Opinião
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25 de maio de 2018
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16:45

Democracia é a única saída para a crise (por Maria do Rosário)

Por
Sul 21
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Democracia é a única saída para a crise (por Maria do Rosário)
Democracia é a única saída para a crise (por Maria do Rosário)
“É urgente que o País saia da situação em que se encontra, o que deve se dar sob os marcos da democracia”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Maria do Rosário (*)

A crise no Brasil pesa cada vez mais na vida dos mais pobres. Em dois anos, as conquistas de emprego, renda e direitos sociais foram destruídas e milhões de pessoas foram jogadas de volta à pobreza extrema, que já cresceu 11% desde o final de 2016.

Parece que o poço não tem fundo quando o país vê, por exemplo, o anúncio de aumento da mortalidade infantil. Os neoliberais do ajuste fiscal consideram o humor do mercado, não as vidas humanas, tratadas como descartáveis. Não tem como disfarçar. É a precariedade do sistema de saúde com financiamento garroteado e os cortes na área social, em programas como o Bolsa Família, que elevam o número de mortes evitáveis.

Enquanto as dores são sentidas nesse Brasil estropiado, as manifestações de indignação na mídia conservadora, no Congresso Nacional e no Judiciário são protocolares. Os parlamentares que participaram da sessão do golpe contra Dilma, proferindo votos rasos de argumentos legais e morais, seguem “impávidos como a própria natureza”, como se não fossem tão responsáveis pelo caos do País quanto o governo Temer ao qual deram posse.

Mas agora a crise rompeu a bolha. Destruiu a casa dos pobres, dos sem teto, de quem tem fome, e tomou o país inteiro nas filas de carros tentando abastecer e nas prateleiras vazias de mantimentos. Claro que os que não têm nada continuarão a pagar com a vida.  Mas os setores médios assalariados gradualmente vão perdendo tudo.

O modelo econômico dependente precisa alimentar os “parentes” e os financiadores do golpe. Não se contenta em espoliar exclusivamente os mais pobres. Atua para reconcentrar a renda e garantir lucros do topo da cadeia econômica, principalmente do rentismo. Poucos eventos possuem efeito tão abrangente quanto o desabastecimento de combustíveis e a paralisação do transporte de cargas. Além da instabilidade geral, tudo fica mais caro e impagável para a classe média que já se deu conta do que está acontecendo. Seu salário não vale nada, seu padrão de vida dançou.

Há uma sensação de que não há governo. A verdade é que não há mesmo. Os que deixaram a crise chegar ao ponto em que chegou demonstram incapacidade para revertê-la. Sem ligar nem mesmo para os prejuízos eleitorais e políticos, apostam na baixa confiança geral no sistema e contam com a prisão política de Lula. Com o ex-presidente preso, que risco de desgaste tem as elites econômicas? Estão confiantes de que continuarão ganhando se seguirem o script do golpe com o Judiciário.

Depois que tiraram Dilma, os aproveitadores destruíram as bases de um projeto de desenvolvimento nacional, eleito quatro vezes pela população brasileira. O que estamos vendo na gasolina sendo cobrada até mesmo a R$9,99 é o resultado da destruição da Petrobras. Seus postos de direção não ficaram livres de corruptos, como falsamente apregoam paneleiros e lava-jateiros. Os discursos contra a corrupção servem como biombo para destruir o patrimônio público e entregar as reservas do pré-sal à luz do dia. O impacto sobre o Brasil é criminoso: milhões de empregos já desapareceram, o conteúdo nacional científico e tecnológico sumiu da lei e dos contratos, a expertise da Petrobras está sendo entregue às concorrentes privadas.

Pedro Parente, atual presidente da maior estatal de petróleo e gás da América Latina, é um vendilhão. O protagonista do apagão da era FHC foi chamado a dirigir a empresa para liquidá-la, colocando no conselho de administração os representantes das petrolíferas. A lógica que adotaram foi ampliar a exportação de petróleo bruto e a recompra do refinado, além de prever a privatização de quatro refinarias. Não poderia dar certo para a população e trabalhadores brasileiros que pagam o preço, mas deu muito certo para os lucros das grandes comandantes do petróleo mundial.

Enquanto a crise estava nas instituições políticas, no Judiciário, na esterilidade da macroeconomia, era uma realidade. A situação muda quando chega ao desabastecimento de combustíveis e, consequentemente, ao caos no transporte, à falta de alimentos, à inviabilidade dos serviços básicos. Se os dirigentes do governo são incapazes de soluções, que renunciem imediatamente a seus cargos, evitando o agravamento da crise.

É urgente que o País saia da situação em que se encontra, o que deve se dar sob os marcos da democracia, afastando enfaticamente qualquer ameaça autoritária. Democracia, essa, na qual o Brasil vinha trilhando um outro caminho de desenvolvimento econômico e social, mostrando ao mundo que era possível crescer com inclusão e fortalecimento das instituições. É essa perspectiva democrática, inclusiva e soberana, com os trabalhadores no centro das políticas, afirmada pelo povo nas últimas quatro eleições presidenciais, que precisa ser respeitada pelos governantes de ocasião e servir como luz para o Brasil sair imediatamente do buraco em que se encontra.

(*) Deputada federal (PT-RS)


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