Alex Fraga (*)
Mal passou a eleição e os disseminadores do ódio que elegeram um projeto autoritário passaram a concentrar ataques em um alvo específico: os professores e professoras, acusados por eles de fazerem “doutrinação ideológica” em sala de aula.
Já era esperado que apontassem dedos para alguém. Afinal, esse tipo de ideologia belicosa e intolerante sempre precisa de inimigos bem definidos para aglutinar o ódio dos seus seguidores e assim justificar qualquer atrocidade: o inimigo comum é sempre um pretexto para manter a máquina de horrores funcionando. Mas por que escolheram especificamente os professores?
As tentativas de cerceamento da livre atividade docente já vêm se multiplicando e se intensificando no Brasil há algum tempo. Há um movimento ideológico bem definido, dissimulado a ponto de se dizer “sem partido”, quando na verdade todas as ações partem de um grupo político completamente alinhado com o pensamento conservador de direita. Ao se dizerem “sem partido”, estão na verdade camuflando suas reais intenções, que são a implantação do pensamento único e a absolutização de uma única ideologia no país. E é aí que os professores se tornam o alvo prioritário.
Para o exercício maduro e consciente da cidadania, é fundamental que as pessoas tenham uma formação plural, crítica, dialógica, em que não haja tabus e nem censura. O ensino em sala de aula, para propiciar autonomia e consciência aos sujeitos, precisa necessariamente abordar os mais diversos vieses, as mais variadas linhas de pensamento e entendimento.
E não estou aqui, de forma alguma, defendendo que professores “doutrinem” alunos dando apenas uma visão única de qualquer cepa ideológica. Longe disso: defendemos que todas as abordagens, à esquerda e à direita, tenham lugar em sala de aula. Que haja liberdade para tratar os currículos com a maior pluralidade possível de opiniões, e que pela tensão dialética entre essas visões cada pessoa seja o sujeito da sua própria formação, aprenda a pensar criticamente e desenvolva sua própria visão de mundo.
Se os achacadores de professores estivessem realmente preocupados com a qualidade do ensino nas escolas, em vez de combater uma suposta “doutrinação” eles cobrariam do poder público mais suporte e estrutura para a atividade docente, a melhoria dos salários defasados; atacariam a perda de qualidade da merenda escolar, a degradação e precarização dos espaços físicos. Mas não: eles não se importam com esses problemas e só combatem as ideias que desejam banir. Por que será que essas ideias os incomodam tanto?
Os professores e professoras tornam-se alvos da ideologia autoritária e conservadora porque um projeto político baseado na intolerância só floresce onde falta o pensamento crítico. Nossa missão, como educadores, pais e cidadãos, é defender os professores dos nossos filhos, lutar para que as salas de aula onde nossas crianças e jovens constroem o conhecimento sejam, cada vez mais, espaços abertos de discussão e fermentação de ideias. E isso só se faz com liberdade.
Não ao autoritarismo, não à intolerância, não à censura!
(*) Professor de Biologia e vereador de Porto Alegre