Opinião
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13 de junho de 2018
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11:15

Carta aos colegas municipárias e municipários (por Sofia Cavedon)

Por
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Carta aos colegas municipárias e municipários (por Sofia Cavedon)
Carta aos colegas municipárias e municipários (por Sofia Cavedon)
“Nos cabe a mais aguerrida luta!” (Foto: José Porto/Divulgação)

 Sofia Cavedon (*)

 A história da nossa cidade e de nossas vidas nos reservou mais esse grande desafio: enfrentar um modelo de gestão neoliberal. Explico: depois de décadas de expansão das políticas públicas na cidade e de alargamento da participação na decisão sobre elas, o prefeito eleito numa conjuntura de descrédito na política, de marginalização do movimento social e dos partidos de esquerda, com menos votos do que a abstenção representa uma visão recessiva, elitista, meritocrática de sociedade e que precisa para isso reduzir o estado público, que tece elegias à lógica empresarial de gestão, que submete direitos à possibilidade de compra dos mesmos, que acredita na competição, no livre mercado para regular a vida da sociedade.

 Nessa lógica, que se impõe contra a demanda social por mais serviços apenas pela coalização nacional hegemônica nesse momento, por uma maioria parlamentar conservadora, a grande mídia – que é na verdade a mídia empresarial – a elite econômica do país que vive do capital especulativo – e que se alinha a uma onda internacional de recrudescimento do capitalismo, é preciso marginalizar o serviço e o servidor público, desregulamentar ao máximo a proteção dos direitos do trabalhador e da trabalhadora para garantir os lucros e ampliar espaços para exploração dos serviços e das riquezas públicas.

 Movimentos sociais e trabalhadores no mundo inteiro resistem e lutam contra essa onda neoliberal conservadora. Nesses quatro anos do Governo Estadual de Sartori, brava e incansável foi a luta dos trabalhadores públicos estadual e da sociedade contra a fúria privatizadora e o desrespeito aos direitos trabalhistas básicos!

 Aqui na capital, fizemos uma greve histórica e vitoriosa no ano de 2017 mostrando para a cidade que esse modelo é perverso e destrutivo da teia e proteção sociais. Aumenta a violência e a degradação urbana, entristece e embrutece a vida na cidade.

 Mas o prefeito não desistiu de seu intento. Repete exaustivamente à sociedade que seu problema – que é de incompetência de gestão para a eficiência pública- se deve ao desequilíbrio das finanças, aos supostos “privilégios” do funcionalismo municipal, à falta de parcerias com a iniciativa privada.

  Não se importa, para obter a comprovação de uma mentira que repete para que se torne verdade, de desfalcar perigosamente o nosso DMAE, deixando de suprir com profissionais concursados a complexa e delicada operação diária de coletar, tratar e entregar a água essencial à vida da população, de coletar e tratar o esgoto e retirando sua autonomia administrativa e financeira – ação já fartamente denunciada por nós junto aos órgãos de controle! Órgão superavitário mesmo que perca recursos (mais de 170 milhões) por falta de pessoal nas equipes de desligamento/ligamento de água.

  Não importa se nossos estudantes ficam sem aulas, o currículo não é cumprido, os projetos pedagógicos/culturais extintos por falta de professores e pela gestão autoritária, gerencialista e sem projeto pedagógico algum -uma vez que isso serve à sua intenção de caracterizar a educação municipal como incompetente, onerosa, sendo melhor fazer PPPs.

 Ele acredita na educação pública NÃO ESTATAL – palavras textuais ditas em programa de rádio.

 Não importa se o Mercado Público Municipal ficou todo esse tempo sem PPCI e sem utilizar a parte de cima – procrastinou o que pode, mesmo com ação ajuizada pelo MP, para entregar a gestão para empresa que tenha experiência com shopping center – como consta no edital. Despreza a experiência, investimento e expertise de décadas dos permissionários e as características populares, culturais e históricas do Nosso Mercado!

 Não se importa com os cidadãos e cidadãs que moram nas ruas, com as crianças que trabalham, mendigam, com os mais empobrecidosseu olhar para a FASC é que dá prejuízo, pasmem! Direito ao Esporte, Lazer e Recreação, pra quê? Cultura para Marchezan é a que se pode financiar por apoio empresarial. Se foi o investimento na cultura popular, nas redes criativas, nos espaços culturais – que degradam diariamente.

 Seu olhar para todos os servidores públicos é de desrespeito, sua relação é de assédio, sua gestão é persecutória, sua intenção é destrutiva!

 Não importa se todo o dia salvam vidas nos hospitais e postos, se garantem a sustentabilidade ambiental, se iluminam e consertam para vivermos melhor. Nem o plano de saúde, financiado por eles mesmos, o prefeito tem o cuidado de garantir que não seja interrompido!

 Neste ano, impondo à Câmara um aligeiramento nunca visto: 45 dias de tramitação, sem pareceres de comissão – ampliou as medidas que atingem a carreira e a aposentadoria da nossa categoria. Dessa vez, tenta passar seu modelo com apoio das entidades empresariais – as que vinham dizendo que “são as que devem decidir sobre os rumos da cidade, juntamente com as elites da mídia e política” palavras textuais de Marchezan que revelam em nome de que interesses governa.

 Pois, diante disso tudo e porque nosso destino e de uma cidade que vinha construindo gradativamente qualidade de vida para todos e todas – trajetória que está em grave risco – nos cabe a mais aguerrida luta! Falar com a cidade, mostrar que outra sinergia é possível e necessária: a que soma esforços da cidadania com o dos e das servidoras, a que encontra saídas pelo diálogo e pela democratização das decisões, a que respeita os processos históricos e inova a partir da criatividade e desafios assumidos coletivamente.  E que Marchezan é a antítese de tudo isso!

 Na Câmara seremos incansáveis, daremos nosso melhor combate para construir maiorias que derrotem Marchezan e tudo o que representa, mas vamos precisar de todos e todas!

Nossa força vem da luta coletiva!

Coragem, categoria municipária!

Estamos junt@s!

(*) Professora da Rede Municipal e Vereadora do PT de Porto Alegre.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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