Opinião
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25 de outubro de 2018
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18:57

O voto de cabresto na era digital (por Claudir Nespolo)

Por
Sul 21
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O voto de cabresto na era digital (por Claudir Nespolo)
O voto de cabresto na era digital (por Claudir Nespolo)
Claudir Nespolo (Foto: Divulgação)

 Claudir Nespolo (*)

A legislação eleitoral impede que os eleitores sofram intimidação econômica, física ou simbólica. Depois de receber um conjunto de informações da propaganda partidária, no momento de votar o cidadão encontra-se reservadamente apenas com a sua consciência.

Porém, nem sempre foi assim. No século passado (1889 a 1930), quando a legislação estabelecia que somente homens maiores de idade e alfabetizados podiam escolher os seus governantes, os eleitores dos rincões do país votavam sentindo o bafejar de jagunços, devidamente armados pelos coronéis.

O voto de cabresto não se restringia apenas ao interior do país. A crônica jornalística de São Paulo está recheada de denúncias de empresas que patrocinavam alistamentos e arregimentavam empregados para votar em seus candidatos.

Nos 15 dias que antecederam o primeiro turno das eleições, alguns empresários gaúchos, como em outros estados, distribuíram camisetas, realizaram reuniões intimidatórias, enviaram propagandas eletrônicas e instruíram suas gerências para atuarem como cabos eleitorais.

Denunciamos ao Ministério Público e várias empresas foram atuadas, como por exemplo a Construtora Mânica, em Carazinho, a Castagna Krum Iluminação. em Santa Maria, a Móveis Kappesberg, com sede em Tupandi e filiais em vários municípios do RS, a Sierra Móveis, em Gramado, e a Tabacos Ditália, em Venâncio Aires.

O próprio Ministério Público adverte: “Se ficar comprovado que empresas estão, de alguma forma e ainda que não diretamente, sugestionando os trabalhadores a votar em determinado candidato ou mesmo condicionando a manutenção dos empregos ao voto em determinado candidato, essa empresa vai estar sujeita a uma ação civil pública, inclusive com repercussões no sentido de indenização pelo dano moral causado àquela coletividade”.

Nas vésperas do segundo turno, um grupo de empresários foi flagrado financiando mensagens eletrônicas para um determinado candidato, uma nova modalidade de Caixa 2 digital, que pode ser caracterizada como fraude eleitoral com grande poder de viciar as eleições.

Os casos de coação do primeiro turno, com as atuais denúncias, nos levam a formular a seguinte pergunta: qual o interesse de certos empresários em burlar destemidamente a legislação eleitoral em prol de um candidato? Porventura, o empresariado deseja regredir ao início do século passado, onde os trabalhadores não tinham direitos e o voto era coagido?

Quando os empresários compreenderão que somente é possível modernizar a sociedade com a valorização dos trabalhadores? Quando farão parte de um projeto voltado para o crescimento industrial e o incremento de tecnologia com a geração de empregos e a elevação da renda? Quando entenderão que a estabilidade se forja com desenvolvimento econômico e combate às desigualdades? Eles já deviam saber que o trabalho sem direitos e a tentativa de destruição da democracia não transformarão o Brasil em uma grande nação.

(*) Metalúrgico e presidente da CUT-RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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