Opinião
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8 de setembro de 2018
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18:53

Mesa Democrática: se não antes, agora (por Alberto Kopittke Winogron)

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Mesa Democrática: se não antes, agora (por Alberto Kopittke Winogron)
Mesa Democrática: se não antes, agora (por Alberto Kopittke Winogron)
04/04/2018 – PORTO ALEGRE, RS – Vigília em defesa do Lula durante julgamento de Habeas Corpus no STF. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Alberto Kopittke Winogron (*)

Uma das grandes características da democracia é que cada força democrática é responsável por dar a legitimidade à sua força antagonista. O Golpe de 1964 e tantos outros golpes autoritários pelo mundo, de esquerda e de direita, só foram possíveis pela falta de capacidade de diálogo entre as forças democráticas.

PT e PSDB se recusaram a dialogar ao longo das últimas três décadas sobre assuntos de interesse nacional. As duas principais forças democráticas do país preferiram estabelecer alianças pragmáticas com o malfadado centrão e alimentar o histórico moinho da corrupção a estabelecer qualquer tipo de convergência em temas de longo prazo, como se isso significasse perder sua essência ideológica.

Sem dúvida os dois Partidos têm programas diferentes e divergentes, especialmente no modelo de desenvolvimento, o que é legítimo e essencialmente democrático. No entanto, apesar das diferenças, em diversas agendas os dois grandes partidos poderiam ter estabelecido uma agenda consensual, sobre temas estruturais e de longo prazo, como ter estruturado um modelo partidário que combatesse a fragmentação partidária excessiva ou uma agenda para reverter o crescimento da violência no país.

Ao invés disso, ambos preferiram travar uma luta visceral, apontando o opositor como a causa de todos os males do país, procurando destruir simbolicamente qualquer avanço positivo construído pela outra força, embora muitas vezes aproveitassem um do outro as boas ideias, mudando apenas o nome.

Pode-se dizer que ambos foram exitosos e conseguiram, com a ajuda de algumas outras forças obscuras, se autodestruir, corroendo consigo todo o sistema democrático do país.

A menos de trinta dias das eleições presidenciais de 2018, o atual ciclo democrático brasileiro se encontra em sua maior crise, a um triz de desfazer-se. A possibilidade de eleição de Bolsonaro não é o mal maior que o país pode viver nos próximos anos. Esse pode ser apenas o primeiro ato de um longo processo histórico em que se sucederão medidas de exceção, seja camufladas de medidas democráticas, como a convocação de uma Constituinte para revogar a Constituição Cidadã, hipótese explicitada por Bolsonaro durante a entrevista ao Jornal Nacional; a decretação de GLO em nível nacional, ou até mesmo Intervenções ou Estados de Emergência, com a justificativa de combater o crime, ou então medidas explícitas de autoritarismo, hipótese defendida pelo General Mourão em recente entrevista na Globonews.

Se não antes, pelo menos neste momento de risco extremo da chegada ao poder de forças autoritárias, as forças democráticas – neste momento representadas por Ciro, Alckmin, Marina e Haddad – devem sentar-se para dialogar e apresentar de forma pública uma agenda de compromisso democrático, tanto para garantir que as eleições cheguem ao segundo turno, como para estruturar uma agenda mínima para o curto processo de segundo turno. Esse diálogo pode ser essencial para a sobrevivência da democracia e, na pior e possível hipótese, para dar início à resistência democrática e para acelerar o processo da sua reconstrução. Para que a longa noite de ocaso da liberdade não dure novamente 25 anos.

(*) Diretor executivo do Instituto Cidade Segura.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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