Opinião
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13 de setembro de 2018
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12:54

Suicídio: uma invisível e social antecipação do fim (por Roger Flores Ceccon)

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Sul 21
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Suicídio: uma invisível e social antecipação do fim (por Roger Flores Ceccon)
Suicídio: uma invisível e social antecipação do fim (por Roger Flores Ceccon)
Campanha tem por objetivo a prevenção ao suicídio. (Foto: Divulgação)

Roger Flores Ceccon (*)  

Diante da efervescência política de uma eleição presidencial há pouco menos de 30 dias no país, que suscita um debate imprescindível para a democracia e para a tomada de decisão dos eleitores brasileiros, adentramos em um mês marcado por outra pauta também política e não menos importante: o suicídio. O mês de setembro é nacionalmente conhecido como “Setembro amarelo”, campanha cunhada no ano de 2015 em alusão à prevenção das violências auto-infligidas, cujo foco é debater essa problemática social invisibilizada no país.

O suicídio é um tema tabu na sociedade brasileira, pouco ou nada debatido nos espaços públicos e privados. Não é discutido no ambiente familiar, nas mídias, escolas, universidades, igrejas e serviços. Não é falado, como se não fosse um importante problema de saúde pública que apresenta elevada prevalência. É como se simplesmente não acontecesse, ao passo que neste exato momento inúmeras pessoas estão com ideação, tentando ou até mesmo alcançando êxito na intenção de tirar a própria vida. Mas além de invisibilizado, o suicídio é um problema minimizado pela sociedade e pelos serviços que deveriam prevenir e acolher, e as pessoas que apresentam ideação ou tentativa acabam culpabilizadas, criminalizadas, rechaçadas e estigmatizadas, dificultando a procura por ajuda. Acaba sofrendo sozinha e calada, e muitas vezes suicidando-se.

No mundo, as taxas de suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos e representam a 13ª causa de morte. No Brasil e na maioria dos países ocidentais, acomete em maior proporção a população masculina, com taxas de mortalidade quatro vezes maiores que entre as mulheres, embora elas apresentem maior prevalência de tentativas. Ocorre com maior frequência na região sul do país, principalmente em municípios de cultivo fumageiro e de colonização alemã-pomerana do estado do Rio Grande do Sul.

O suicídio é um fato social e um ato decidido, iniciado e levado ao fim por uma pessoa com total conhecimento ou expectativa do resultado fatal. Não é um problema individual ou isolado. É um ato que afeta a sociedade como um todo – suicida e sobreviventes -, deixando traumas que dificilmente se apagam no decorrer da história. É um fato multicausal e diretamente relacionado ao contexto social no qual o indivíduo está inserido, podendo estar relacionado a frustrações, perdas, doenças, violências, trabalho, tristezas, dores, endividamentos e outras problemáticas comuns ao modo que encontramos para viver em sociedade, variando de acordo com a cultura, o momento histórico e os grupos sociais.

Obviamente, sendo um problema social, está interseccionado à sociedade que vivemos, que se caracteriza pelo sexismo, misoginia, racismo, pobreza, miséria e conservadorismo. Uma sociedade de classes, hierarquizada e capitalista, que não cultua valores essenciais à vida em comunidade, como a solidariedade, empatia, vínculo, confiança e redes sociais de apoio. Uma sociedade intolerante e competitiva, que não aprendeu a lidar com a diferença, que impõe normas sociais ao outro, que não tolera e discrimina aquele que se desvia dos padrões esperados. Um cenário que contribui para o sofrimento e para o suicídio como estratégia de resistência, quando não encontra (não que inexista) outros meios de seguir uma vida muitas vezes transbordada de tristezas.

O suicídio é um problema de todos: Estado e sociedade civil. Precisamos investir em Políticas Públicas que de fato reduzam as taxas de suicídio, com estratégias de prevenção efetivas e eficazes; ações que atuem no sentido de reduzir os determinantes sociais desta violência, incluindo as desigualdades sociais, de raça e gênero; sensibilizar a sociedade para com a temática; falar, debater, questionar, aprender, conhecer e compreender o problema; acolher aquele que apresenta ideação, sem jamais minimizar o sofrimento alheio; ficar atento aos sinais que a pessoa em risco apresenta, mesmo que sutis. Por fim, precisamos falar sobre isso e principalmente buscar uma sociedade que roteja aqueles e aquelas que sofrem com problemas que são comuns a todos nós. A causa principal é social, e não podemos nos limitar a enfrentar as causas secundárias.

(*) Pós-doutorando em Saúde Coletiva (UFRGS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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