Opinião
|
24 de maio de 2018
|
15:33

Sobre a greve dos caminhoneiros (por André Rosa)

Por
Sul 21
[email protected]
Sobre a greve dos caminhoneiros (por André Rosa)
Sobre a greve dos caminhoneiros (por André Rosa)
Santana do Livramento: Greve dos Caminhoneiros na fronteira com Brasil/Uruguai. (Foto Marcelo Pinto/A Plateia/FotosPúblicas)

André Rosa (*)

Sempre que há uma greve de caminhoneiros, fico meio receoso. Geralmente, as mesmas não são fruto de organização popular e sim um movimento paredista articulado por patrões e setores da elite. Ao longo da história sempre foi assim. No Brasil, no Chile de Allende, na Argentina e nas demais nações latino-americanas. Basta lembrar que tais movimentos sempre foram utilizados para derrubar governos e jogar o poder central dos países mais à direita (mesmo que em certos casos eles já estejam à direita).

Minha opinião é que o atual processo não é diferente. Se alguém acredita que esse movimento é por arrependimento ao anterior, onde os mesmos atores ajudaram a consolidar o golpe no Brasil. Se alguém acredita que é somente pelo alto valor dos combustíveis, pode estar redondamente equivocado.

Assim como os movimentos anteriores dos caminhoneiros, este também é articulado pelas tais forças ocultas que sempre mantiveram quase intactos seus interesses. Quando ameaçados, por trás de movimentos como esse, desestabilizaram nações e promoveram golpes. Basta observar nesse processo que mesmo antes do final do primeiro dia de movimento, já havia falta de combustíveis, setores do agronegócio alertavam sobre desabastecimento, montadoras automotivas paravam sua produção. Tudo como se as grandes distribuidoras e os grandes supermercados não mantivessem os estoques necessários para manutenção do abastecimento por um certo período. Portanto, junto com a greve, há também a proposital retirada de produtos do mercado consumidor com objetivo de promoção de um caos calculado. Por sua vez, para alimentar ainda mais a sensação de medo da população sobre desabastecimento, a Rede Globo exerce seu papel de porta-voz da elite em reportagens calculadas e nitidamente espetaculosas. Dessa forma, gera o desespero e uma desnecessária demanda que acaba por desabastecer, em pouco tempo, pequenos e médios comerciantes.

Pergunto: a quem interessa o caos e o medo? Se observarmos o passado no Brasil, Argentina, Chile e demais nações latino-americanas, veremos que o objetivo sempre foi o mesmo. Desestabilizar países, derrubar governos e promover a manutenção dos interesses da elite no poder real.

Não pensem com isso que faço a defesa da manutenção do atual governo golpista ou deixo de reconhecer que, na base do movimento, possam haver trabalhadores com certo grau de consciência. Não se trata disso. Porém, quando observamos um deles afirmar que a greve é “para acabar com os comunistas que estão no governo”, percebe-se claramente o grau de manipulação da elite sobre esses.

O que há por trás da greve, como afirmei anteriormente, é a geração do clima de caos, medo e desestabilização num período pré-eleitoral onde Lula ainda pode ser candidato. Cabe lembrar que a elite ainda não encontrou uma candidatura confiável e com capilaridade para vencer o ex-presidente e manter no poder central um presidente decorativo comprometido com seus podres interesses. Nesse caso, todo esse processo em curso pode levar o país ao cancelamento da eleição presidencial num grande acordo (com STF, com tudo) em nome de sua “estabilização”.

É disso que se trata. Por isso não é possível para alguém de esquerda defender o movimento paredista que se realiza através da articulação da elite.

(*) Secretário de Comunicação do PT de Porto Alegre

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora