Opinião
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9 de maio de 2018
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12:50

A história da Vila Resistência, em Santa Maria (por Ocupação Vila Resistência)

Por
Sul 21
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A história da Vila Resistência, em Santa Maria (por Ocupação Vila Resistência)
A história da Vila Resistência, em Santa Maria (por Ocupação Vila Resistência)
A Ocupação iniciou em 2016, em uma área da Prefeitura de Santa Maria. (Foto: Facebook/Ocupação Vila Resistência)

Ocupação Vila Resistência (*)

Desde outubro de 2016, 40 famílias ocupam uma área da prefeitura de Santa Maria exigindo uma moradia e vida digna. Neste lugar habitam mulheres, homens, gestantes, bebês, crianças em idade escolar, idosos e pessoas com necessidades especiais, em uma área da prefeitura que estava a mais de 20 anos sem definição de funcionalidade social e sendo parcelada e negociada por grileiros da região.

As famílias da ocupação são oriundas de um processo de negação de direitos que vem de décadas, a maioria delas passaram por um processo de despejo ocorrido naquele mesmo mês de outubro no Bairro Parque Pinheiro, onde mais de 650 famílias foram despejadas a mando da “justiça” e tiveram suas casas destruídas de forma desumana, deixando 650 famílias sem respostas e em situação de extremo descaso.

Sem ter lugar para ir e sem condições mínimas de pagar um aluguel, uma semana depois, as famílias se organizaram autonomamente e pela ação direta ocuparam uma nova área que hoje residem, nomeando-a Vila Resistência.

A organização da Vila Resistência

Hoje a Ocupação se mantem na Resistência há um ano e seis meses e aqui a luta é todo dia. Com organização e autogestão, as famílias defendem e melhoram seu território. Defendem estando presentes, fazendo reuniões, debates, propondo atividades culturais, aulas de alfabetização e também melhoram o local, antes abandonado, construindo espaços de lazer como o campo de futebol, pracinha, horta e cozinha comunitária abertas à população do bairro. Constroem coletivamente ‘com a força dos braços’ as próprias ruas e pontilhões para poderem transitar melhor, receber parentes, amigos, vizinhos, familiares e apoiadores.

Existe também um projeto de construção de uma sede comunitária, que terá espaço para cozinha coletiva, sala de aula de reforço para nossos filhos, oficinas de artes, teatro e musica, lugar de palestras sobre saúde preventiva, local de reuniões, celebrações e confraternizações do povo da Vila. A Resistência tem se tornado um lugar hospitaleiro para toda a população pobre da Zona Oeste de Santa Maria.

Ameaça de despejo

A prefeitura nunca procurou as famílias para propor soluções para a demanda dos sem-teto, sempre burocratizando e judicializando negociações com o povo que exige apenas o que lhe é direito, uma moradia e vida digna. Na última semana os moradores da Ocupação Vila Resistência, receberam uma ordem de despejo, em nome da prefeitura, com prazo de 15 dias para desocupação da área, ameaçando desde já que, se não sairmos, será utilizada força policial para realizar o despejo.

Frente à ameaça de reintegração de posse, no dia 3 de maio as(os) moradores se organizaram e, a partir da ação direta, ocuparam a prefeitura da cidade, onde conseguiram arrancar uma negociação a contragosto da administração municipal do PSDB, que foi a realização de uma audiência conciliatória.

Foi uma ação histórica pra nossa comunidade e para todos os que lutam nessa cidade.  Havia pelo menos duas décadas que ninguém ousava colocar o poder local contra a parede de sua própria casa.
Apesar da mídia tentar diminuir nossa ação e a prefeitura colaborar com ela indo ao ar falando inúmeras mentiras a nossa respeito, seguimos firmes na luta e resistência em defesa da nossa comunidade e aguardando que o acordo feito seja cumprido e a audiência ocorra o quanto antes.

Assim reafirmamos que as 40 famílias da Ocupação não tem pra onde ir e não possuem a mínima condição de pagar um aluguel, sendo desejo majoritário das famílias continuarem moradoras desta comunidade que já constroem diariamente. Uma casa, um lar para viver é essencial para nortear a busca de mais qualidade de vida, emprego, estudo, enfim, o que deveria ser direito básico de todo cidadão

Os moradores acreditam que destinar a área para a regulamentação do que já foi construído seria o mais ético e justo a ser feito, pois o local ainda não possui projeto definido e a pauta de moradia é emergencial. Caso a concessão de uso para moradia não seja efetivada a partir da audiência conciliatória, exigimos um novo local para as famílias da vila. Assim, os(As) moradores(as) da Vila Resistência, só sairão da área hoje habitada com a garantia de um imóvel ou terreno próprio e regulamentado em suas mãos.

Uma casa, um lar para viver é essencial para nortear a busca de mais qualidade de vida, emprego, estudo, é o mínimo de dignidade.

Não arredaremos o pé da Vila Resistência enquanto a demanda por uma moradia digna não for solucionada. Não temos para onde ir.

MORADIA É DIREITO!

DESPEJO é GENOCIDIO DO POVO POBRE!

(*) Secretaria de Relações da Ocupação Vila Resistência

 


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