Opinião
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24 de julho de 2018
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14:36

Três lições da “nova” orla do Guaíba (por Marcelo Sgarbossa)

Por
Sul 21
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Três lições da “nova” orla do Guaíba (por Marcelo Sgarbossa)
Três lições da “nova” orla do Guaíba (por Marcelo Sgarbossa)
“Reabertura de um trecho da orla do Guaíba impõe uma reflexão sobre a forma como estamos nos relacionando com a nossa Capital”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Marcelo Sgarbossa (*)

A reabertura de um trecho da orla do Guaíba após as obras de “revitalização” impõe uma reflexão sobre a forma como estamos nos relacionando com a nossa Capital. A gigantesca massa de pessoas que visita o local permite concluir ao menos três importantes questões.

A primeira está relacionada à demanda reprimida. Tanta gente junta impressiona e demonstra com clareza a falta de espaços públicos abertos nas cidades. Uma paisagem bonita para contemplar, um lugar para sentar, pessoas circulando. Só isso! A condição humana em todo o seu esplendor, satisfazendo-se com tanta simplicidade, sem consumismo e elitismo.

Claro que não precisava todo o concreto colocado na “revitalização”. Mas agora está feito, e vai ficar assim. Então vamos desfrutar, e cuidar para que continue sendo um espaço público aberto e democrático.

O segundo ensinamento está relacionado à forma como as pessoas têm chegado na orla. O transporte individual motorizado irracionalmente se impõe. E não há outra alternativa, deixando explícita a carência de transporte público de qualidade que possa ser uma alternativa para evitar que as pessoas usem o próprio automóvel.

Em pleno domingo, congestionamentos de automóveis (muitos da Região Metropolitana) que se estendem pela Avenida da Legalidade e da Democracia até a Arena do Grêmio, bem como às demais ruas do Centro, também entupidas de veículos.  O verde do Parque da Harmonia desaparece com carros estacionados. Um cenário que não combina com a beleza natural daquele local.

Os “técnicos” da mobilidade estão diante de um novo polo gerador de tráfego, e não sabem o que fazer. É preciso caminhar para um novo modelo de cidade, com o transporte individual, finalmente, dando lugar ao coletivo. Os projetos do Cais Mauá e do Pontal do Estaleiro vão na mesma equivocada direção. E será inútil oferecer milhares de vagas de estacionamento, como preveem os idealizadores. A questão do como chegar será sempre um nó que não terão como desatar.

Por fim, o terceiro ensinamento vem da concepção entre o público e o privado. O imenso fluxo de pessoas na orla só acontece porque o espaço é aberto e acessível a todas e todos. Naquele espaço, não há cercas, nem muros, nem segurança privada vigiando e intimidando. Também é possível sentar e desfrutar do local sem a necessidade de consumir. O lugar permite. Não temos essa mesma condição positiva nos projetos do Cais e do Pontal, e isso é grave. Mais uma vez, os interesses privados se sobrepõem ao interesse público.

(*) Vereador de Porto Alegre (PT)  

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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