Opinião
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27 de setembro de 2018
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13:40

As lutas das mulheres transformam o mundo e nos transformam (por Terezinha Maria Woelffel Vergo )

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Sul 21
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As lutas das mulheres transformam o mundo e nos transformam (por Terezinha Maria Woelffel Vergo )
As lutas das mulheres transformam o mundo e nos transformam (por Terezinha Maria Woelffel Vergo )
Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Terezinha Maria Woelffel Vergo (*) 

A euforia produzida pela emergência das mulheres na luta pela democracia e contra as intolerâncias me faz pensar o quanto andamos e o que já não é mais a mesma coisa de tempos atrás, ou está hoje vestido de outras fantasias e adereços.

Em 1986, no processo de democratização, ao fim de uma longa e terrível ditadura militar, começávamos a respirar um pouco e nas eleições gerais daquele ano escolhemos os parlamentares que iriam redigir a nova constituição brasileira. Naquele ano, a União de Mulheres de Porto Alegre e demais entidades semelhantes pelo país afora, lançaram a campanha Mulher, o teu voto não tem preço. Para a época, a nossa intenção era a de trazer às mulheres a responsabilidade individual do seu voto, independente das vontades dos maridos, pais, tios e demais homens da casa. Era comum o voto da mulher seguir o voto do dono da casa. Era a coisa mais natural pois ouvíamos frequentemente que as mulheres não entendem nada de política, são muito ignorantes e assim por diante.

Portadoras de uma baixa qualidade de cidadania, era o momento importante para tomarmos decisões enquanto mulheres! Lembro que às vésperas do dia da eleição, os candidatos não poderiam mais falar nas redes de comunicação sobre os assuntos eleitorais. Fui convidada para participar no programa de rádio, à noite, se não me falha a memória, do Lauro Quadros, no intuito de falar da campanha e despertar as mulheres para aquele momento de seu voto ser consciente, respeitar a sua a decisão em quem votar. Experiência ímpar, lembro do cartaz da campanha até hoje. Nós mulheres respondemos ao chamado tornando-nos o setor da sociedade civil mais organizado e atuante na Assembleia Constituinte. Formamos o lobby do baton que garantiu a licença maternidade e vários outros reconhecimentos das mulheres enquanto cidadãs, trabalhadoras, que juntamente aos homens, resistem bravamente e lutam para sobreviver num país de tantas desigualdades e humilhações.

Ano 2018. Novamente nós somos chamadas a dar um basta nas intolerâncias contra nós e contra todos que lutam por dignidade, por direitos, por inclusão e respeito. O mote da campanha de 1986 aparentemente não tem mais razão de ser nos dias de hoje. Não votamos mais orientadas por nossos pais e maridos. Mas o desconhecimento, a falta de informação e o distanciamento sobre as questões de política nos fazem ficar novamente numa situação de ignorância e absoluta falta de senso crítico sobre em quem votar. Qual a melhor opção para nós mulheres trabalhadoras? As nossas opções como trabalhadoras são as mesmas opções para as mulheres empresárias? As donas de casa têm os mesmos interesses que suas empregadas domésticas? Então, ora os interesses se cruzam, ora se afastam e se contrapõem. Se a luta contra todas as formas de violência contra as mulheres tem a capacidade de unir a todas, pois a possibilidade de ser vítima de violência é um dado presente nas nossas vidas desde que nascemos mulher, outras questões do mundo do trabalho, sobre a saúde e direitos reprodutivos podem e seguramente nos coloca em lugares distintos, senão contrapostos.

Então,  se estão dizendo que faremos a diferença nestas eleições de 2018, é preciso arregaçar as mangas e ir à luta! É necessário entendermos e enfrentarmos os desafios no presente. Os nossos opressores são muito espertos, não nasceram ontem, nem anteontem. Estão presentes na nossa maneira de ver e viver no mundo. Combate-los e destruí-los é uma tarefa cotidiana de reconhecimento e enfrentamento das desigualdades e das discriminações. É tarefa nossa  se refazer do destruído, resgatarmos a humanidade de nós mulheres, de noção de coletivo de mulheres que possui uma agenda para construir em busca das liberdades em todos os momentos da vida. Não queremos ser as mosqueteiras da contemporaneidade, mas nossa vitória está no maior número de mulheres serem trazidas para as fileiras do #elenão#ele nunca! E é agora!

(*) Feminista, doutora em Ciência Política pela UFRGS, mestre em Sociologia, graduada em Ciências Sociais e Jurídicas.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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