Opinião
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6 de novembro de 2018
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20:16

Mães e Pais Unidos pela Democracia (por Aline Kerber)

Por
Sul 21
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Mães e Pais Unidos pela Democracia (por Aline Kerber)
Mães e Pais Unidos pela Democracia (por Aline Kerber)
Aline Kerber (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Aline Kerber (*)

Boa tarde a todas as pessoas e aos vereadores e vereadoras desta Casa!

Venho aqui para exercer a democracia, como bem traduziu e me pediu o meu filho, aluno do Colégio Marista Rosário, que infelizmente não participou da manifestação do dia 29.

Desde os tempos que via minha vó saindo cedo entusiasmada e realizada para dar aula na escola estadual Argentina eu já me dava conta que a escola, antes de mais nada, é o locus privilegiado da expressão, da realização, do encontro com o diferente e consigo mesmo, além da antítese da violência.

Nossos filhos tem no Rosário uma oportunidade de serem quem são, pois a escola abraça a diversidade e tem os mais generosos mestres e mestras. Os nossos filhos ousam, criam, pesquisam, inventam jogos e poesias, tem as melhores notas no vestibular e estão muito implicados com as questões sociais que afetam ou podem afetar ainda mais os invisibilizados, incluindo alguns de seus colegas que eles tanto amam.

Nesse sentido, como muitos ainda não sabem, foi o que levou à manifestação do dia 29 no pátio do colégio. É candente e urgente para eles a problemática dos homicídios, feminicídios e a morte de LGBT´s. Somos campeões mundiais de violência letal, quase 64 mil pessoas assassinadas no Brasil só em 2017, a maioria jovens, negros e de periferia.

Se a escola não for capaz de refletir com os alunos sobre esses temas e evidências, inclusive científicas, sobejamente conhecidas no país e no exterior, quem será? Necessitamos cada vez mais desconstruir esse fenômeno de produção e reprodução das violências, que está em todos nós, sem distinção, e atravessa a escola, como temos visto, tanto públicas quanto privadas.

Temos que formar cidadãos capazes de defender políticas públicas que evitem a morte real ou simbólica das nossas juventudes, do nosso presente e do nosso futuro. Segurança é um dos maiores problemas públicos dos nossos dias e tenho certeza que as soluções para isso passam pela escola e pelos nossos sonhadores, carismáticos e empáticos filhos que mostraram para o mundo, naquela segunda-feira, que solidariedade é o que nos orienta em prol do sepultamento dos preconceitos e das discriminações que sustentam as violências e a criminalidade no país – como o
machismo, o racismo e a homofobia.

Nossos filhos e nós mães e pais também clamamos por visibilidade para as escolas públicas municipais da Lomba do Pinheiro e do Rubem Berta que foram palco de violência física grave advindas de familiares de alunos contra professoras nas últimas semanas.

E por que não priorizamos e não falamos aqui nesta Casa sobre isso, sobre prevenção da violência na escola e sobre a segurança do direito à educação nas escolas públicas de Porto Alegre que ficaram sem aula por conta dessas violências sofridas pelas professoras? Por que não se permite que a Guarda Municipal oriente o seu trabalho prioritariamente para cuidar de gente e não só de próprios públicos, fazendo mais mediação de conflitos nas escolas e policiamento preventivo como preconiza a Lei 13.022/2014, que regulamenta o § 8º do art. 144 da Constituição Federal, conferindo às Guardas Municipais o papel da principal agência municipal de prevenção às violências?

Por que não oferecem mais música, sarau e slam no recreio dessas escolas para levar alguma esperança, a cultura de paz, do afeto e de valorização da vida?

Problemas complexos não carecem de soluções simplórias e sim de construções embasadas em pensamento crítico e sensível ao outro, porque se tem casas em que o quintal é a Disney, tem casas aqui mesmo em PoA que tem como quintal o esgoto que corre a céu aberto…

Tenho uma afilhada que sonha em ser contadora de histórias. Resisto também por ela para que a escola combata o bullying e toda a forma de “emparedamento do gesto e da palavra”, como nos ensina há mais de duas décadas o Mestre José Vicente Tavares dos Santos, professor da UFRGS.

Defendemos políticas públicas que transformem e impactem positivamente a vida das pessoas, fortaleçam as instituições e salvem os livros, as leis, os jovens e as professoras.

A título ilustrativo, recente estudo técnico do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), liderada por um dos mais renomados pesquisadores do país, Daniel Cerqueira, aponta que a cada 1% de jovens nas escolas há a redução em potencial de 2% dos homicídios!!!

O resto, com todo respeito, é oportunismo partidário ou pesadelo tal como uma criança imitando o símbolo de arma com a sua mãozinha. E sonhos não envelhecem! Obrigada!

(*) Aline Kerber, socióloga, especialista em segurança cidadã e mãe (fala proferida na audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, dia 6 de novembro de 2018).


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