Opinião
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28 de julho de 2018
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22:37

Semanas dramáticas à vista (por Carlos Roberto Winckler)

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Sul 21
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Semanas dramáticas à vista (por Carlos Roberto Winckler)
Semanas dramáticas à vista (por Carlos Roberto Winckler)
Caminhada, em Curitiba, em defesa da libertação de Lula. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Carlos Roberto Winckler (*)

15 de agosto, prazo final para registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral. Até dia 17 de setembro, serão julgados todos os pedidos de registro. Sem ilusões. Acharão qualquer pretexto para negar o registro de Lula. Com ou sem STF. A reação popular, provavelmente, será pífia em que pese a absoluta liderança de Lula, que hoje venceria no primeiro turno.

O desemprego e a luta pela sobrevivência produzem passividade, apesar da simpatia crescente ao retorno de políticas inclusivas do PT face ao desastre das políticas neocoloniais em curso. A reação ao golpe para produzir efeitos deveria ser de milhões nas ruas. Estarão presentes os de sempre, talvez algumas dezenas de milhares, o que é pouco. E o simples risco de alguém indicado por Lula chegar ao segundo turno, somado à rejeição aos golpistas, poderá forçar os liberais conservadores (que fazem uma última tentativa de somar forças em torno de Alckmim) a criarem pretextos para adiar eleições. Sempre poderão alegar o radicalismo de esquerda e de direita (Bolsonaro) ou retomar o tema da insegurança. Sofrem uma brutal crise de hegemonia.

A quem representa o leque de partidos ad hoc em torno da esquálida candidatura de Alckmin? Setores burgueses não hesitariam em apoiar Bolsonaro e seu fascismo de mercado como ficou evidente em encontros recentes. A alternativa Ciro, em que pesem suas piscadelas à direita e a pretensão de colher votos sem maiores compromissos na denúncia ao golpe e seus desmandos, tem todo jeito de ter fracassado. Marina estagnou como mera versão choramingas do golpe. Restou à fração clássica do liberal conservadorismo brasileiro, caso a candidatura Alckmin não decole, e a ameaça petista no segundo turno se concretize, reeditar uma saída udenista: aprofundar o golpe com um movimento de pinça, que só formalmente lembra os anos 30 brasileiros: afastar os riscos do petismo e de Bolsonaro, que cavalga um partido de ocasião e mesmo assim parece ter chance de chegar a um segundo turno montado no ódio e ressentimento de setores médios, que pode representar uma viagem sem volta aos liberais conservadores.

Adiamento em nome da paz com promessa de aperfeiçoar o sistema de governo via um pseudo-parlamentarismo? O beija-mão ao comandante do Exército é indício de que algo nesse sentido pode ser perpetrado. Temos um esboço de reação ao golpe. Cabe a nós quebrar a passividade e acelerar o tempo histórico para além da mera expectativa de mudança.

(*) Carlos Roberto Winckler é sociólogo, professor de  Sociologia e pesquisador  aposentado da FEE. Publicado originalmente em Prisma Jornalismo Colaborativo, Caxias do Sul, 28/07.

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