Opinião
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8 de junho de 2018
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13:20

Carris não deve ser privatizada (por Aldacir Oliboni)

Por
Sul 21
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Carris não deve ser privatizada (por Aldacir Oliboni)
Carris não deve ser privatizada (por Aldacir Oliboni)
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Aldacir Oliboni (*)

Não há surpresa alguma no fato da administração Marchezan querer contratar uma consultoria privada ao custo de R$ 2,3 milhões para decidir sobre a privatização ou extinção da Carris. Essa é sempre uma atitude bastante previsível em governos sem compromisso com a população e com o patrimônio público. Ocorre no RS governado por Sartori, que pôs fim em importantes fundações públicas e quer privatizar a CEEE, CRM e Sulgás. Ocorre no Brasil de Michel Temer, onde o pré-sal que iria gerar recursos para educação e saúde agora gera lucro para grandes petrolíferas estrangeiras. São práticas inconsequentes de quem não se acha competente para gerir bens públicos e busca favorecer alguns poucos empresários.

No caso da Carris, ela sempre foi uma empresa importante para Porto Alegre. Não somente por ser a principal operadora do transporte público, mas também por regular a qualidade do serviço oferecido ao conjunto dos usuários. Quando bem administrada, foi considerada por anos a melhor empresa do setor em nível nacional. Agora mesmo, recebeu o Top Of Mind como instituição reconhecida pelos gaúchos e gaúchas na sua área. Fato que agrega valor à sua marca.

É preciso dizer: a suposta crise financeira na Carris é ocasionada por ineficiência de gestões que trataram uma empresa pública como se ela fosse privada. Quando há essa confusão, gestores e cargos de livre nomeação dela se apropria da empresa como se fosse sua e o descontrole pode acabar em situações fraudulentas como as que ocorreram recentemente. Embora pública, sua administração é privatizada e serve a um pequeno grupo de interesse. Sem a participação dos trabalhadores, sem transparência e sem controle social.

Essa gestão privatizada foi quem também levou a Carris a abrir mão da operação de linhas de ônibus lucrativas e a assumir outras deficitárias. Explicando melhor: o que dava lucro era repassado para empresários e o que gerava prejuízo era assumido pela Carris. Privatizada também é ainda hoje a gestão da bilhetagem eletrônica, a qual poderia ajudar financeiramente a empresa pública se esta fizesse sua gestão. Lucros de operações financeiras desse sistema estão nas mãos da associação empresarial de concessionárias do transporte. Portanto, podemos dizer que qualquer suposto déficit na Carris está relacionado com a gestão de interesses privados numa empresa pública.

Temos certeza de que o melhor caminho não é o da privatização ou extinção de uma instituição que com 146 anos de serviços à cidade. Aliás, isso beneficiaria somente concessionárias de ônibus cuja qualidade é questionável. Seria mais justo que os R$ 2,3 milhões que serão pagos para uma consultoria privada, fossem investidos no fortalecimento e qualificação da Carris como empresa pública de excelência e reguladora dos serviços concessionados. A população agradeceria. No entanto, mais uma vez, nos parece que a atual gestão municipal prefere governar somente para empresários e deixar os interesses da população em segundo plano.

(*) Vereador, líder da Bancada do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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