Opinião
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18 de setembro de 2018
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01:56

Futebol, LGBTfobia e eleições (por Célio Golin)

Por
Sul 21
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Futebol, LGBTfobia e eleições (por Célio Golin)
Futebol, LGBTfobia e eleições (por Célio Golin)
“Os discursos de ódio sempre estiveram presentes em nosso país”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Célio Golin (*)

Estamos vivendo sem dúvidas um momento político muito diferenciado na sociedade brasileira. Entre tantos assuntos e debates que perpassam todas as esferas sociais e políticas, um dos centros do debate são os temas de racismo, machismo e lgbtfobia. Este quadro se desencadeou de forma mais clara, depois da vitória da presidente Dilma Rousseff na última eleição.

Os discursos de ódio, que hoje estão enraizados e sendo assumidos por muitos, sempre estiveram presentes em nosso pais. Acontece que, depois da vitória da Dilma, eles saíram do armário e invadiram as redes sociais e agora estão nas ruas, nas universidades e voltaram com tudo nos estádios de futebol. Digo, voltaram porque nas décadas de 70 e 80 eram corriqueiros e naturalizados como forma de atingir os adversários. O espaço do futebol em nosso pais sempre teve um significado recheado de machismo e de afirmação de masculinidade. Na década de 90, por força da FIFA e da pressão de vários setores da sociedade, os clubes de futebol foram provocados para que combatessem os cânticos e atitudes LGBTfobicas e racistas nos estádios de futebol. Incidentes de racismo foram vários com jogadores E árbitros de futebol, o que causou uma “mudança” mais respeitosa nos estádios, pela via politicamente correto.

No atual momento político, os discursos racistas, misóginos e lgbttfobicos voltaram por parte de setores que se identificam com candidaturas que abertamente incentivam essas ideologias, que sem nenhum prurido querem angariar apoiadores com esse perfil nas próximas eleições.  Não acho que reafirmando esta realidade, os últimos incidentes que aconteceram no Gre-Nal, onde parte da torcida do Internacional gritou com toda força “Renato viado, repetidamente. E no último clássico mineiro, entre Cruzeiro e Atlético, onde torcedores do Atlético gritavam, “Ó Cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado”, está diretamente associado e esse momento político, onde o fascismo toma corpo e alimenta setores que estavam sem representação política assumidamente em nosso país.

Estas frases, que foram para as arquibancadas do Beira Rio, do Mineirão e de outros estádios,  vão muito além de um simples grito LGBTTfóbico, mas trazem para o campo político um tema tão caro para a vida de milhares de LGBTT que ainda sofrem com o estigma social, que os desqualifica a partir de sua sexualidade. Não podemos deixar de citar que esta conjuntura vem sendo capitalizada por um candidato a presidente, catalisador dos discursos fascistas que hoje saíram de armário e já não sentem vergonha de revelar seus preconceitos contra determinados setores da sociedade.

O ódio presente nestas atitudes só revela nosso passado racista e classista, que se mostra de forma mais direta em momentos de disputa política. Quando os LGBTTfóbicos, associam a questão da sexualidade dos LGBTts, para inferiorizar os adversários, principalmente em momentos de disputas, usando argumentos e palavras que em seu olhar são mais desqualificadoras moralmente, como viado e bicha, pensam em atingir a sexualidade dos adversários. Ou seja, chamar alguém de viado ou bicha é colocar o adversário no lugar mais baixo socialmente.

Esperamos que nesta “guerra” dos que lutam pelo respeito aos direitos humanos e pela liberdade de expressão e os que estão aí para retroceder aos momentos mais sombrios de nosso passado, possamos superar este momento histórico, e que estes DIAS não sejam em vão.

(*) Coordenador do Nuances – grupo pela livre expressão sexual.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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