Opinião
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10 de outubro de 2018
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20:51

Cai o véu no segundo turno (por Raul Pont)

Por
Sul 21
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Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB). Fotos: Guilherme Santos e Joana Berwanger/Sul21

Raul Pont (*)

 A campanha eleitoral no Estado desde o início foi marcada por uma evidência. Os dois candidatos que as pesquisas apresentavam como favoritos escondiam seus partidos e seus presidenciáveis. Leite e Sartori fugiam de Alckmin e Meirelles como o diabo da cruz. Não tinham partidos, não tinham candidatos nacionais.

  A ordem era desresponsabilizar-se do golpe que tirou Dilma Rousseff do governo e esconder que  seus partidos (MDB e PSDB) eram os protagonistas da política econômica e social praticada por Temer. Responsáveis pelo congelamento dos gastos públicos por vinte anos nas áreas sociais, pelo ataque às conquistas históricas de direitos trabalhistas e a criminosa política de entrega dos recursos naturais e da Petrobras às petroleiras imperialistas. No último leilão o governo entregou o barril de petróleo das reservas do pré-sal por R$ 0,34 centavos quando este está cotado acima de US$ 80,00 dólares no mercado internacional.

 A lista das políticas anti-povo e anti-nação é enorme mas fiquemos com estes exemplos que já são suficientes para compreender a quem servem esses partidos. Temer, inclusive, promete não sair do governo sem antes prejudicar mais ainda os aposentados com as mudanças que propõe para a Previdência pública.

 Leite apresentou-se como o grande administrador de Pelotas, o bom moço sem máculas ou passado partidário e uma grande capacidade de discurso adjetivo sem substância, sem conteúdo. Chegou a aparecer na TV dizendo que era de esquerda mas também de direita, e do centro, enfim, uma unanimidade sem partido nacional e sem candidato presidencial. O objetivo é enganar as pessoas que, desinformadas pela mídia monopolista, não comparam passado, partidos e valorizam o senso comum do voto na “pessoa”, no “indivíduo”, uma das piores ideologias dominantes na política brasileira.

 Sartori agarrou-se no mantra da recuperação fiscal, proposta pelo governo Temer, através de novo acordo que transfere a dívida e seus encargos para o futuro, para outros governos. Uma repetição do péssimo acordo feito no Governo Britto (MDB) com a leonina negociação favorável à União e que comprometeu o Rio Grande por décadas. Em troca de uma saída momentânea, entrega-se o Estado a uma nova subordinação futura. Desconsidera, inclusive, a decisão do STF que já sentenciou ganho de causa dos Estados frente à União em função das perdas geradas pela lei Kandir.

 A outra constância de Sartori é enrolar-se na bandeira do Rio Grande. Agora não é só a bandeira. Seu “Partido” também é o Rio Grande, como, pateticamente, despediu-se no último debate na TV. Pura ideologia, apelo a símbolos que são de todos e que não estão em disputa eleitoral. O que uma eleição define são projetos políticos, programas partidários e não símbolos pátrios.

  Esconder seus partidos e candidatos presidenciais foi essencial para iludir e enganar o eleitor quanto a seu verdadeiro objetivo. Este era de sonegar a informação, a identidade programática de Meirelles e Alckmin com o governo Temer com suas políticas desastrosas para o povo. Políticas rejeitadas pela população e que derrotaram fragorosamente Meirelles (1% dos votos) e Alckmin (4% dos votos) e seus partidos que, também, caíram pela metade em sua representação federal.

  Esses partidos e seus candidatos são os responsáveis, também, pelo espaço aberto para o aventureirismo e para saídas autoritárias que sempre aparecem nos momentos de crise. Lembremos a “vassoura” de Jânio Quadros e Collor de Mello, o grande “caçador de marajás”.

  Cai o véu no segundo turno. Os dois candidatos, agora, apressam-se em buscar a saída envergonhada que não apresentaram no primeiro turno. O jovem tucano social-democrata e o herdeiro da tradição da resistência ao antigo período ditatorial apresentam sua verdadeira face, seu projeto. Ambos abraçam-se na saída autoritária e reacionária de Bolsonaro, que no golpe parlamentar-midiático que derrubou Dilma, dedicou seu voto ao principal chefe da tortura e da repressão na ditadura, o major Brilhante Ustra da Operação Bandeirantes.

  Não há como conciliar com as duas faces do mesmo projeto. Cabe aos eleitores que foram enganados, iludidos, reavaliar seu voto, reconsiderar sua escolha.

 Diante deste quadro não há como não rejeitar nem como legitimar esses projetos que se condensam num só em prejuízo do povo gaúcho. Porto Alegre viveu essa experiência em 2016 fruto do massacre da mídia, do preconceito e do ódio alimentados diariamente quando a opção de segundo turno recaiu nos mesmos partidos. A população e a cidade de Porto Alegre pagam, há dois anos, o preço da incompetência e de um governo das elites.

  Neste momento, é necessário unir esforços de todas as forças que lutam pela sobrevivência da democracia e das conquistas sociais de 1988 que se transformaram em direitos da cidadania nas últimas décadas e garantir a vitória no segundo turno deste projeto democrático popular. Não há nenhum exagero em afirmar que estamos, neste momento, na encruzilhada da defesa da civilização, da democracia e de suas conquistas sociais versus o retrocesso do autoritarismo e da apologia do ódio, do preconceito racial e da desigualdade social.

(*) Professor e ex-prefeito de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

         


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