Opinião
|
6 de junho de 2018
|
17:11

O caso da PUC Rio e a necessidade constante de combate ao racismo (por Carla Zanella)

Por
Sul 21
[email protected]
O caso da PUC Rio e a necessidade constante de combate ao racismo (por Carla Zanella)
O caso da PUC Rio e a necessidade constante de combate ao racismo (por Carla Zanella)
Coletivos Negros fazem intervenção no Centro Acadêmico de Direito na PUC-Rio / Mariana Carlou

Carla Zanella (*)

Os acontecimentos da última semana nos fizeram refletir sobre a necessidade de se combater o racismo nas universidades e no esporte. Os casos que rompem as salas de aula ou os parques esportivos e tomam as manchetes da imprensa já não são novidade.

Nas universidades, só em 2018 pelo menos 5 casos já tomaram as mídias este ano. Eles se repetem, pois a academia ainda não é pensada para receber o povo. A população brasileira é em sua maioria negra, 50,8% se autodeclara preta ou parda (negra). Mas apesar das políticas de ações afirmativas – que vieram da luta do movimento negro -, que desde 2002 começaram a ser implementadas nas universidades brasileiras, apenas 12,8% dos estudantes no Ensino Superior são negros (dados do IBGE 2015). É uma conta que não fecha há, pelo menos, 130 anos!

Por outro lado, quando falamos de esporte, a sensação que nos é passada no “país do futebol” é que estamos falando do espaço no qual negros e negras serão reconhecidos, poderão ter algum tipo de ascensão social, “ter sua vida transformada”. A realidade é que a presença de atletas negros nas equipes de diversas modalidades esconde o potencial segregador, inclusive, do esporte.

Tanto a prática esportiva, quanto a universidade são espelhos da nossa sociedade, estruturada por quase 400 anos baseados em escravidão do povo negro e que 130 anos após a abolição segue reinventando formas de manter a negritude subjugada.

Isso explica que no encontro entre universidade e esporte, estudantes de Direito em competição, a prática racista seja potencializada. Essa é a expressão dos Jogos Jurídicos, no Rio de Janeiro, onde estudantes da PUC Rio foram acusados de cometer atos racistas.

A organização dos jogos, em conjunto com o movimento negro local, foi exemplar em sua conduta: retirou da PUC Rio o título de campeã geral dos jogos, não tendo declarado outra campeã. Em jogos nos quais o racismo é destaque, o único campeão é o sistema estruturado em diversas opressões, amparado no nosso sofrimento de muitos para garantir o lucro de poucos. E foram além: também impediram a PUC Rio de participar dos jogos em 2019.

Contudo, essas medidas não são suficientes. É preciso que a PUC Rio faça todos os esforços possíveis para identificar e punir quem praticou esses atos. É preciso que as universidades se comprometam com políticas de inclusão completa da negritude: queremos entrar, queremos permanecer, queremos ler nossos autores, queremos ser os professores, diretores, reitores! É preciso que o esporte siga o mesmo caminho, somos atletas, somos técnicos, somos pensadores do esporte!

Combater o racismo estruturante precisa estar no dia a dia de todas as instituições sociais. Não é papel dos negros e negras, nós não somos os responsáveis pelo racismo e nem esse combate deve se dar em medidas esporádicas cada vez que um caso ganha alguma repercussão. Combater o racismo deve ser a todo momento.

(*) Cientista Social e graduanda em Direito pela UFRGS. É militante do Juntos e foi parte do Akilombamento da Reitoria da UFRGS.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora