de quem errou ou de quem se omitiu serão reconhecidas se ocorrerem mudanças na prática, nas atividades culturais e políticas que já estão se multiplicando por aí. Por isso, é hora de aprender com as experiências compartilhadas e não ficar apenas cobrando uma atitude dos outros.

#OrganizarÉPreciso
#OBrasilÉDosBrasileiros

(*) Consultor em Gestão Projetos TIC

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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